terça-feira, 31 de março de 2020

A Gênese


"Ouvi-me, vós que seguis a justiça e que buscais o Senhor! Olhai a rocha de que fôstes talhados, a pedreira de onde vos tiraram". -( Isaías, 51: 1 )-




Amados irmãos, bom dia!
Quem espera no Senhor, sempre alcança. Sua promessa se cumpre no tempo que nos convém e jamais abandona a obra de sua criação.




10. Só os Espíritos puros recebem a palavra de Deus com a missão de transmiti-la; mas, sabe-se hoje que nem todos os Espíritos são perfeitos e que existem muitos que se apresentem sob falsas aparências, o que levou S. João a dizer: 

“Não acrediteis em todos os Espíritos; vede antes se os Espíritos são de Deus.”(Epíst. 1ª, 4:4.) 

Pode, pois, haver revelações sérias e verdadeiras como as há apócrifas e mentirosas. O caráter essencial da revelação divina é o da eterna verdade. Toda revelação eivada de erros ou sujeita a modificação não pode emanar de Deus. É assim que a lei do Decálogo tem todos os caracteres de sua origem, enquanto que as outras leis moisaicas, fundamentalmente transitórias, muitas vezes em contradição com a lei do Sinai, são obra pessoal e política do legislador hebreu. 

Com o abrandarem-se os costumes do povo, essas leis por si mesmas caíram em desuso, ao passo que o Decálogo ficou sempre de pé, como farol da Humanidade. O Cristo fez dele a base do seu edifício, abolindo as outras leis. Se estas fossem obra de Deus, seriam conservadas intactas. O Cristo e Moisés foram os dois grandes reveladores que mudaram a face ao mundo e nisso está a prova da sua missão divina. Uma obra puramente humana careceria de tal poder.




Que a graça e a paz sejam conosco!

segunda-feira, 30 de março de 2020

A Gênese


"Mas o Senhor vem em meu auxílio, eis porque não me senti desonrado, enrijeci meu rosto como uma pedra, convicto de não ser desapontado". -( Isaías, 50: 7 )-




Amados irmãos, bom dia!
Não tenhamos receio de nada, creiamos somente. Busquemos a vontade do Senhor e a vida brotará em nós.




9. Haverá revelações diretas de Deus aos homens? É uma questão que não ousaríamos resolver, nem afirmativamente, nem negativamente, de maneira absoluta. O fato não é radicalmente impossível, porém, nada nos dá dele prova certa. 

O que não padece dúvida é que os Espíritos mais próximos de Deus pela perfeição se imbuem do seu pensamento e podem transmiti-lo. Quanto aos reveladores encarnados, segundo a ordem hierárquica a que pertencem e o grau a que chegaram de saber, esses podem tirar dos seus próprios conhecimentos as instruções que ministram, ou recebê-las de Espíritos mais elevados, mesmo dos mensageiros diretos de Deus, os quais, falando em nome de Deus, têm sido às vezes tomados pelo próprio Deus.

As comunicações deste gênero nada têm de estranho para quem conhece os fenômenos espíritas e a maneira pela qual se estabelecem as relações entre os encarnados e os desencarnados. As instruções podem ser transmitidas por diversos meios: pela simples inspiração, pela audição da palavra, pela visibilidade dos Espíritos instrutores, nas visões e aparições, quer em sonho, quer em estado de vigília, do que há muitos exemplos na Bíblia, no Evangelho e nos livros sagrados de todos os povos.

É, pois, rigorosamente exato dizer-se que quase todos os reveladores são médiuns inspirados, audientes ou videntes. Daí, entretanto, não se deve concluir que todos os médiuns sejam reveladores, nem, ainda menos, intermediários diretos da divindade ou dos seus mensageiros.




Que a graça e a paz sejam conosco!

domingo, 29 de março de 2020

A Gênese


"Pode uma mulher esquecer-se daquele que amamenta? Não ter ternura pelo fruto de tuas entranhas? E mesmo que ela o esquecesse, eu não te esqueceria nunca". -( Isaías, 49: 15 )-




Amados irmãos, bom dia!
A fidelidade do Senhor para conosco é eterna e sem igual. Busquemos valorizar e merecer o seu amor que nos é dado de graça e tudo o que nos oferece é a vida verdadeira.    




