"Porque derramarei água sobre o solo sequioso, fa-la-ei correr sobre a terra árida, derramarei meu espírito sobre tua posteridade e minha benção sobre teus rebentos". -( Isaías, 44: 3 )-
Amados irmãos, bom dia!
Não estamos sós, jamais. O Senhor a todo momento está cuidado de nós e sabe todas as nossas necessidades. Voltemos a ele agradecidos.
Joseph Maître, o cego
Pertencia à classe mediana da sociedade e gozava de modesta abastança, ao abrigo de quaisquer privações. Os pais o destinavam à indústria e deram-lhe boa educação, porém, aos 20 anos, ele perdia a visão. Com perto de 50, veio finalmente a falecer, isto em 1845. Dez anos antes, fora acometido por outra enfermidade que o deixou surdo, de modo que só pelo tato mantinha relações com o mundo dos encarnados. Ora, não ver, já é um suplício; não ver e não ouvir é duplicado suplício, principalmente para quem depois de fruir as faculdades de tais sentidos tiver de suportar essa dupla privação. Qual a causa de sorte tão cruel? Certo não era a sua última existência, sempre moldada numa conduta exemplar. Assim é que sempre foi bom filho, possuidor de caráter meigo e benévolo, e, quando por cúmulo de infelicidade se viu privado da audição, aceitou resignado, sem um queixume, esta prova. Pela sua conversação, pressentia-se na lucidez do seu Espírito uma inteligência pouco comum. Pessoa que o conhecera, na presunção de que poderia receber instruções úteis, evocou-lhe o Espírito e obteve a seguinte mensagem, em resposta às perguntas que lhe dirigira:
(Paris – 1863.) “Agradeço, meus amigos, o terdes lembrado de mim. Pode ser que tal se não desse independente da suposição de proveito da minha comunicação, mas, ainda assim, estou certo de que motivos sérios vos animam e eis por que com prazer atendo ao chamado, uma vez que, por feliz, me é permitido orientar-vos. Assim possa o meu exemplo avolumar as provas assaz numerosas que os Espíritos vos dão da Justiça de Deus. Cego e surdo me conhecestes, e para logo vos propusestes saber a causa de tal destino. Eu vo-lo digo: Antes de tudo, importa dizer que era a segunda vez que eu expiava a privação da vista. Na minha precedente existência, em princípios do último século, fiquei cego aos 30 anos, em decorrência de excessos de todo o gênero que, arruinando-me a saúde, me enfraqueceram o organismo. Note-se que era já isso uma punição por abuso dos dons providenciais de que fora largamente cumulado. Em vez, porém, de me atribuir a causa original dessa enfermidade, entendi de acusar a Providência, na qual, aliás, pouco cria. Anatematizei Deus, reneguei-o, acusei-o, acrescentando que, se acaso existisse, devia ser injusto e mau, por deixar assim penar as criaturas. Entretanto, eu deveria dar-me ainda por feliz, isento como estava de mendigar o pão, à feição de tantos outros míseros cegos como eu. Mas é que eu só pensava em mim, na privação de gozos que me impunham. Influenciado por ideias tais, que o ceticismo mais exaltava, tornei-me frenético, exigente, numa palavra, insuportável aos que comigo privavam. Além disso, a vida era-me um moto-contínuo, pois que eu não pensava no futuro — uma quimera. Depois de esgotar baldamente os recursos da Ciência e reputada impossível a cura, resolvi antecipar a morte: suicidei-me. Que despertar, então, que foi o meu, imerso nas mesmas trevas da vida! Contudo, não tardou muito o reconhecimento da minha situação, da minha transferência para o mundo espiritual. Era um Espírito, sim, porém, cego. A vida de além-túmulo tornava-se-me, pois, a realidade! Procurei fugir-lhe, mas em vão... Envolvia-me o vácuo. Pelo que ouvia dizer, essa vida deveria ser eterna, e com ela a minha situação. Ideia horrenda! Eu não sofria, mas impossível é descrever as angústias e tormentos espirituais experimentados. Quanto teriam eles durado? Ignoro-o... Mas quão longo me pareceu este tempo! Extenuado, fatigado, pude finalmente analisar-me a mim mesmo, e compreendi o ascendente de um poder superior, que sobre mim atuava, e considerei que se essa potência podia oprimir-me, também poderia aliviar-me. E implorei piedade. À proporção que orava e o fervor se me aumentava, alguém me dizia que a minha situação teria um termo. Por fim se fez a luz e extremo foi o meu arroubo de alegria ao entrever as claridades celestes, distinguindo os Espíritos que me rodeavam, sorrindo, benévolos, bem como os que, radiosos, flutuavam no Espaço. Ao querer seguir-lhes os passos, força invisível me reteve. Foi então que um deles me disse: “O Deus que negaste teve comiseração do teu arrependimento e permitiu-nos te déssemos a luz, mas tu só cedeste pelo sofrimento, pelo cansaço. Se queres participar desta felicidade aqui fruída, forçoso é provares a sinceridade do teu arrependimento, as boas disposições, recomeçando a prova terrestre em condições que te pre-disponham às mesmas faltas, porque esta nova provação deverá ser mais rude que a outra.” Aceitei pressuroso, prometendo não mais falir. Assim voltei à Terra nas condições que sabeis. Não me foi difícil compreender a situação, porque eu não era mau por índole; revoltara-me contra Deus, e Deus me puniu. Reencarnei trazendo a fé inata, razão por que não murmurei, antes aceitei a dupla enfermidade resignado, como expiação que era, oriunda da soberana justiça. O insulamento dos meus derradeiros anos nada tinha de desesperador, porquanto me bafejava a fé no futuro e na misericórdia de Deus. Ademais, esse insulamento me foi proveitoso, porque durante a longa noite silenciosa a minha alma mais livremente se alçava ao Eterno, entrevendo o infinito pelo pensamento. Quando, por fim, terminou o exílio, o mundo espiritual só me proporcionou esplendores, inefáveis gozos. O retrospecto ao passado faz que me julgue muito feliz, relativamente, pelo que dou graças a Deus; quando, porém, olho para o futuro, vejo a grande distância que ainda me separa da completa felicidade. Tendo já expiado, ainda me faltava reparar. A última encarnação só a mim aproveitou, pelo que espero recomeçar brevemente por existência que me permita ser útil ao próximo, reparando por esse meio a inutilidade anterior. E só assim me adiantarei na boa senda, sempre franqueada aos Espíritos possuídos de boa vontade. Amigos, eis aí a minha história; e se o meu exemplo puder esclarecer quaisquer dos meus irmãos encarnados, de modo a evitarem a má ação que pratiquei, terei por principiado o resgate da minha dívida.”
Joseph
Que a graça e a paz sejam conosco!
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