domingo, 1 de outubro de 2017

O que é o Espiritismo


"Em ti, Senhor, confio; nunca me deixes confundido. Livra-me pela tua justiça." -( Salmos, 31: 1 )-




Amados irmãos, bom dia!
Só o Senhor é digno de toda a confiança. "Os que confiam no Senhor são como os montes de Sião que não podem ser abalados", portanto, nossa fé será manifesta na medida da nossa confiança n'Ele.






Padre — Creio que certos pontos da doutrina católica são contestados pelos Espíritos que considerais superiores; supondo mesmo que esses princípios sejam errôneos, poderá tal crença, segundo a opinião dos ditos Espíritos, ser prejudicial à salvação daqueles que, errando ou acertando, a consideram artigo de fé e a praticam?

A. K. — Certamente que não, se ela os não desviar da prática do bem, se ela antes os incitar a isso; ao passo que a mais bem fundada crença os prejudicará evidentemente, se lhes fornecer ocasião de fazer o mal, de faltar à caridade com o próximo, se ela os tornar duros e egoístas, por que então não praticam segundo a Lei de Deus, e Deus olha mais os pensamentos que os atos. Quem poderá sustentar o contrário?

Acreditais, por exemplo, que a fé possa ser proveitosa a um homem que, crendo perfeitamente em Deus, pratique atos inumanos ou contrários à caridade? Não haverá sempre mais culpa naquele que mais meios tinha de esclarecimento?

Padre. — Assim, o católico fervoroso, que escrupulosamente cumpre com os deveres do seu culto, não é censurado pelos Espíritos?

A. K. — Não, se isso é para ele uma questão de consciência, se ele o faz com sinceridade; sim, mil vezes sim, se for hipócrita, se só tiver piedade aparente. Os Espíritos superiores, os encarregados do progresso da humanidade, declararam-se contra todos os abusos que podem retardar esse progresso, qualquer que seja a natureza deles e quaisquer que sejam os indivíduos ou as classes que deles se aproveitem. Ora, não se pode negar que a religião nem sempre esteve isenta de abusos; se, entre os seus ministros, há muitos que desempenham sua missão com devotamento inteiramente cristão, que a fazem grande, bela e respeitável, convireis que nem todos assim sempre compreenderam a santidade do seu ministério. Os Espíritos combatem o mal, onde quer que ele se ache, mas assinalar os abusos da religião, será atacá-la? Ela não tem inimigos piores que aqueles que defendem esses abusos, abusos que fazem nascer o pensamento de poder ser ela substituída por outra melhor. Se a religião corresse qualquer perigo, deveria a responsabilidade cair sobre os que dão dela falsa ideia, transformando-a em arena de paixões humanas e explorando-a em proveito de sua ambição.

Padre. — Dissestes que o Espiritismo não discute os dogmas, e, entretanto, ele admite certos pontos combatidos pela Igreja, tais como, por exemplo, a reencarnação, a aparição do homem na Terra, antes de Adão; nega a eternidade das penas, a existência dos demônios, o purgatório e o fogo do inferno.

A. K. — Já de há muito que esses pontos estão sendo discutidos; não foi o Espiritismo quem os pôs em litígio; são pontos sobre alguns dos quais há controvérsia, mesmo entre os teólogos, e que só o futuro julgará. Um grande princípio domina a todos: a prática do bem, que é a lei superior, a condição sine qua non do nosso futuro, como no-lo prova o estado dos Espíritos que conosco se comunicam. Enquanto a luz não se faz para vós sobre essas questões, crede, se o quiserdes, nas chamas e torturas materiais, se julgais que isso impede que pratiqueis o mal; essa crença, porém, não as tornará mais reais se elas não existirem.
Acreditais que não temos mais de uma existência corporal, mas isto não impede de renascerdes aqui ou em outra parte, se assim tiver de ser, apesar de o não quererdes; credes que o mundo todo foi criado em seis vezes vinte e quatro horas, mas, apesar disso, a Terra nos apresenta a prova do contrário, escrita em suas camadas geológicas; estais convencido de haver Josué feito parar o Sol, o que não dá lugar a que deixe de ser a Terra que gira; dizeis que a data da vinda do homem à Terra não vai além de 6.000 anos: isto, porém, não priva que os fatos vos contradigam. E que direis se um dia a Geologia demonstrar, por traços patentes, a anterioridade do homem, como já tem demonstrado tantas outras coisas? Crede, pois, em tudo que vos aprouver, mesmo na existência do diabo, se tal crença vos puder tornar bom, humano e caridoso para com os vossos semelhantes. O Espiritismo, como doutrina moral, só impõe uma coisa: a necessidade de fazer o bem e evitar o mal. É uma ciência de observação que, repito, tem consequências morais, que são a confirmação e a prova dos grandes princípios da religião; quanto às questões secundárias, ele as abandona à consciência de cada um.
Notai bem, reverendo, que alguns dos pontos divergentes de que acabastes de falar, não são, em princípio, contestados pelo Espiritismo. Se tivésseis lido tudo quanto tenho escrito a respeito, teríeis visto que ele se limita a dar-lhes uma interpretação mais lógica e racional do que a que vulgarmente se lhes dá. É assim, por exemplo, que ele não nega o purgatório; antes, pelo contrário, demonstra sua necessidade e justiça; vai mesmo além: ele o define. O inferno foi descrito como imensa fornalha, mas ele será assim também compreendido pela alta teologia? Evidentemente, não; ela diz muito bem que isto é uma simples figura; que o fogo que ali se consome é um fogo moral, símbolo das maiores dores. Quanto à eternidade das penas, se fosse possível pôr-se a votos tal questão, para se conhecer a opinião íntima de todos os homens que raciocinam e se acham no caso de compreendê-la, mesmo entre os mais religiosos se veria para que lado penderia a maioria, porque a ideia de uma eternidade de suplícios é a negação da infinita misericórdia de Deus. Eis, ademais, o que avança a Doutrina Espírita a tal respeito:
A duração do castigo é subordinada ao melhoramento do Espírito culpado. Nenhuma condenação por tempo determinado é pronunciada contra ele. O que Deus exige, para pôr um termo aos sofrimentos, é o arrependimento, a expiação e a reparação; em uma palavra, um melhoramento sério e efetivo, uma volta sincera ao bem. O Espírito é assim o árbitro de sua própria sorte; sua pertinácia no mal prolonga-lhe os sofrimentos; seus esforços para fazer o bem os minoram ou abreviam. Sendo a duração da pena subordinada ao arrependimento, o Espírito culpado, que não se arrependesse e nunca se melhorasse, sofreria sempre, e para ele então a pena seria eterna. Essa eternidade de penas deve ser entendida no sentido relativo, e não no absoluto. Uma condição inerente à inferioridade do Espírito é não ver o termo da sua situação e crer que há de sofrer sempre — o que é para ele um castigo. Desde que, porém, sua alma se abra ao arrependimento, Deus lhe faz entrever um raio de esperança.
Esta doutrina é, por certo, mais conforme à Justiça de Deus, que pune, enquanto o culpado persiste no mal, e concede-lhe graça desde que ele volte ao bom caminho. Quem imaginou essa teoria? Seríamos nós? Não; são os Espíritos que a ensinam e provam, pelos exemplos que diariamente nos fornecem. Os Espíritos não negam, pois, as penas futuras, pois que são eles mesmos que nos vêm descrever seus próprios sofrimentos; e este quadro nos toca mais que o das chamas perpétuas, porque tudo nele é perfeitamente lógico. Compreende-se que isto é possível, que assim deve ser, que essa situação é uma consequência natural das coisas; o pensador filósofo pode aceitá-lo, porque nele nada repugna à razão. Eis por que as crenças espíritas têm conduzido ao bem muita gente, mesmo entre os materialistas, aos quais não fazia mossa o medo do inferno, como lhes era pintado.