8. Todas as religiões tiveram seus reveladores e estes, embora longe estivessem de conhecer toda a verdade, tinham uma razão de ser providencial, porque eram apropriados ao tempo e ao meio em que viviam, ao caráter particular dos povos a quem falavam e aos quais eram relativamente superiores.

Apesar dos erros das suas doutrinas, não deixaram de agitar os espíritos e, por isso mesmo, de semear os germens do progresso, que mais tarde haviam de desenvolver-se, ou se desenvolverão à luz brilhante do Cristianismo. 

É, pois, injusto se lhes lance anátema em nome da ortodoxia, porque dia virá em que todas essas crenças tão diversas na forma, mas que repousam realmente sobre um mesmo princípio fundamental — Deus e a imortalidade da alma, se fundirão numa grande e vasta unidade, logo que a razão triunfe dos preconceitos.

Infelizmente, as religiões hão sido sempre instrumentos de dominação; o papel de profeta há tentado as ambições secundárias e tem-se visto surgir uma multidão de pretensos reveladores ou messias, que, valendo-se do prestígio deste nome, exploram a credulidade em proveito do seu orgulho, da sua ganância, ou da sua indolência, achando mais cômodo viver à custa dos iludidos. A religião cristã não pôde evitar esses parasitas. A tal propósito, chamamos particularmente a atenção para o capítulo XXI de O Evangelho segundo o Espiritismo; 
“Haverá falsos Cristos e falsos profetas”.




Que a graça e a paz sejam conosco!

sábado, 28 de março de 2020

A Gênese


"Passei-te no cadinho como a prata, provei-te ao crisol da tribulação". -( Isaías, 48: 10 )-




Amados irmãos, bom dia!
Não podemos enganar a Deus, portanto, quando se nos apresentam situações onde tudo parece desmoronar, estejamos mais atentos ainda, pois, estamos sendo chamados a transformações necessárias. Sempre há algo a aprender, como, nada é por acaso.




6. Desde que se admite a solicitude de Deus para com as suas criaturas, por que não se há de admitir que Espíritos capazes, por sua energia e superioridade de conhecimento, de fazerem que a Humanidade avance, encarnem pela vontade de Deus, com o fim de ativarem o progresso em determinado sentido? 
Por que não admitir que eles recebam missões, como um embaixador as recebe do seu soberano? 
Tal o papel dos grandes gênios. Que vêm eles fazer, senão ensinar aos homens verdades que estes ignoram e ainda ignorariam durante largos períodos, a fim de lhes dar um ponto de apoio mediante o qual possam elevar-se mais rapidamente? 

Esses gênios, que aparecem através dos séculos como estrelas brilhantes, deixando longo traço luminoso sobre a Humanidade, são missionários ou, se o quiserem, messias. O que de novo ensinam aos homens, quer na ordem física, quer na ordem filosófica, são revelações. Se Deus suscita reveladores para as verdades científicas, pode, com mais forte razão, suscitá-los para as verdades morais, que constituem elementos essenciais do progresso. Tais são os filósofos cujas idéias atravessam os séculos.

7. No sentido especial da fé religiosa, a revelação se diz mais particularmente das coisas espirituais que o homem não pode descobrir por meio da inteligência, nem com o auxílio dos sentidos e cujo conhecimento lhe dão Deus ou seus mensageiros, quer por meio da palavra direta, quer pela inspiração. Neste caso, a revelação é sempre feita a homens predispostos, designados sob o nome de profetas ou messias, isto é, enviados ou missionários, incumbidos de transmiti-la aos homens. Considerada debaixo deste ponto de vista, a revelação implica a passividade absoluta e é aceita sem verificação, sem exame, nem discussão.




Que a graça e a paz sejam conosco!

sexta-feira, 27 de março de 2020

A Gênese


"Toma a tua mó, vai moer a farinha, tira teu véu, arregaça teu vestido, descobre tuas pernas para passar os rios". -( Isaías, 47: 2 )-




Amados irmãos, bom dia!
O Senhor nos chama ao trabalho; eis que é chegada a hora de tornarmos reais os desejos da nossa fé. São muitos os convidados, quase ninguém tem tempo.



