terça-feira, 31 de dezembro de 2019

O Céu e o Inferno


"Permanece firme em tua aliança com Deus; que isso seja sempre o assunto de tuas conversas. E envelhece praticando os mandamentos". -( Eclesiástico, 11: 21 )-




Amados irmãos, bom dia!
Ao findar mais um ano, aguardando o alvorecer de um novo tempo, renovemos nosso amor e fé ao Senhor, para que nossa vida seja plena e que sejamos expressões vivas do seu amor.




                                         JOBARD

Diretor do Museu da Indústria de Bruxelas, nascido em Baissey (Alto Marne) e falecido em Bruxelas, de apoplexia fulminante, a 27 de outubro de 1861, com sessenta e nove anos de idade.

O Sr. Jobard era presidente honorário da Sociedade Espírita de Paris e tratava-se de o evocar, na sessão de 8 de novembro, quando, antecipando-se ao nosso desejo, espontaneamente deu a seguinte comunicação:
“Aqui estou eu a quem íeis evocar, manifestando-me por este médium que até agora tenho solicitado baldamente. Antes de tudo desejo descrever as minhas impressões por ocasião do meu desprendimento: senti um abalo indizível; lembrei-me instantaneamente do meu nascimento, da minha juventude, da minha velhice; toda a minha vida se me retratou nitidamente na memória. Eu sentia apenas um como piedoso desejo de me achar enfim nas regiões reveladas pela nossa crença. Depois, o tumulto serenou: eu estava livre e o meu corpo jazia inerte. Ah! meus caros amigos, que prazer se experimenta sem o peso do corpo! quanta alegria no abranger o Espaço! Não julgueis, no entanto, que me tenha tornado repentinamente um eleito do Senhor; não, eu estou entre os Espíritos que, tendo aprendido um pouco, muito devem aprender ainda. Não tardou muito que de vós me lembrasse, irmãos de exílio, e asseguro-vos toda a minha simpatia, todos os meus votos vos cercam."
Quereis saber que Espíritos me receberam? quais as minhas impressões? pois bem, amigos, foram todos os que evocamos, todos os irmãos que compartilharam dos nossos trabalhos. Eu vi o esplendor, mas não posso descrevê-lo. Apliquei-me a discernir o que era verdadeiro nas comunicações, pronto a contraditar tudo que fosse errôneo, pronto a ser o cavaleiro andante da verdade neste mundo, tal como o fui no vosso. 

                                                                                            Jobard.




Que a graça e a paz sejam conosco!

segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

O Céu e o Inferno


"O início do orgulho num homem é renegar a Deus". -( Eclesiástico, 10: 14 )-




Amados irmãos, bom dia!
Seremos grandes à medida em que nos reconhecemos aprendizes. Nossa jornada será maior quanto mais acharmos que estamos no fim.




                                  A MORTE DO JUSTO

Em seguida à primeira evocação do Sr. Sanson, feita na Sociedade de Paris, um Espírito deu sob esta epígrafe a comunicação seguinte: 

“Foi a de um justo a morte desse homem de quem neste momento vos ocupais, isto é, esperançosa e calma. Como o dia sucede naturalmente à aurora, a vida espiritual se lhe sucedeu à vida terrestre, sem rompimento nem abalo. O seu último suspiro foi tanto como um hino de reconhecimento e amor. E quão poucos os que atravessam assim a rude transição! Quão poucos os que após a confusão e desespero da vida concebem o ritmo harmonioso das esferas! Como o homem de saúde perfeita, de chofre mutilado, sofre nos membros separados ao corpo, assim, a alma do céptico, separada do corpo, se despedaça e, lancinante, se precipita no Espaço, inconsciente de si mesma. “Orai por essas almas perturbadas; orai por todos os sofredores, que a caridade não se restringe à Humanidade visível, mas deve socorrer e consolar os habitantes do Espaço. Disso tivestes a prova evidente na súbita conversão desse Espírito1 tocado pelas preces espíritas sobre o túmulo do homem de bem que vindes interrogar e que deseja fazer-vos progredir no bom caminho. O amor não tem limites; enche o Espaço e dá e recebe mutuamente as suas divinas consolações. Também o mar se desenrola numa perspectiva infinita, cujo espetáculo deslumbra o espírito, parecendo confundir-se no seu limite com os céus. São duas grandezas que se extremam. Pois bem; assim é o amor; mais profundo que as ondas, mais infinito que o Espaço, a todos vós, encarnados e desencarnados, deve unir na santa comunhão da caridade, fusão sublime do finito e do eterno. 

