"Então, porém, te salvarei - oráculo do Senhor - e não serás entregue aos homens que temes." -( Jeremias, 39: 17 )-
Amados irmãos, bom dia!
O Senhor cumpre suas promessas, sempre. Jamais nos abandona e sempre está zelando por nós, como o Pai amoroso que é.
A Providência
20. A providência é a solicitude de Deus para com as suas criaturas.
Ele está em toda parte, tudo vê, a tudo preside, mesmo às menores coisas.
É nisto que consiste a ação providencial.
“Como pode Deus, tão grande, tão poderoso, tão superior a tudo,
imiscuir-se em pormenores ínfimos, preocupar-se com os menores atos e
os menores pensamentos de cada indivíduo?”
Esta a interrogação que a
si mesmo dirige o incrédulo, concluindo por dizer que, admitida a existência de Deus, só se pode admitir, quanto à sua ação, que ela se exerça
sobre as leis gerais do universo; que o universo funcione de toda a eternidade em virtude dessas leis, às quais toda criatura se acha submetida na
esfera de suas atividades, sem que haja mister a intervenção incessante da
Providência.
21. No estado de inferioridade em que ainda se encontram, só muito dificilmente podem os homens compreender que Deus seja infinito,
pois, vendo-se limitados e circunscritos, eles o imaginam também circunscrito e limitado. Imaginando-o circunscrito, figuram-no quais eles
são, à imagem e semelhança deles. Os quadros em que o vemos com traços humanos não contribuem pouco para entreter esse erro no espírito das
massas, que nele adoram mais a forma que o pensamento. Para a maioria,
é Ele um soberano poderoso, sentado num trono inacessível e perdido na imensidade dos céus. Tendo restritas suas faculdades e percepções, não
compreendem que Deus possa e se digne de intervir diretamente nas
pequeninas coisas.
22. Impotente para compreender a essência mesma da Divindade, o
homem não pode fazer dela mais do que uma ideia aproximativa, mediante comparações necessariamente muito imperfeitas, mas que, ao menos,
servem para lhe mostrar a possibilidade daquilo que, à primeira vista, lhe
parece impossível.
Suponhamos um fluido bastante sutil para penetrar todos os corpos. Sendo ininteligente, esse fluido atua mecanicamente, por meio tão
só das forças materiais. Se, porém, o supusermos dotado de inteligência,
de faculdades perceptivas e sensitivas, ele já não atuará às cegas, mas com
discernimento, com vontade e liberdade: verá, ouvirá e sentirá.
23. As propriedades do fluido perispirítico podem nos dar uma
ideia. Ele não é de si mesmo inteligente, pois que é matéria, mas é o
veículo do pensamento, das sensações e percepções do Espírito. O fluido perispiritual não é o pensamento do Espírito; é, porém, o agente e o
intermediário desse pensamento. Sendo ele que o transmite, fica, de certo
modo, impregnado do pensamento transmitido, e na impossibilidade em
que nos achamos de isolar o pensamento, a nós parece que ele faz corpo
com o fluido, dando a entender que são uma coisa só, como sucede com
o som e o ar, de maneira que podemos, a bem dizer, materializá-lo. Assim
como dizemos que o ar se torna sonoro, poderíamos, tomando o efeito
pela causa, dizer que o fluido se torna inteligente.
24. Seja ou não assim no que concerne ao pensamento de Deus, isto
é, que o pensamento de Deus atue diretamente ou por intermédio de um
fluido, para facilitar a nossa inteligência, figuremo-lo sob a forma concreta de um fluido inteligente que enche o universo infinito e penetra todas
as partes da Criação: a natureza inteira está mergulhada no fluido divino.
Ora, em virtude do princípio de que as partes de um todo são da mesma
natureza e têm as mesmas propriedades que ele, cada átomo desse fluido,
se assim nos podemos exprimir, possuindo o pensamento, isto é, os atributos essenciais da Divindade e estando o mesmo fluido em toda parte,
tudo está submetido à sua ação inteligente, à sua previdência, à sua solicitude. Nenhum ser haverá, por mais ínfimo que o suponhamos, que não
esteja saturado dele. Achamo-nos então, constantemente, em presença da Divindade; nenhuma das nossas ações lhe podemos subtrair ao olhar; o
nosso pensamento está em contato ininterrupto com o seu pensamento,
havendo, pois, razão para dizer-se que Deus vê os mais profundos refolhos
do nosso coração. Estamos nele, como Ele está em nós, segundo a palavra do
Cristo (1 João, 4:13).
Para estender a sua solicitude a todas as criaturas, não precisa Deus
lançar o olhar do Alto da imensidade. As nossas preces, para que Ele as
ouça, não precisam transpor o espaço, nem ser ditas com voz retumbante,
pois que, estando sempre ao nosso lado, os nossos pensamentos repercutem nele. Os nossos pensamentos são como os sons de um sino, que fazem
vibrar todas as moléculas do ar ambiente.