                                               Capitulo I

           CARÁTER DA REVELAÇÃO ESPÍRITA


1. Pode o espiritismo ser considerado uma revelação? neste caso, qual o seu caráter? em que se funda a sua autenticidade? A quem e de que maneira foi ela feita? é a doutrina espírita uma revelação, no sentido teológico da palavra, ou por outra, é, no seu todo, o produto do ensino oculto vindo do Alto? é absoluta ou suscetível de modificações? trazendo aos homens a verdade integral, a revelação não teria por efeito impedi-los de fazer uso das suas faculdades, pois que lhes pouparia o trabalho da investigação? Qual a autoridade do ensino dos espíritos, se eles não são infalíveis e superiores à humanidade? Qual a utilidade da moral que pregam, se essa moral não é diversa da do Cristo, já conhecida? Quais as verdades novas que eles nos trazem? precisará o homem de uma revelação? e não poderá achar em si mesmo e em sua consciência tudo quanto é mister para se conduzir na vida? tais as questões que importa nos fixemos.

2. Definamos primeiro o sentido da palavra revelação

Revelar, do latim revelāre, cuja raiz, vēlum, véu, significa literalmente sair de sob o véu — e, figuradamente, descobrir, dar a conhecer uma coisa secreta ou desconhecida. em sua acepção vulgar mais genérica, essa palavra se emprega a respeito de qualquer coisa ignota que é divulgada, de qualquer ideia nova que nos põe ao corrente do que não sabíamos. 
Deste ponto de vista, todas as ciências que nos fazem conhecer os mistérios da natureza são revelações e pode dizer-se que há para a humanidade uma revelação incessante. 

A Astronomia revelou o mundo astral, que não conhecíamos; a geologia revelou a formação da terra; a química, a lei das afinidades; a fisiologia, as funções do organismo etc.; Copérnico, Galileu, Newton, Laplace, Lavoisier foram reveladores.

3. A característica essencial de qualquer revelação tem que ser a verdade. Revelar um segredo é tornar conhecido um fato; se é falso, já não é um fato e, por consequência, não existe revelação. Toda revelação desmentida por fatos deixa de o ser, se for atribuída a Deus. não podendo Deus mentir, nem se enganar, ela não pode emanar dele: deve ser considerada produto de uma concepção humana. 

4. Qual o papel do professor diante dos seus discípulos, senão o de um revelador? o professor lhes ensina o que eles não sabem, o que não teriam tempo, nem possibilidade de descobrir por si mesmos, porque a ciência é obra coletiva dos séculos e de uma multidão de homens que trazem, cada qual, o seu contingente de observações aproveitáveis àqueles que vêm depois. O ensino é, portanto, na realidade, a revelação de certas verdades científicas ou morais, físicas ou metafísicas, feitas por homens que as conhecem a outros que as ignoram e que, se assim não fora, as teriam ignorado sempre. 

5. Mas o professor não ensina senão o que aprendeu: é um revelador de segunda ordem; o homem de gênio ensina o que descobriu por si mesmo: é o revelador primitivo; traz a luz que pouco a pouco se vulgariza. Que seria da humanidade sem a revelação dos homens de gênio, que aparecem de tempos a tempos? mas quem são esses homens de gênio? e por que são homens de gênio? donde vieram? Que é feito deles? notemos que na sua maioria traz, ao nascer, faculdades transcendentes e alguns conhecimentos inatos, que com pouco trabalho desenvolvem. pertencem realmente à humanidade, pois nascem, vivem e morrem como nós. onde, porém, adquiriram esses conhecimentos que não puderam aprender durante a vida? dir-se-á, com os materialistas, que o acaso lhes deu a matéria cerebral em maior quantidade e de melhor qualidade? neste caso, não teriam mais mérito que um legume maior e mais saboroso do que outro. Dir-se-á, como certos espiritualistas, que Deus lhes deu uma alma mais favorecida que a do comum dos homens? suposição igualmente ilógica, pois que tacharia Deus de parcial. A única solução racional do problema está na preexistência da alma e na pluralidade das vidas. O homem de gênio é um espírito que tem vivido mais tempo; que, por conseguinte, adquiriu e progrediu mais do que aqueles que estão menos adiantados. Encarnando, traz o que sabe e, como sabe muito mais do que os outros e não
precisa aprender, é chamado homem de gênio. Mas seu saber é fruto de um trabalho anterior e não resultado de um privilégio. Antes de renascer, era ele, pois, espírito adiantado: reencarna para fazer que os outros aproveitem do que já sabe, ou para adquirir mais do que possui. 
Os homens progridem incontestavelmente por si mesmos e pelos esforços da sua inteligência; mas, entregues às próprias forças, só muito lentamente progrediriam, se não fossem auxiliados por outros mais adiantados, como o estudante o é pelos professores. Todos os povos tiveram homens de gênio, surgidos em diversas épocas, para dar-lhes impulso e tirá-los da inércia.