                                                                            Georges.


 1 Alusão ao Espírito Bernard, que se manifestou espontaneamente no dia das exéquias do Sr. Sanson. (Ver a Revue de maio de 1862,pág. 132.)




Que a graça e a paz sejam conosco!

domingo, 29 de dezembro de 2019

O Céu e o Inferno


"Que o pensamento de Deus ocupe o teu espírito e os preceitos do Altíssimo sejam a tua conversa". -( Eclesiástico, 9: 23 )-




Amados irmãos, bom dia!
Busquemos a essência da vida nos caminhos do Senhor. Só nele encontramos os verdadeiros motivos que nos alegram e nos tornam melhores.



        
                       (Sociedade Espírita de Paris, 25 de abril de 1862.) 

1. Evocação. — R. Estou perto de vós, meus amigos. 

2. Consideramo-nos felizes pela entrevista que tivemos no dia do vosso enterro, e, visto que o permitis, mais felizes seremos em completá-la para nossa instrução. — R. Estou pronto, e sinto-me feliz por pensardes em mim. 

3. A idéia falsa que fazemos do mundo invisível é, o mais das vezes, o que nos leva à descrença, e, assim, tudo que possa esclarecer-nos, a tal respeito, será para nós da mais alta importância. Não vos surpreendam, portanto, as perguntas que porventura vos fizermos. — R. Espero-as e não ficarei surpreendido.

4. Descrevestes luminosamente a transição para a outra vida; dissestes que, no momento de exalar o corpo o derradeiro alento, a vida se parte e a vista se extingue. E será esse momento seguido de qualquer sensação dolorosa? —R. Mas, decerto que sim, pois a vida não passa de uma série contínua de dores, das quais a morte é complemento. Daí uma ruptura violenta, como se o Espírito houvesse de fazer um esforço sobre-humano para escapar-se do seu invólucro, esforço que absorve todo o ser, fazendo-lhe perder o conhecimento do seu destino.


Este caso não é geral, pois a experiência prova que muitos Espíritos perdem a consciência antes de expirar, assim como nos que atingiram certo grau de desmaterialização o desprendimento se opera sem esforço.

5. Sabeis se há Espíritos para os quais o momento extremo seja mais penoso? Será ele mais doloroso ao materialista, por exemplo? — R. Isso é certo, porque o Espírito preparado tem já esquecido o sofrimento, ou, antes, habituou-se com ele e a calma com que encara a morte o impede de sofrer duplamente, prevendo o que por ela o aguarda. O sofrimento moral é mais forte e a sua ausência, por ocasião da morte, é por si só um grande alívio. O descrente assemelha-se ao condenado à pena última, cujo pensamento antevê o cutelo e o ignoto. Entre esta morte e a do ateu, há paridade. 

6. Haverá materialistas bastante endurecidos para julgarem nesse momento que vão ser arremessados ao nada? — R. Sim, eles acreditam em o nada até à última hora, mas, no momento da separação, o Espírito recua, a dúvida empolga-o e tortura-o; pergunta-se a si mesmo o que vai ser, quer algo apreender e nada pode. O desprendimento não pode completar-se sem esta impressão. 

Em outras circunstâncias, um Espírito fez-nos a seguinte descrição da morte do incrédulo: Experimentam nos últimos instantes as angustias desses pesadelos terríveis em que se vêem em escarpas de abismos prestes a tragá-los; querem fugir e não podem; procuram agarrar-se a qualquer coisa, mas não encontram apoio e sentem precipitar-se: querem clamar, gritar e nem sequer um som podem articular: — então, vemo-los contorcerem--se, crispar as mãos, dar gritos sufocados, outros tantos sintomas do pesadelo de que são vítimas. No pesadelo ordinário, do sonho, o despertar tira-vos a inquietação e aliviados sois pela compreensão de que sonháveis; o pesadelo da morte prolonga-se muita vez por longo tempo, por anos mesmo, e o que torna a sensação ainda mais penosa para o Espírito são as trevas em que se encontra imerso. 