Padre. — Admitindo esse raciocínio, não julgais que o vulgo precisa de imagens mais impressionantes, antes que de uma filosofia que ele não pode compreender?

A. K. — É isso um erro que tem lançado mais de um homem no materialismo, ou, pelo menos, afastado mais de um homem da religião.
Chega o momento em que essas imagens não impressionam mais, e então aqueles que não aprofundam as coisas, não aceitando uma parte, rejeitam o todo, porque, dizem eles: se me ensinaram como verdade incontestável um ponto que é falso, se me deram uma imagem, uma figura, pela realidade, quem me afiança que o resto seja verdadeiro? Se, pelo contrário, a razão, crescendo, nada tem a repelir, a fé se fortifica. A religião ganhará sempre em seguir o progresso das ideias; se alguma vez ela corre perigo, é quando os homens querem avançar e ela deseja ficar estacionária. Comete um erro de época quem espera conduzir os homens de hoje pelo medo do demônio e das torturas eternas.




Estudo do Livro dos Espíritos








607. Dissestes que o estado da alma do homem, na sua origem, corresponde ao estado da infância na vida corporal, que sua inteligência apenas desabrocha e se ensaia para a vida. Onde passa o Espírito essa primeira fase do seu desenvolvimento?

“Numa série de existências que precedem o período a que chamais Humanidade.”

a) — Parece que, assim, se pode considerar a alma como tendo sido o princípio inteligente dos seres inferiores da criação, não?

“Já não dissemos que tudo em a Natureza se encadeia e tende para a unidade? Nesses seres, cuja totalidade estais longe de conhecer, é que o princípio inteligente se elabora, se individualiza pouco a pouco e se ensaia para a vida, conforme acabamos de dizer. É, de certo modo, um trabalho preparatório, como o da germinação, por efeito do qual o princípio inteligente sofre uma transformação e se torna Espírito. Entra então no período da humanização, começando a ter consciência do seu futuro, capacidade de distinguir o bem do mal e a responsabilidade dos seus atos. Assim, à fase da infância se segue a da adolescência, vindo depois a da juventude e da madureza. Nessa origem, coisa alguma há de humilhante para o homem. Sentir-se-ão humilhados os grandes gênios por terem sido fetos informes nas entranhas que os geraram? Se alguma coisa há que lhe seja humilhante, é a sua inferioridade perante Deus e sua impotência para lhe sondar a profundeza dos desígnios e para apreciar a sabedoria das leis que regem a harmonia do Universo. Reconhecei a grandeza de Deus nessa admirável harmonia, mediante a qual tudo é solidário na Natureza. Acreditar que Deus haja feito, seja o que for, sem um fim, e criado seres inteligentes sem futuro, fora blasfemar da sua bondade, que se estende por sobre todas as suas criaturas.”

b) — Esse período de humanização principia na Terra?

“A Terra não é o ponto de partida da primeira encarnação humana. O período da humanização começa, geralmente, em mundos ainda inferiores à Terra. Isto, entretanto, não constitui regra absoluta, pois pode suceder que um Espírito, desde o seu início humano, esteja apto a viver na Terra. Não é frequente o caso; constitui antes uma exceção.”




Que a graça e a paz sejam conosco!

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