Que a graça e a paz sejam conosco!

quinta-feira, 26 de março de 2020

A Gênese


"Permanecerei o mesmo até vossa velhice, sustentar-vos-ei até o tempo dos cabelos brancos; eu vos carregarei como já carreguei, cuidarei de vós e preservar-vos-ei". -( Isaías, 46: 4 )-




Amados irmãos, bom dia!
Quão maravilhoso é o nosso Deus! Jamais nos abandona e em tudo se faz presente, por amor, pelo verdadeiro amor.




Iniciamos hoje o estudo do livro A Gênese e, para tanto, pedimos auxílio à Espiritualidade Superior, a fim de que possamos haurir mais esses conhecimentos, indispensáveis à nossa evolução.

                        
                          Introdução

À primeira edição publicada em Janeiro de 1868, esta nova obra é mais um passo dado para as consequências e aplicações do espiritismo. conforme seu título o indica, tem ela por objeto o estudo dos três pontos até hoje diversamente interpretados e comentados: a Gênese, os milagres e as predições em suas relações com as novas leis que decorrem da observação dos fenômenos espíritas. dois elementos, ou, se quiserdes, duas forças regem o universo: o elemento espiritual e o material. 
Da ação simultânea desses dois princípios nascem fenômenos especiais, naturalmente inexplicáveis, desde que se abstraia de um deles, do mesmo modo que a formação da água seria inexplicável, se se abstraísse de um dos seus elementos constituintes: o oxigênio e o hidrogênio. Demonstrando a existência do mundo espiritual e suas relações com o mundo material, o espiritismo fornece o esclarecimento de uma imensidade de fenômenos incompreendidos e considerados, por isso mesmo, inadmissíveis, por uma certa classe de pensadores. 