7. Dissestes que por ocasião de expirar nada víeis, porém pressentíeis. Compreende-se que nada vísseis corporalmente, mas o que pressentíeis antes da extinção seria já a claridade do mundo dos Espíritos? — R. Foi o que eu disse precedentemente, o instante da morte dá clarividência ao Espírito; os olhos não vêem, porém o Espírito, que possui uma vista bem mais profunda, descobre instantaneamente um mundo desconhecido, e a verdade, brilhando de súbito, lhe dá momentaneamente imensa alegria ou funda mágoa, conforme o estado de consciência e a lembrança da vida passada.

Trata-se do instante que precede a morte, ou antes, daquele em que se perde a consciência — o que explica a palavra momentaneamente, pois as impressões agradáveis ou penosas, quaisquer que sejam, sobrevivem ao despertar.
  
8. Podeis dizer-nos o que vos impressionou, o que vistes no momento em que os vossos olhos se abriram à luz? Podeis descrever-nos, se é possível, o aspecto das coisas que se vos depararam? — R. Quando pude voltar a mim e ver o que tinha diante dos olhos, fiquei como que ofuscado, sem poder compreender, porquanto a lucidez não volta repentinamente. Deus, porém, que me deu uma prova exuberante da sua bondade, permitiu-me recuperasse as faculdades, e foi então que me vi cercado de numerosos, bons e fiéis amigos. Todos os Espíritos protetores que nos assistem, rodeavam-me sorrindo; uma alegria sem par irradiava-lhes do semblante e também eu, forte e animado, podia sem esforço percorrer os espaços. O que eu vi não tem nome na linguagem dos homens. Voltarei depois para falar-vos mais amplamente das minhas venturas, sem ultrapassar, já se vê, o limite traçado por Deus. Sabei que a felicidade, como vós outros a compreendeis, não passa de uma ficção. Vivei sabiamente, santamente, pela caridade e pelo amor, e tereis feito jus a impressões e delícias que o maior dos poetas não saberia descrever. 


Os contos de fadas estão cheios de coisas absurdas, mas quem sabe se não contêm, de alguma sorte e em parte, algo do que se passa no mundo dos Espíritos? A descrição do Sr. Sanson lembra como que um homem adormecido numa choupana, despertando em palácio esplêndido e rodeado de uma corte brilhante.

9. Debaixo de que aspecto se vos apresentaram os Espíritos? sob a forma humana? — R. Sim, meu caro amigo; os Espíritos nos ensinam, aí na Terra, que conservam no outro mundo a mesma forma que lhes serviu de envoltório, e é a verdade. Mas, que diferença entre a máquina informe, que penosamente aí se arrasta com seu cortejo de misérias, e a fluidez maravilhosa do corpo espiritual! A fealdade não mais existe, porque os traços perderam a dureza de expressão que forma o caráter distintivo da raça humana. Deus beatificou esses corpos graciosos que se movem com todas as elegâncias; a linguagem tem modulações intraduzíveis para vós e o olhar o alcance de uma estrela! Conjeturai sobre o que Deus pode produzir na sua Onipotência, Ele, o arquiteto dos arquitetos, e tereis feito uma fraca idéia da forma dos Espíritos. 

