quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

O Céu e o Inferno


"O Senhor (só se dá) àqueles que o aguardam no caminho da verdade e da justiça". -( Eclesiástico, 34: 22 )-




Amados irmãos, bom dia!
O Senhor quer a todos acolher, mas, ele espera por nossa permissão, pelo nosso livre arbítrio.




                                 O DOUTOR VIGNAL

Antigo membro da Sociedade de Paris, falecido a 27 de março de 1865. — Na véspera do enterro, um sonâmbulo lúcido e bom vidente, instado a transportar-se para junto dele e narrar o que visse, discorreu: 

“Vejo um cadáver, no qual se opera um trabalho extraordinário; dir-se-ia uma quantidade de massa que se agita e alguma coisa que parece fazer esforços para se lhe desprender, encontrando, contudo, dificuldade em vencer a resistência. Não distingo forma de Espírito bem caracterizada.”

Fez-se a evocação na Sociedade de Paris, a 31 de março. 

— P. Caro Sr. Vignal, todos os vossos velhos colegas da Sociedade de Paris guardam de vós as mais vivas saudades, e eu, particularmente, das boas relações, aliás nunca interrompidas. Evocando-vos, tivemos por fim primeiramente testemunhar a nossa simpatia, considerando-nos felizes se puderdes e quiserdes palestrar conosco. 
— R. Prezado amigo e digno mestre: tão bondosa lembrança e testemunhos de simpatia me são muito lisonjeiros. Graças à vossa evocação e assistência, levadas pelas preces, pude vir hoje assistir desembaraçado a esta reunião de bons amigos e irmãos espíritas. Como justamente disse o jovem secretário, eu estava impaciente por me comunicar; desde o anoitecer de hoje, empreguei todas as forças espirituais para dominar esse desejo; como os graves assuntos, tratados na vossa conversação, me interessassem vivamente, tornaram a minha expectativa menos penosa. Perdoai-me caro amigo, mas a minha gratidão exigia me manifestasse.

— P. Dizei-nos primeiramente como vos encontrais no mundo espiritual, descrevendo o trabalho da separação, as sensações desse momento, bem como o tempo necessário ao reconhecimento do vosso estado.
— R. Sou tão feliz quanto possível, vendo plenamente confirmados os secretos pensamentos concebíveis em relação a uma doutrina confortante e consoladora. Sou feliz, e tanto mais por ver agora, sem obstáculo algum, desenvolver-se diante de mim o futuro da ciência e da filosofia espíritas. Mas deixemos por hoje estas digressões inoportunas; de novo voltarei a entreter-vos sobre este assunto, máxime sabendo que a minha presença vos dará tanto prazer quanto o que experimento em visitar-vos.
A separação foi rápida; mais do que podia esperar pelo meu apoucado merecimento. Fui eficazmente auxiliado pelo vosso concurso e o sonâmbulo vos deu uma idéia bastante clara do fenômeno da separação, para que eu nele insista. Era uma espécie de oscilação intermitente, um como arrastamento em sentidos opostos. Triunfou o Espírito aqui presente. Só deixei completamente o corpo quando ele baixou à terra; e aqui vim ter convosco.

— P. Que dizeis dos vossos funerais? Julguei-me no dever de a eles comparecer. Nesse momento éreis assaz livre para apreciá-los; e as preces por mim feitas a vosso favor (discretamente, já se vê) tinham chegado até vós? 
— R. Sim; já o disse; a vossa assistência auxiliou-me grandemente, e voltei a vós, abandonando por completo a velha carcaça. Demais, sabeis, pouco me importam as coisas materiais. Só pensava na alma e em Deus. 

— P. Recordai-vos que a vosso pedido, há 5 anos, em fevereiro de 1860, fizemos um estudo a vosso respeito.1 Nessa ocasião — quando estáveis ainda entre nós — o vosso Espírito desprendeu-se para vir falar conosco. Podereis descrever-nos da melhor forma a diferença entre o vosso atual desprendimento e aquele de então?
— R. Sim, lembro-me. E que grande diferença entre um e outro! Naquele estado, a matéria me oprimia ainda na sua trama inflexível, isto é, queria mas não podia desembaraçar-me radicalmente. Hoje sou livre; um vasto campo desconhecido se me depara, e eu espero com o vosso auxílio e o dos bons Espíritos, aos quais me recomendo, progredir e compenetrar-me o mais rapidamente possível dos sentimentos que é mister possuir, e dos atos que me cumpre empreender para suportar as provações e merecer a recompensa. Que majestade! que grandeza! É quase um sentimento de temor que predomina, quando, fracos quais somos, queremos fixar as paragens luminosas. 

— P. Com prazer continuaremos a entreter-nos no assunto, sempre que o quiserdes. 
— R. Respondi sucintamente e desordenadamente às diversas perguntas. — Não exijais mais, agora, do vosso fiel discípulo, porquanto não estou ainda inteiramente livre. Continuar a conversar seria o meu prazer, mas o meu guia modera-me o entusiasmo, e já pude apreciar-lhe bastante a bondade e a justiça para submeter-me inteiramente à sua decisão, por maior que seja o meu pesar em ser interrompido. Consolo-me, pensando que poderei vir assistir algumas vezes, incógnito, às vossas reuniões.
Falar-vos-ei sempre que possa, pois estimo-vos e desejo prová-lo. Outros Espíritos, porém, mais adiantados, reclamam prioridade, devendo eu curvar-me àqueles que me permitiram dar livre curso à torrente das idéias acumuladas. Deixo-vos, amigos, e devo agradecer duplamente não só a vós espíritas que me evocastes, como também a este Espírito que houve por bem ceder-me o seu lugar, Espírito que na Terra tinha o ilustre nome de Pascal. Daquele que foi e será sempre o mais devotado dos vossos adeptos. 

                                                                                             Dr. Vignal.




 1Ver a Revue Spirite de março de 1860.




Que a graça e a paz sejam conosco!

Nenhum comentário:

Postar um comentário