Abundam nas escrituras esses fatos e, por desconhecerem a lei que os rege, é que os comentadores dos dois campos opostos, girando sempre dentro do mesmo círculo de ideias, fazendo, uns, abstração dos dados positivos da ciência, outros, do princípio espiritual, não conseguiram chegar a uma solução racional. Essa solução se encontra na ação recíproca entre o espírito e a matéria. É exato que ela tira à maioria de tais fatos o caráter de sobrenatural. Porém, que é o que vale mais: admiti-los como resultado das leis da natureza, ou rejeitá-los completamente? Sua rejeição absoluta arrasta a da própria base do edifício, ao passo que a admissão a tal título, suprimindo-se apenas os acessórios, deixa intacta a base. Tal a razão por que o espiritismo conduz tantas pessoas à crença em verdades que elas antes consideravam meras utopias. Esta obra é, pois, como já o dissemos, um complemento das aplicações do espiritismo, de um ponto de vista especial. Os materiais se achavam prontos, ou, pelo menos, elaborados desde longo tempo; mas ainda não chegara o momento de serem publicados. Era preciso, primeiramente, que as ideias destinadas a lhes servirem de base houvessem atingido a maturidade e, além disso, também se fazia mister levar em conta a oportunidade das circunstâncias. O espiritismo não tem mistérios, nem teorias secretas; tudo nele é revelado claramente, a fim de que todos o possam julgar com conhecimento de causa. Cada coisa, entretanto, tem que vir a seu tempo, para vir com segurança. Uma solução dada precipitadamente, primeiro que a elucidação completa da questão, seria antes causa de atraso do que de avanço. A importância do assunto que aqui tratamos nos impunha o dever de evitar qualquer precipitação. Antes de entrarmos em matéria, pareceu-nos necessário definir claramente os papéis respectivos dos espíritos e dos homens na elaboração da nova doutrina. Essas considerações preliminares, que a escoimam de toda ideia de misticismo, fazem objeto do primeiro capítulo, intitulado: Caráter da revelação espírita. pedimos séria atenção para esse ponto, porque, de certo modo, está aí o nó da questão. Sem embargo da parte que toca à atividade humana na elaboração desta doutrina, a iniciativa da obra pertence aos espíritos, porém não a constitui a opinião pessoal de nenhum deles. Ela é, e não pode deixar de ser, a resultante do ensino coletivo e concorde por eles dado. Somente sob tal condição se lhe pode chamar doutrina dos espíritos. Doutra forma, não seria mais do que a doutrina de um espírito e então teria o valor de uma opinião pessoal. Generalidade e concordância no ensino, esse o caráter essencial da doutrina, a condição mesma da sua existência, donde resulta que todo princípio que ainda não haja recebido a consagração do controle da generalidade não pode ser considerado parte integrante dessa mesma doutrina. Será uma simples opinião isolada, da qual não pode o espiritismo assumir a responsabilidade. Essa coletividade concordante da opinião dos espíritos, passada, ademais, pelo critério da lógica, é que constitui a força da doutrina espírita e lhe assegura a perpetuidade. Para que ela mudasse, fora mister que a universalidade dos espíritos mudasse de opinião e viesse um dia dizer o contrário do que tem dito, pois que ela tem sua fonte de origem no ensino dos espíritos; para que sucumbisse seria necessário que os espíritos deixassem de existir. É também o que fará que prevaleça sobre todos os sistemas pessoais, cujas raízes não se encontram por toda parte, como com ela se dá. O livro dos espíritos só teve consolidado o seu crédito por ser a expressão de um pensamento coletivo, geral. Em abril de 1867, completou o seu primeiro período decenal. nesse intervalo, os princípios fundamentais, cujas bases o livro assentara, foram sucessivamente completados e desenvolvidos, por virtude da progressividade do ensino dos espíritos. Nenhum, porém, recebeu desmentido da experiência; todos, sem exceção, permaneceram de pé, mais vivazes do que nunca, enquanto, de todas as ideias contraditórias que alguns tentaram opor-lhe, nenhuma prevaleceu, precisamente porque, de todos os lados, era ensinado o contrário. este o resultado característico que podemos proclamar sem vaidade, pois que jamais nos atribuímos o mérito de tal fato. Os mesmos escrúpulos havendo presidido à redação das nossas outras obras, podemos, com toda verdade, dizê-las segundo o espiritismo, porque estamos certos da conformidade delas com o ensino geral dos espíritos. O mesmo sucede com esta, que podemos, por motivos semelhantes, apresentar como complemento das que a precederam, com exceção, todavia, de algumas teorias ainda hipotéticas, que tivemos o cuidado de indicar como tais e que devem ser consideradas simples opiniões pessoais, enquanto não forem confirmadas ou contraditadas, a fim de que não pese sobre a doutrina a responsabilidade delas.1 
Aliás, os leitores assíduos da Revista espírita hão tido ensejo de notar, sem dúvida, em forma de esboços, a maioria das ideias desenvolvidas aqui nesta obra, conforme o fizemos com relação às anteriores. A Revista, muita vez, representa para nós um terreno de ensaio, destinado a sondar a opinião dos homens e dos espíritos sobre alguns princípios, antes de os admitir como partes constitutivas da doutrina.

1N.E.: Ao leitor cabe, pois, durante a leitura desta obra, distinguir a parte apresentada como complementar da Doutrina, daquela que o próprio autor considera hipotética e pessoal.