10. Quanto a vós, como vedes? Reconheceis em vós uma forma limitada, circunscrita, ainda que imponderável? Sentis em vós mesmo uma cabeça, tronco, pernas e braços? — R. O Espírito, conservando a sua forma humana idealizada, divinizada, pode, sem contradição, possuir todos os membros de que falais. Sinto perfeitamente as minhas mãos com os dedos, pois podemos, à vontade, aparecer-vos e apertar-vos as mãos. Estou junto dos meus amigos e aperto-lhes as mãos sem que disso se apercebam. Quanto à nossa fluidez e graças a ela, podemos estar em toda parte sem interceptar o espaço ou produzir quaisquer sensações, se assim o desejamos. Neste momento, entre as vossas mãos cruzadas tenho as minhas. Digo-vos, por exemplo, que vos amo; porém, o meu corpo não ocupa qualquer espaço, a luz atravessa-o e o que chamaríeis — milagre — se acaso vísseis, não passa para o Espírito de ação contínua de todos os instantes. A vista dos Espíritos não se pode comparar à humana,uma vez que também seu corpo não tem quaisquer semelhanças reais; para eles tudo se transforma na essência, como no conjunto. Repito-vos que o Espírito tem uma perspicácia divina que abrange tudo, podendo adivinhar até o pensamento alheio; também pode oportunamente tomar a forma mais própria para tornar-se conhecido. Na realidade, porém, o Espírito que tem terminado a provação prefere a forma que o conduziu para junto de Deus.

11. Os Espíritos não têm sexo; mas como há poucos dias éreis um homem, desejamos saber se no vosso novo estado tendes mais da natureza masculina ou da feminina? E o mesmo que se dá convosco poder-se-á aplicar ao Espírito de longo tempo desencarnado? — R. Não temos motivo para ser de natureza masculina ou feminina: — os Espíritos não se reproduzem. Deus criou-os como quis, e tendo segundo seus maravilhosos desígnios de dar-lhes a encarnação, sobre a Terra, subordinou-os aí às leis de reprodução das espécies, caracterizada pela junção dos sexos. Mas vós deveis senti-lo, sem mais explicação, que os Espíritos não podem ter sexo. 

Sempre disseram que os Espíritos não têm sexo, sendo este apenas necessário à reprodução dos corpos. De fato, não se reproduzindo, o sexo ser-lhes-ia inútil. A nossa pergunta não visava confirmar o fato, mas saber, visto que o Sr. Sanson desencarnara recentemente, as impressões que guardava do seu estado terreno. Os Espíritos puros compreendem perfeitamente a sua natureza, porém, entre os inferiores, não desmaterializados, muitos há que se acreditam encarnados sobre a Terra, com as mesmas paixões e desejos. Assim, pensam eles que são ainda os mesmos que foram, isto é, homem ou mulher, havendo quem por esta razão suponha ter realmente um sexo. As contradições a tal respeito são oriundas da graduação de adiantamento dos Espíritos que se manifestam, sendo o erro menos deles que de quem os interroga sem se dar ao trabalho de aprofundar as questões. 

12. Que tal se vos afigura a sessão? O seu aspecto é o mesmo de quando éreis vivo? As pessoas guardam para vós a mesma aparência? Será tudo tão claro e distinto como outrora? — R. Muito mais claro, porquanto posso ler o pensamento de todos vós, sentindo-me igualmente feliz pela benéfica impressão que me causa a boa vontade de todos os Espíritos congregados. Desejo que o mesmo critério se faça sentir não só em Paris, mas na França inteira, onde grupos há que se desligam, invejando-se reciprocamente, dominados por Espíritos turbulentos que se comprazem na discórdia, quando o Espiritismo deve incutir o esquecimento completo e absoluto do “eu”. 

13. Dissestes poder ler em nosso pensamento: — podeis explicar-nos como se opera essa transmissão? — R. Não é fácil. Para vos descrever, explicando-o, este prodígio extraordinário da nossa visão, preciso fora franquear-vos todo um arsenal de agentes novos, com o que, aliás, ficaríeis na mesma, por terdes as vossas faculdades limitadas pela matéria. Paciência... Tornai-vos bons e tudo conseguireis. Atualmente só podeis ter o que Deus vos concede, mas com a esperança de progredir continuamente; mais tarde sereis como nós. Procurai no entanto morrer em graça para muito saberdes. A curiosidade, estímulo do homem que pensa, conduzir-vos-á tranquilamente para a morte, reservando-vos a satisfação de todos os desejos passados, presentes e futuros. Enquanto esperais, direi para responder, ainda que mal, à vossa pergunta: o ar que respirais, impalpável como nós, estereotipa por assim dizer o vosso pensamento; o sopro que exalais é, mais ou menos, a página escrita dos vossos pensamentos lidos e comentados pelos Espíritos que constantemente se encontram convosco, mensageiros de uma telegrafia divina que tudo transmite e grava.




