quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

O Céu e o Inferno


"No dia em que plantares, vê-lo-ás crescer e numa bela manhã tua planta dará flores". -( Isaías, 17: 11a )-




Amados irmãos, bom dia!
Lembremos sempre: colheremos o que plantarmos.




                         Benoist
               (Bordeaux, março de 1862.)

Um Espírito apresenta-se espontaneamente ao médium, sob o nome de Benoist, dizendo ter morrido em 1704 e padecer horríveis sofrimentos.

1. Que fostes na Terra? 
— R. Frade sem fé.

2. Foi a descrença a vossa única falta? 
— R. Só ela é bastante para acarretar outras.

3. Podereis dar-nos alguns pormenores sobre a vossa vida? Ser-vos-á levada em boa conta a sinceridade da confissão.  
— R. Pobre e indolente, ordenei-me para ter uma posição, sem pendor aliás para tal encargo. Inteligente, consegui essa posição; influente, abusei do meu poderio; vicioso, corrompi aqueles que tinha por missão salvar; cruel, persegui os que me pareciam querer verberar os meus excessos; os pacíficos foram por mim inquietados. As torturas da fome de muitas vítimas eram extintas amiúde pela violência. Agora, sofro todas as torturas do inferno, ateando-me as vítimas o fogo que me devora. A luxúria e a fome insaciáveis perseguem-me; cresta-me a sede os lábios escaldantes, sem que uma gota lhes caia em refrigério. Os elementos todos se encarniçam contra mim. Orai pelo meu Espírito. 

4. As preces feitas pelos finados deverão ser-vos atribuídas como aos outros? 
— R. Acreditais que sejam edificantes, e no entanto elas têm para mim o valor das que eu simulava fazer. Não executei o meu trabalho, e, assim, recebo o salário.

5. Nunca vos arrependestes? 
— R. Há muito tempo, mas o arrependimento só veio pelo sofrimento. E como fui surdo ao clamor de vítimas inocentes, o Senhor também é surdo aos meus clamores. Justiça!

6. Reconheceis a Justiça do Senhor; pois bem, confiai na sua bondade e socorrei-vos do seu auxílio. 
— R. Os demônios berram mais do que eu; seus gritos sufocam-me; enchem-me a boca de pez fervente!... Eu o fiz, grande... (O Espírito não pôde escrever a palavra Deus.)

7. Não estais suficientemente liberto das ideias terrenas de modo a compreender que essas torturas são todas morais? 
— R. Sofro-as... sinto-as... vejo os meus carrascos, todos têm uma cara conhecida, um nome que repercute em meu cérebro.

8. Mas que poderia impelir-vos ao cometimento de tantas infâmias? 
— R. Os vícios de que me achava saturado, a brutalidade das paixões.

9. Nunca implorastes a assistência dos bons Espíritos para vos ajudarem a sair dessa contingência? 
— R. Apenas vejo os demônios do inferno.

10. E quando estáveis na Terra temíeis esses demônios? 
— R. Não, absolutamente, visto que só cria no nada. Os prazeres a todo o transe constituíam o meu culto. E, pois que lhes consagrei a vida, as divindades do inferno não mais me abandonaram, nem abandonarão!

11. Então não lobrigais um termo para esses sofrimentos? 
— R. O infinito não tem termo.

12. Mas Deus é infinito na sua misericórdia, e tudo pode ter um fim quando lhe aprouver. 
— R. Se Ele o quisesse!

13. Por que vos viestes inscrever aqui? 
— R. Não sei mesmo como, mas eu queria falar e gritar para que me aliviassem.

14. E esses demônios não vos inibem de escrever? 
— R. Não, mas conservam-se à minha frente, e esperam-me... Também por isso, eu desejaria não terminar.

15. É a primeira vez que deste modo escreveis? 
— R. Sim. 
— P. E sabíeis que os Espíritos podiam assim aproximar-se dos homens? 
— R. Não. 
— P. Como, pois, o percebestes? 
— R. Não sei.

16. Que sensações experimentastes ao acercar-vos de mim?  
— R. Um como entorpecimento dos meus terrores.

17. Como vos apercebestes da vossa presença aqui? 
— R. Como quando se acorda. 

18. Como procedestes para comunicar comigo? 
— R. Não posso compreender, mas tu também não sentiste? 

19. Não se trata de mim, porém de vós... Procurai assegurar-vos do que fazeis enquanto escrevo. 
— R. És o meu pensamento, eis tudo.

20. Não tivestes, pois, o desejo de me fazer escrever? 
— R. Não, sou eu quem escreve, e tu pensas por mim.

21. Procurai assegurar-vos do vosso estado, porque os bons Espíritos que vos cercam vos ajudarão. 
— R. Não, que os anjos não vêm ao inferno. Tu não estás só? — P. Vedes em torno de vós.  
— R. Sinto que me auxiliam a atuar sobre ti... a tua mão obedece--me... não te toco, aliás, e seguro-te... Como? Não sei...

22. Implorai a assistência dos vossos protetores. Vamos pedir ambos. 
— R. Queres deixar-me? Fica comigo, porque vão reapossar-se de mim. Eu to peço... Fica! Fica!...

23. Não posso demorar-me por mais tempo. Voltai diariamente para orarmos juntos e os bons Espíritos vos auxiliarão. 
— R. Sim, desejo o perdão. Orai por mim, que não posso fazê-lo.

O guia do médium. — Coragem, meu filho, porque ser-lhe-á concedido o que pedes, posto longe esteja ainda o termo da expiação. As atrocidades por ele cometidas não têm número nem conta, e maior é a sua culpa porque possuía inteligência, instrução e luzes para guiar-se. Tendo falido com conhecimento de causa, mais terríveis lhe são os sofrimentos, os quais, não obstante, se suavizarão com o auxílio e o exemplo da prece, de modo a que lhes veja o termo, confortado pela esperança. Deus o vê no caminho do arrependimento, e já lhe concedeu a graça de poder comunicar-se a fim de ser encorajado e confortado. Pensa nele muitas vezes, pois nós to entregamos para fortalecer-se nas boas resoluções que lhe poderão advir dos teus conselhos. Ao seu arrependimento sucederá o desejo da reparação, e pedirá então uma nova existência para praticar o bem como compensação do mal que fez. Quando Deus estiver satisfeito a seu respeito e o vir resoluto e firme, far-lhe-á entrever as divinas luzes que o hão de conduzir à salvação, recebendo-o no seu seio qual pai ao filho pródigo. Tem fé, e nós te ajudaremos a completar o teu trabalho. 

                                                                              Paulin

Colocamos este Espírito entre os criminosos, posto que não atingido pela justiça humana, porque o crime se contém nos atos, que não no castigo infligido pelos homens. O mesmo se dá com o que se segue.




Que a graça e a paz sejam conosco!

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