Que a graça e a paz sejam conosco!

quarta-feira, 25 de março de 2020

O Céu e o Inferno


"Irei eu mesmo diante de ti, aplainando as montanhas, arrebentando os batentes de bronze, arrancando os ferrolhos de ferro". -( Isaías, 45: 2 )-




Amados irmãos, bom dia!
O Senhor é nosso caminho e nossa direção. Ele mesmo cuida de nós e em tudo se faz presente, para que não sejamos enganados.




                 NOTA EXPLICATIVA71

Hoje creem e sua fé é inabalável, porque assentada na evidência e na demonstração, e porque satisfaz à razão. [...]. Tal é a fé dos espíritas, e a prova de sua força é que se esforçam por se tornarem melhores, domarem suas inclinações más e porem em prática as máximas do Cristo, olhando todos os homens como irmãos, sem acepção de raças, de castas, nem de seitas, perdoando aos seus inimigos, retribuindo o mal com o bem, a exemplo do divino modelo. (KARDEC, Allan. Revista Espírita de 1868. 1. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005. p. 28, janeiro de 1868.)

A investigação rigorosamente racional e científica de fatos que revelavam a comunicação dos homens com os Espíritos, realizada por Allan Kardec, resultou na estruturação da Doutrina Espírita, sistematizada sob os aspectos científico, filosófico e religioso. A partir de 1854 até seu falecimento, em 1869, seu trabalho foi constituído de cinco obras básicas: O Livro dos Espíritos (1857), O Livro dos Médiuns (1861), O Evangelho segundo o Espiritismo (1864), O Céu e o Inferno (1865), A Gênese (1868), além da obra O Que é o Espiritismo(1859), de uma série de opúsculos e 136 edições da Revista Espírita (de janeiro de 1858 a abril de 1869). Após sua morte, foi editado o livro Obras Póstumas (1890). 

O estudo meticuloso e isento dessas obras permite-nos extrair conclusões básicas: 

a) todos os seres humanos são Espíritos imortais criados por Deus em igualdade de condições, sujeitos às mesmas leis naturais de progresso que levam todos, gradativamente, à perfeição; 

b) o progresso ocorre através de sucessivas experiências, em inúmeras reencarnações, vivenciando necessariamente todos os segmentos sociais, única forma de o Espírito acumular o aprendizado necessário ao seu desenvolvimento; 

c) no período entre as reencarnações o Espírito permanece no Mundo Espiritual, podendo comunicar-se com os homens; 

d) o progresso obedece às leis morais ensinadas e vivenciadas por Jesus, nosso guia e modelo, referência para todos os homens que desejam desenvolver-se de forma consciente e voluntária. Em diversos pontos de sua obra, o Codificador se refere aos Espíritos encarnados em tribos incultas e selvagens, então existentes em algumas regiões do planeta, e que, em contato com outros polos de civilização, vinham sofrendo inúmeras transformações, muitas com evidente benefício para os seus membros, decorrentes do progresso geral ao qual estão sujeitas todas as etnias, independentemente da coloração de sua pele. Na época de Allan Kardec, as ideias frenológicas de Gall, e as da fisiognomonia de Lavater, eram aceitas por eminentes homens de Ciência, assim como provocou enorme agitação nos meios de comunicação e junto à intelectualidade e à população em geral, a publicação, em 1859 — dois anos depois do lançamento de O Livro dos Espíritos — do livro sobre a Evolução das Espécies, de Charles Darwin, com as naturais incorreções e incompreensões que toda ciência nova apresenta. Ademais, a crença de que os traços da fisionomia revelam o caráter da pessoa é muito antiga, pretendendo-se haver aparentes relações entre o físico e o aspecto moral. 

O Codificador não concordava com diversos aspectos apresentados por essas assim chamadas ciências. Desse modo, procurou avaliar as conclusões desses eminentes pesquisadores à luz da revelação dos Espíritos, trazendo ao debate o elemento espiritual como fator decisivo no equacionamento das questões da diversidade e desigualdade humanas. Allan Kardec encontrou, nos princípios da Doutrina Espírita, explicações que apontam para leis sábias e supremas, razão pela qual afirmou que o Espiritismo permite “resolver os milhares de problemas históricos, arqueológicos, antropológicos, teológicos, psicológicos, morais, sociais etc.” (Revista Espírita, 1862, p. 401). 