Que a graça e a paz sejam conosco!

sábado, 28 de dezembro de 2019

O Céu e o Inferno


"Estende a mão para o pobre, a fim de que sejam perfeitos teu sacrifício e tua oferenda". -( Eclesiástico, 7: 36 )-




Amados irmãos, bom dia!
A caridade é a atitude mais digna entre os seres humanos. Tanto que não há fé sem ela.




                         (Câmara mortuária, 23 de abril de 1862.)

1. Evocação. — Atendo ao vosso chamado para cumprir a minha promessa. 

2. Meu caro Sr. Sanson, cumprindo um dever, com satisfação vos evocamos o mais cedo possível depois da vossa morte, como era do vosso desejo. — R. É uma graça especial que Deus me concede para que possa manifestar-me; agradeço a vossa boa vontade, porém, sou tão fraco que tremo.

3. Fostes tão sofredor que podemos, penso eu, perguntar como vos achais agora... Sentis ainda as vossas dores? Comparando a situação de hoje com a de dois dias atrás, que sensações experimentais? — R. A minha situação é bem-ditosa; acho-me regenerado, renovado, como se diz entre vós, nada mais sentindo das antigas dores. A passagem da vida terrena para a dos Espíritos deixou-me de começo num estado incompreensível, porque ficamos algumas vezes muitos dias privados de lucidez. Eu havia feito no entanto um pedido a Deus para permitir-me falar aos que estimo, e Deus ouviu-me. 

4. Ao fim de que tempo recobrastes a lucidez das idéias? — R. Ao fim de oito horas. Deus, repito, deu-me uma prova de sua bondade, maior que o meu merecimento, e eu não sei como agradecer-lhe.

5. Estais bem certo de não pertencerdes mais ao nosso mundo? — No caso afirmativo, como comprová-lo? — R. Oh! certamente, eu não sou mais desse mundo, porém, estarei sempre ao vosso lado para vos proteger e sustentar, a fim de pregardes a caridade e a abnegação, que foram os guias da minha vida. Depois, ensinarei a verdadeira fé, a fé espírita, que deve elevar a crença do bom e do justo; estou forte, robusto, em uma palavra — transformado. Em mim não reconhecereis mais o velho enfermo que tudo devia esquecer, fugindo de todo prazer e alegria. Eu sou Espírito e a minha pátria é o Espaço, o meu futuro é Deus, que reina na imensidade. Desejara poder falar a meus filhos, ensinar-lhes aquilo mesmo que sempre desdenharam acreditar. 

6. Que efeito vos causa o vosso corpo aqui ao lado? — R. Meu corpo! pobre, mísero despojo... volve ao pó, enquanto eu guardo a lembrança de todos que me estimaram. Vejo essa pobre carne decomposta, morada que foi do meu Espírito, provação de tantos anos! Obrigado, mísero corpo, pois que purificaste o meu Espírito! O meu sofrimento, dez vezes bendito, deu-me um lugar bem compensador, por isso que tão depressa posso comunicar-me convosco... 

7. Conservastes as idéias até ao último instante? — R. Sim. O meu Espírito conservou as suas faculdades, e quando eu já não mais via, pressentia. Toda a minha existência se desdobrou na memória e o meu último pensamento, a última prece, foi para que pudesse comunicar-me convosco, como o faço agora; em seguida pedi a Deus que vos protegesse, para que o sonho da minha vida se completasse. 

8. Tivestes consciência do momento em que o corpo exalou o derradeiro suspiro? que se passou convosco nesse momento? que sensação experimentastes? — R. Parte-se a vida e a vista, ou antes, a vista do Espírito se extingue; encontra-se o vácuo, o ignoto, e arrastada por não sei que poder, encontra-se a gente num mundo de alegria e grandeza! Eu não sentia, nada compreendia e, no entanto, uma felicidade inefável me extasiava de gozo, livre do peso das dores. 