25. Longe de nós a ideia de materializar a Divindade. A imagem de
um fluido inteligente universal evidentemente não passa de uma comparação apropriada a dar de Deus uma ideia mais exata do que os quadros
que o apresentam debaixo de uma figura humana. Essa imagem se destina
a fazer compreensível a possibilidade que tem Deus de estar em toda parte
e de se ocupar com todas as coisas.
26. Temos constantemente sob as vistas um exemplo que nos permite fazer ideia do modo por que talvez se exerça a ação de Deus sobre
as partes mais íntimas de todos os seres e, conseguintemente, do modo
por que lhe chegam as mais sutis impressões de nossa alma. Esse exemplo
tiramo-lo de certa instrução que a tal respeito deu um Espírito.
27. “O homem é um pequeno mundo, que tem como diretor o
Espírito e como dirigido o corpo. Nesse universo, o corpo representará
uma criação cujo Espírito seria Deus. (Compreendei bem que aqui há
uma simples questão de analogia e não de identidade.) Os membros desse
corpo, os diferentes órgãos que o compõem, os músculos, os nervos, as
articulações são outras tantas individualidades materiais, se assim se pode
dizer, localizadas em pontos especiais do corpo. Se bem seja considerável
o número de suas partes constitutivas, de natureza tão variada e diferente,
a ninguém é lícito supor que se possam produzir movimentos, ou uma
impressão em qualquer lugar, sem que o Espírito tenha consciência do
que ocorra. Há sensações diversas em muitos lugares simultaneamente?
O Espírito as sente todas, distingue, analisa, assinala a cada uma a causa
determinante e o ponto em que se produziu, tudo por meio do fluido
perispirítico.
“Análogo fenômeno ocorre entre Deus e a Criação. Deus está em
toda parte, na natureza, como o Espírito está em toda parte, no corpo.
Todos os elementos da Criação se acham em relação constante com Ele,
como todas as células do corpo humano se acham em contato imediato
com o ser espiritual. Não há, pois, razão para que fenômenos da mesma
ordem não se produzam de maneira idêntica, num e noutro caso.
“Um membro se agita: o Espírito o sente; uma criatura pensa: Deus
o sabe. Todos os membros estão em movimento, os diferentes órgãos estão
a vibrar; o Espírito se ressente de todas as manifestações, as distingue e
localiza. As diferentes criações, as diferentes criaturas se agitam, pensam,
agem diversamente: Deus sabe o que se passa e assina a cada um o que lhe
diz respeito.
“Daí se pode igualmente deduzir a solidariedade da matéria e da
inteligência, a solidariedade entre si de todos os seres de um mundo, a
de todos os mundos e, por fim, de todas as criações com o Criador.”
(Quinemant, Sociedade de Paris, 1867.)
28.
Compreendemos o efeito: já é muito. Do efeito remontamos
à causa e julgamos da sua grandeza pela grandeza do efeito. Escapa-nos,
porém, a sua essência íntima, como a da causa de uma imensidade de
fenômenos. Conhecemos os efeitos da eletricidade, do calor, da luz, da
gravitação; calculamo-los e, entretanto, ignoramos a natureza íntima do
princípio que os produz.18
Será então racional neguemos o princípio divino, porque não o compreendemos?
29. Nada obsta a que se admita, para o princípio da soberana inteligência, um centro de ação, um foco principal a irradiar incessantemente, inundando o universo com seus eflúvios, como o Sol com a sua luz.
Mas onde esse foco? É o que ninguém pode dizer. Provavelmente, não se
acha fixado em determinado ponto, como não o está a sua ação, sendo
também provável que percorra constantemente as regiões do espaço sem-fim. Se simples Espíritos têm o dom da ubiquidade, em Deus há de ser
sem limites essa faculdade. Enchendo Deus o universo, poder-se-ia ainda
admitir, a título de hipótese, que esse foco não precisa transportar-se, por
se formar em todas as partes onde a soberana vontade julga conveniente
que ele se produza, donde o poder dizer-se que está em toda parte e em
parte nenhuma.
30. Diante desses problemas insondáveis, cumpre que a nossa razão se humilhe. Deus existe: disso não podemos duvidar. É infinitamente
justo e bom: essa a sua essência. A tudo se estende a sua solicitude: compreendemo-lo. Só o nosso bem, portanto, pode Ele querer, donde se segue
que devemos confiar nele, isso é essencial. Quanto ao mais, esperemos que
nos tenhamos tornado dignos de o compreender.
18 N.E.: Os efeitos citados são objeto de estudo há tempos, e hoje já são bem mais compreendidos.
Que a graça e a paz sejam conosco!
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