De fato, as leis universais do amor, da caridade, da imortalidade da alma, da reencarnação, da evolução constituem novos parâmetros para a compreensão do desenvolvimento dos gru-pos humanos, nas diversas regiões do Orbe. Essa compreensão das Leis divinas permite a Allan Kardec afirmar que:

O corpo deriva do corpo, mas o Espírito não procede do Espírito. Entre os descendentes das raças apenas há consanguinidade. (O Livro dos Espíritos, item 207, p. 176.) [...] o Espiritismo, restituindo ao Espírito o seu verdadeiro papel na Criação, constatando a superioridade da inteligência sobre a matéria, faz com que desapareçam, naturalmente, todas as distinções estabelecidas entre os homens, conforme as vantagens corporais e mundanas, sobre as quais só o orgulho fundou as castas e os estúpidos preconceitos de cor. (Revista Espírita, 1861, p. 432.)
Os privilégios de raças têm sua origem na abstração que os homens geralmente fazem do princípio espiritual, para considerar apenas o ser material exterior. Da força ou da fraqueza constitucional de uns, de uma diferença de cor em outros, do nascimento na opulência ou na miséria, da filiação consanguínea nobre ou plebeia, concluíram por uma superioridade ou uma inferioridade natural. Foi sobre este dado que estabeleceram suas leis sociais e os privilégios de raças. Deste ponto de vista circunscrito, são consequentes consigo mesmos, porquanto, não considerando senão a vida material, certas classes parecem pertencer, e realmente pertencem, a raças diferentes. Mas se se tomar seu ponto de vista do ser espiritual, do ser essencial e progressivo, numa palavra, do Espírito, preexistente e sobrevivente a tudo, cujo corpo não passa de um invólucro temporário, variando, como a roupa, de forma e de cor; se, além disso, do estudo dos seres espirituais ressalta a prova de que esses seres são de natureza e de origem idênticas, que seu destino é o mesmo, que todos partem do mesmo ponto e tendem para o mesmo objetivo; que a vida corporal não passa de um incidente, uma das fases da vida do Espírito, necessária ao seu adiantamento intelectual e moral; que em vista desse avanço o Espírito pode sucessivamente revestir envoltórios diversos, nascer em posições diferentes, chega-se à consequência capital da igualdade de natureza e, a partir daí, à igualdade dos direitos sociais de todas as criaturas humanas e à abolição dos privilégios de raças. Eis o que ensina o Espiritismo. Vós que negais a existência do Espírito para considerar apenas o homem corporal, a perpetuidade do ser inteligente para só encarar a vida presente, repudiais o único princípio sobre o qual é fundada, com razão, a igualdade de direitos que reclamais para vós mesmos e para os vossos semelhantes. (Revista Espírita, 1867, p. 231.)
 
Com a reencarnação, desaparecem os preconceitos de raças e de castas, pois o mesmo Espírito pode tornar a nascer rico ou pobre, capitalista ou proletário, chefe ou subordinado, livre ou escravo, homem ou mulher. De todos os argumentos invocados contra a injustiça da servidão e da escravidão, contra a sujeição da mulher à lei do mais forte, nenhum há que prime, em lógica, ao fato material da reencarnação. Se, pois, a reencarnação funda numa Lei da natureza o princípio da fraternidade universal, também funda na mesma lei o da igualdade dos direitos sociais e, por conseguinte, o da liberdade. (A Gênese, cap. I, item 36, p. 42-43. Vide também Revista Espírita, 1867, p. 373.) 

Na época, Allan Kardec sabia apenas o que vários autores contavam a respeito dos selvagens africanos, sempre reduzidos ao embrutecimento quase total, quando não escravizados impiedosamente. É baseado nesses informes “científicos” da época que o Codificador repete, com outras palavras, o que os pesquisadores europeus descreviam quando de volta das viagens que faziam à África negra. Todavia, é peremptório ao abordar a questão do preconceito racial: 

Nós trabalhamos para dar a fé aos que em nada creem; para espalhar uma crença que os torna melhores uns para os outros, que lhes ensina a perdoar aos inimigos, a se olharem como irmãos, sem distinção de raça, casta, seita, cor, opinião política ou religiosa; numa palavra, uma crença que faz nascer o verdadeiro sentimento de caridade, de fraternidade e deveres sociais. (KARDEC, Allan. Revista Espírita de 1863 – 1. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005. – janeiro de 1863.)