9. Tendes ciência... do que pretendo ler sobre a vossa campa?

Apenas pronunciadas as primeiras palavras sobre o assunto, o Espírito respondeu sem que eu terminasse. Também respondeu, sem interrogação alguma, a certa controvérsia suscitada entre os assistentes, sobre se seria oportuno ler esta comunicação no cemitério, achando-se presentes pessoas que poderiam não compartilhar das nossas opiniões.

— R. Ah! sei, meu amigo, e sei, por que tanto vos via ontem como hoje... que grande é a minha alegria! Obrigado! Obrigado! Falai... falai para que me compreendam e vos estimem; nada tendes que temer, pois que se respeita a morte... falai pois, para que os incrédulos tenham fé. Adeus; falai; coragem, confiança, e oxalá meus filhos possam converter-se a uma crença sacrossanta. J. Sanson. 

Durante a cerimônia do cemitério, ele ditou as palavras seguintes: “Não vos atemorize a morte, meus amigos: ela é um estágio da vida, se bem souberdes viver; é uma felicidade, se bem a merecerdes e melhor cumprirdes as vossas provações. Repito: coragem e boa vontade! Não deis mais que medíocre valor aos bens terrenos, e sereis recompensados. Não se pode muito gozar, sem tirar de outrem o bem-estar e sem fazer moralmente um grande, um imenso mal. A terra me seja leve.”




Que a graça e a paz sejam conosco!

sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

O Céu e o Inferno


"Não pratiques o mal e o mal não te iludirá". -( Eclesiástico, 7: 1 )-




Amados irmãos, bom dia!
Sabemos que colheremos o que plantarmos, portanto, sejam boas nossas sementes.




                                        SANSON 

Este antigo membro da Sociedade Espírita de Paris faleceu a 21 de abril de 1862, depois de um ano de atrozes padecimentos. Prevendo a morte, dirigira ao presidente da Sociedade uma carta com o tópico seguinte: “Podendo dar-se o caso de ser surpreendido pela separação entre minha alma e meu corpo, ocorre-me reiterar-vos um pedido que vos fiz há cerca de um ano, qual o de evocar o meu Espírito o mais breve possível, a fim de, como membro assaz inútil da nossa Sociedade, poder prestar-lhe para alguma coisa depois de morto, esclarecendo fase por fase as circunstâncias decorrentes do que o vulgo chama morte, e que, para nós outros — os espíritas — não passa de uma transformação, segundo os desígnios insondáveis de Deus, mas sempre útil ao fim que Ele se propõe. Além deste
pedido — que é uma autorização para me honrardes com essa autópsia espiritual, talvez improfícua em razão do meu quase nulo adiantamento, e que a vossa sabedoria não consentirá ir além de um certo número de ensaios — ouso pedir pessoalmente a vós como a todos os colegas que supliquem ao Todo-Poderoso a assistência de bons Espíritos, e a São Luís, nosso presidente espiritual, em particular, que me guie na escolha e sobre a época de uma nova encarnação, idéia que de há muito me preocupa. “Arreceio-me de confiar demais nas minhas forças espirituais, rogando a Deus, muito cedo e presunçosamente, um estado corporal no qual eu não possa justificar a divina bondade, de modo a prejudicar o meu próprio adiantamento e prolongar a estação na Terra ou em outra qualquer parte, desde que naufrague.”
Para satisfazer-lhe o desejo, evocando-o o mais breve possível, dirigimo-nos com alguns membros da Sociedade à câmara mortuária, onde, em presença do seu corpo, se passou o seguinte colóquio, precedendo uma hora o respectivo enterro. Era duplo o nosso fim: íamos cumprir uma vontade última e íamos observar, ainda uma vez, a situação de uma alma em momento tão imediato à morte, tratando-se, ao demais, de um homem eminentemente esclarecido, inteligente e profundamente convicto das verdades espíritas. Íamos enfim colher nas suas primeiras impressões a prova de quanto, sobre o estado do Espírito, pode influir a compenetração dessas verdades. E não nos iludimos na expectativa, porquanto o Sr. Sanson descreveu, plenamente lúcido, o instante da transição, vendo-se morrer e renascer, o que é uma circunstância pouco comum e só devida à elevação do seu Espírito.




Que a graça e a paz sejam conosco!