"Nós vos louvamos, Senhor, nós vos louvamos; glorificamos vosso nome e anunciamos vossas maravilhas". -( Salmos, 74: 2 )-
Amados irmãos, bom dia!
O Senhor não nos quer como bajuladores, mas, fica feliz com os corações sinceros que lhe são gratos.
13. O Autor acompanha esse quadro das seguintes reflexões, cujo alcance procuraremos cada qual compreender: “A ressurreição dos corpos é um milagre, mas Deus faz ainda um segundo milagre, dando a esses corpos mortais— já uma vez usados pelas passageiras provas da vida, já
uma vez aniquilados — a virtude de subsistirem sem se dissolverem numa fornalha, onde se volatilizariam os próprios metais. Que se diga que a alma é o seu próprio algoz, que Deus não a persegue e apenas a abandona no estado infeliz por ela escolhido (conquanto esse abandono eterno de um ser desgraçado e sofredor pareça incompatível com a bondade divina), vá; mas o que se diz da alma e das penas espirituais, não se pode de modo algum dizer dos corpos e das respectivas penas, para perpetuação das quais já não basta que Deus se conserve impassível, mas, ao contrário, que intervenha e atue, sem o que sucumbiriam os corpos. “Os teólogos supõem, portanto, que Deus opera, efetivamente, após a ressurreição dos corpos, esse segundo milagre de que falamos. Que em primeiro lugar tira dos sepulcros, que os devoravam, os nossos corpos de barro; retira-os tais como aí baixaram com suas enfermidades originais e degradações sucessivas da idade; restitui-nos a esse estado, decrépitos, friorentos, gotosos, cheios de necessidades, sensíveis a uma picada de abelha, assinalados dos estragos da vida e da morte, e está feito o primeiro milagre; depois, a esses corpos raquíticos, prontos a voltarem ao pó donde saíram, outorga propriedades que nunca tiveram — a imortalidade, esse dom que, em sua cólera (dizei antes em sua misericórdia), retirara a Adão ao sair do Éden — e eis completo o segundo milagre. Adão, quando imortal, era invulnerável, e deixando de ser invulnerável tornou-se mortal; a morte seguia de perto a dor. A ressurreição não nos restabelece, pois, nem nas condições físicas do homem inocente, nem nas do culpado, sendo antes uma ressurreição das nossas misérias somente, mas com um acréscimo de misérias novas, infinitamente mais horríveis. “É, de alguma sorte, uma verdadeira criação, e a mais maliciosa que a imaginação tenha, porventura, ousado conceber. Deus muda de parecer, e, para ajuntar aos tormentos espirituais dos pecadores tormentos carnais que possam durar eternamente, transforma de súbito, por efeito do seu poder, as leis e propriedades por Ele mesmo estabelecidas de princípio aos compostos materiais, ressuscita carnes enfermas e corrompidas e, reunindo por um nindestrutível esses elementos que tendem por si mesmos a separar-se, mantém e perpetua, contra a ordem natural, essa podridão viva, lançando-a ao fogo, não para purificá-la, mas para conservá-la tal qual é, sensível, sofredora, ardente, horrível e como a quer — imortal. Por este milagre se arvora Deus num dos algozes infernais, pois se os condenados só a si podem atribuir seus males espirituais, em compensação só a Deus poderão imputar os outros. “Era pouco aparentemente o abandono, depois da morte, à tristeza, ao arrependimento, às angústias de uma alma que sente perdido o bem supremo. Segundo os teólogos, Deus irá buscá-las nessa noite, ao fundo desse abismo, chamando-as momentaneamente à vida, não para asconsolar, mas para as revestir de um corpo horrendo, cha-mejante, imperecível, mais empestado que a túnica de Dejanira, abandonando-as então para sempre. “Ainda assim Ele não as abandonará para sempre, em absoluto, visto como Céu e Terra não subsistem senão por ato permanente da sua vontade sempre ativa. Deus terá, portanto, sem cessar, esses condenados à mão, para impedir que o fogo se extinga em seus corpos, consumindo-os, e querendo que contribuam perenemente por seus perenes suplícios para edificação dos escolhidos.”
Que a graça e a paz sejam conosco!
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