O homem de bem é bom, humano e benevolente para com todos, sem distinção de raças nem de crenças, porque em todos os homens vê irmãos seus. (O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XVII, item 3, p. 348.)

É importante compreender, também, que os textos publicados por Allan Kardec na Revista Espírita tinham por finalidade submeter à avaliação geral as comunicações recebidas dos Espíritos, bem como aferir a correspondência desses ensinos com teorias e sistemas de pensamento vigentes à época. Em Nota ao capítulo XI, item 43, do livro A Gênese, o Codificador explica essa metodologia: 

Quando, na Revista Espírita de janeiro de 1862, publicamos um artigo sobre a “interpretação da doutrina dos anjos decaídos”, apresentamos essa teoria como simples hipótese, sem outra autoridade afora a de uma opinião pessoal controversível, porque nos faltavam então elementos bastantes para uma afirmação peremptória. Expusemo-la a título de ensaio, tendo em vista provocar o exame da questão, decidido, porém, a abandoná-la ou modificá-la, se fosse preciso. Presentemente, essa teoria já passou pela prova do controle universal. Não só foi bem aceita pela maioria dos espíritas, como a mais racional e a mais concorde com a soberana justiça de Deus, mas também foi confirmada pela generalidade das instruções que os Espíritos deram sobre o assunto. O mesmo se verificou com a que concerne à origem da raça adâmica. (A Gênese, cap. XI, item 43, Nota, p. 292.) 

Por fim, urge reconhecer que o escopo principal da Doutrina Espírita reside no aperfeiçoamento moral do ser humano, motivo pelo qual as indagações e perquirições científicas e/ou filosóficas ocupam posição secundária, conquanto importantes, haja vista o seu caráter provisório decorrente do progresso e do aperfeiçoamento geral. Nesse sentido, é justa a advertência do Codificador: 

É verdade que esta e outras questões se afastam do ponto de vista moral, que é a meta essencial do Espiritismo. Eis por que seria um equívoco fazê-las objeto de preocupações constantes. Sabemos, aliás, no que respeita ao princípio das coisas, que os Espíritos, por não saberem tudo, só dizem o que sabem ou o que pensam saber. Mas como há pessoas que poderiam tirar da divergência desses sistemas uma indução contra a unidade do Espiritismo, precisamente porque são formulados pelos Espíritos, é útil poder comparar as razões pró e contra, no interesse da própria doutrina, e apoiar no assentimento da maioria o julgamento que se pode fazer do valor de certas comunicações. (Revista Espírita, 1862, p. 38.) 

Feitas essas considerações, é lícito concluir que na Doutrina Espírita vigora o mais absoluto respeito à diversidade humana, cabendo ao espírita o dever de cooperar para o progresso da humanidade, exercendo a caridade no seu sentido mais abrangente (“benevolência para com todos, indulgência para as imperfeições dos outros e perdão das ofensas”), tal como a entendia Jesus, nosso Guia e Modelo, sem preconceitos de nenhuma espécie: de cor, etnia, sexo, crença ou condição econômica, social ou moral. 

                                                                         A Editora


71 N.E.: Esta Nota Explicativa, publicada em face de acordo com o Ministério Público Federal, tem por objetivo demonstrar a ausência de qualquer discriminação ou preconceito em alguns trechos das obras de Allan Kardec, caracterizadas, todas, pela sustentação dos princípios de fraternidade e solidariedade cristãs, contidos na Doutrina Espírita.

Hoje terminamos o estudo do livro O Céu e o Inferno e amanhã, iniciaremos o estudo do livro A Gênesis.
Que a Espiritualidade Superior seja conosco para que possamos, através desse estudo, caminharmos em nossa evolução e transformação íntima.
Pedimos, humildemente, que orem por nós, a fim de que tenhamos condições para continuarmos nosso trabalho.




Que a graça e a paz sejam conosco!