"Toma a tua mó, vai moer a farinha, tira teu véu, arregaça teu vestido, descobre tuas pernas para passar os rios". -( Isaías, 47: 2 )-
Amados irmãos, bom dia!
O Senhor nos chama ao trabalho; eis que é chegada a hora de tornarmos reais os desejos da nossa fé. São muitos os convidados, quase ninguém tem tempo.
Capitulo I
CARÁTER DA REVELAÇÃO ESPÍRITA
1. Pode o espiritismo ser considerado uma revelação? neste caso, qual o seu caráter? em que se funda a sua autenticidade? A quem e de que maneira foi ela feita? é a doutrina espírita uma revelação, no sentido teológico da palavra, ou por outra, é, no seu todo, o produto do ensino oculto vindo do Alto? é absoluta ou suscetível de modificações? trazendo aos homens a verdade integral, a revelação não teria por efeito impedi-los de fazer uso das suas faculdades, pois que lhes pouparia o trabalho da investigação? Qual a autoridade do ensino dos espíritos, se eles não são infalíveis e superiores à humanidade? Qual a utilidade da moral que pregam, se essa moral não é diversa da do Cristo, já conhecida? Quais as verdades novas que eles nos trazem? precisará o homem de uma revelação? e não poderá achar em si mesmo e em sua consciência tudo quanto é mister para se conduzir na vida? tais as questões que importa nos fixemos.
2. Definamos primeiro o sentido da palavra revelação.
Revelar, do latim revelāre, cuja raiz, vēlum, véu, significa literalmente sair de sob o véu — e, figuradamente, descobrir, dar a conhecer uma coisa secreta ou desconhecida. em sua acepção vulgar mais genérica, essa palavra se emprega a respeito de qualquer coisa ignota que é divulgada, de qualquer ideia nova que nos põe ao corrente do que não sabíamos.
Deste ponto de vista, todas as ciências que nos fazem conhecer os mistérios da natureza são revelações e pode dizer-se que há para a humanidade uma revelação incessante.
A Astronomia revelou o mundo astral, que não conhecíamos; a geologia revelou a formação da terra; a química, a lei das afinidades; a fisiologia, as funções do organismo etc.; Copérnico, Galileu, Newton, Laplace, Lavoisier foram reveladores.
3. A característica essencial de qualquer revelação tem que ser a verdade. Revelar um segredo é tornar conhecido um fato; se é falso, já não é um fato e, por consequência, não existe revelação. Toda revelação desmentida por fatos deixa de o ser, se for atribuída a Deus. não podendo Deus mentir, nem se enganar, ela não pode emanar dele: deve ser considerada produto de uma concepção humana.
4. Qual o papel do professor diante dos seus discípulos, senão o de um revelador? o professor lhes ensina o que eles não sabem, o que não teriam tempo, nem possibilidade de descobrir por si mesmos, porque a ciência é obra coletiva dos séculos e de uma multidão de homens que trazem, cada qual, o seu contingente de observações aproveitáveis àqueles que vêm depois. O ensino é, portanto, na realidade, a revelação de certas verdades científicas ou morais, físicas ou metafísicas, feitas por homens que as conhecem a outros que as ignoram e que, se assim não fora, as teriam ignorado sempre.
5. Mas o professor não ensina senão o que aprendeu: é um revelador de segunda ordem; o homem de gênio ensina o que descobriu por si mesmo: é o revelador primitivo; traz a luz que pouco a pouco se vulgariza. Que seria da humanidade sem a revelação dos homens de gênio, que aparecem de tempos a tempos? mas quem são esses homens de gênio? e por que são homens de gênio? donde vieram? Que é feito deles? notemos que na sua maioria traz, ao nascer, faculdades transcendentes e alguns conhecimentos inatos, que com pouco trabalho desenvolvem. pertencem realmente à humanidade, pois nascem, vivem e morrem como nós. onde, porém, adquiriram esses conhecimentos que não puderam aprender durante a vida? dir-se-á, com os materialistas, que o acaso lhes deu a matéria cerebral em maior quantidade e de melhor qualidade? neste caso, não teriam mais mérito que um legume maior e mais saboroso do que outro. Dir-se-á, como certos espiritualistas, que Deus lhes deu uma alma mais favorecida que a do comum dos homens? suposição igualmente ilógica, pois que tacharia Deus de parcial. A única solução racional do problema está na preexistência da alma e na pluralidade das vidas. O homem de gênio é um espírito que tem vivido mais tempo; que, por conseguinte, adquiriu e progrediu mais do que aqueles que estão menos adiantados. Encarnando, traz o que sabe e, como sabe muito mais do que os outros e não
precisa aprender, é chamado homem de gênio. Mas seu saber é fruto de um trabalho anterior e não resultado de um privilégio. Antes de renascer, era ele, pois, espírito adiantado: reencarna para fazer que os outros aproveitem do que já sabe, ou para adquirir mais do que possui.
Os homens progridem incontestavelmente por si mesmos e pelos esforços da sua inteligência; mas, entregues às próprias forças, só muito lentamente progrediriam, se não fossem auxiliados por outros mais adiantados, como o estudante o é pelos professores. Todos os povos tiveram homens de gênio, surgidos em diversas épocas, para dar-lhes impulso e tirá-los da inércia.
Que a graça e a paz sejam conosco!
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