"Estende a mão para o pobre, a fim de que sejam perfeitos teu sacrifício e tua oferenda". -( Eclesiástico, 7: 36 )-
Amados irmãos, bom dia!
A caridade é a atitude mais digna entre os seres humanos. Tanto que não há fé sem ela.
(Câmara mortuária, 23 de abril de 1862.)
1. Evocação. — Atendo ao vosso chamado para cumprir a minha promessa.
2. Meu caro Sr. Sanson, cumprindo um dever, com satisfação vos evocamos o mais cedo possível depois da vossa morte, como era do vosso desejo. — R. É uma graça especial que Deus me concede para que possa manifestar-me; agradeço a vossa boa vontade, porém, sou tão fraco que tremo.
3. Fostes tão sofredor que podemos, penso eu, perguntar como vos achais agora... Sentis ainda as vossas dores? Comparando a situação de hoje com a de dois dias atrás, que sensações experimentais? — R. A minha situação é bem-ditosa; acho-me regenerado, renovado, como se diz entre vós, nada mais sentindo das antigas dores. A passagem da vida terrena para a dos Espíritos deixou-me de começo num estado incompreensível, porque ficamos algumas vezes muitos dias privados de lucidez. Eu havia feito no entanto um pedido a Deus para permitir-me falar aos que estimo, e Deus ouviu-me.
4. Ao fim de que tempo recobrastes a lucidez das idéias? — R. Ao fim de oito horas. Deus, repito, deu-me uma prova de sua bondade, maior que o meu merecimento, e eu não sei como agradecer-lhe.
5. Estais bem certo de não pertencerdes mais ao nosso mundo? — No caso afirmativo, como comprová-lo? — R. Oh! certamente, eu não sou mais desse mundo, porém, estarei sempre ao vosso lado para vos proteger e sustentar, a fim de pregardes a caridade e a abnegação, que foram os guias da minha vida. Depois, ensinarei a verdadeira fé, a fé espírita, que deve elevar a crença do bom e do justo; estou forte, robusto, em uma palavra — transformado. Em mim não reconhecereis mais o velho enfermo que tudo devia esquecer, fugindo de todo prazer e alegria. Eu sou Espírito e a minha pátria é o Espaço, o meu futuro é Deus, que reina na imensidade. Desejara poder falar a meus filhos, ensinar-lhes aquilo mesmo que sempre desdenharam acreditar.
6. Que efeito vos causa o vosso corpo aqui ao lado? — R. Meu corpo! pobre, mísero despojo... volve ao pó, enquanto eu guardo a lembrança de todos que me estimaram. Vejo essa pobre carne decomposta, morada que foi do meu Espírito, provação de tantos anos! Obrigado, mísero corpo, pois que purificaste o meu Espírito! O meu sofrimento, dez vezes bendito, deu-me um lugar bem compensador, por isso que tão depressa posso comunicar-me convosco...
7. Conservastes as idéias até ao último instante? — R. Sim. O meu Espírito conservou as suas faculdades, e quando eu já não mais via, pressentia. Toda a minha existência se desdobrou na memória e o meu último pensamento, a última prece, foi para que pudesse comunicar-me convosco, como o faço agora; em seguida pedi a Deus que vos protegesse, para que o sonho da minha vida se completasse.
8. Tivestes consciência do momento em que o corpo exalou o derradeiro suspiro? que se passou convosco nesse momento? que sensação experimentastes? — R. Parte-se a vida e a vista, ou antes, a vista do Espírito se extingue; encontra-se o vácuo, o ignoto, e arrastada por não sei que poder, encontra-se a gente num mundo de alegria e grandeza! Eu não sentia, nada compreendia e, no entanto, uma felicidade inefável me extasiava de gozo, livre do peso das dores.
9. Tendes ciência... do que pretendo ler sobre a vossa campa?
Apenas pronunciadas as primeiras palavras sobre o assunto, o Espírito respondeu sem que eu terminasse. Também respondeu, sem interrogação alguma, a certa controvérsia suscitada entre os assistentes, sobre se seria oportuno ler esta comunicação no cemitério, achando-se presentes pessoas que poderiam não compartilhar das nossas opiniões.
— R. Ah! sei, meu amigo, e sei, por que tanto vos via ontem como hoje... que grande é a minha alegria! Obrigado! Obrigado! Falai... falai para que me compreendam e vos estimem; nada tendes que temer, pois que se respeita a morte... falai pois, para que os incrédulos tenham fé. Adeus; falai; coragem, confiança, e oxalá meus filhos possam converter-se a uma crença sacrossanta. J. Sanson.
Durante a cerimônia do cemitério, ele ditou as palavras seguintes: “Não vos atemorize a morte, meus amigos: ela é um estágio da vida, se bem souberdes viver; é uma felicidade, se bem a merecerdes e melhor cumprirdes as vossas provações. Repito: coragem e boa vontade! Não deis mais que medíocre valor aos bens terrenos, e sereis recompensados. Não se pode muito gozar, sem tirar de outrem o bem-estar e sem fazer moralmente um grande, um imenso mal. A terra me seja leve.”
Que a graça e a paz sejam conosco!
Nenhum comentário:
Postar um comentário