sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

O Céu e o Inferno


"Relembrarei agora as obras do Senhor, proclamarei o que vi. Pelas palavras do Senhor foram produzidas as suas obras". -( Eclesiástico, 42: 15 )-




Amados irmãos, bom dia!
Que nossos olhos e nossos corações saibam apreciar as obras do Senhor. As maravilhas que fez e faz por nós. Sejamos gratos!




                                  ERIC STANISLAS

            (Comunicação espontânea. Sociedade de Paris;agosto de 1863.)

“Que ventura nos proporcionam as emoções vivamente sentidas por valorosos corações! Ó suaves pensamentos que vindes abrir o caminho da salvação a tudo que vive, que respira material e espiritualmente. Não deixe jamais o bálsamo consolador de derramar-se profusamente sobre vós e sobre nós! De que expressões nos servirmos, que traduzam a felicidade dos irmãos, desencarnados, ao perscrutarem o amor que une a todos?
Ah! irmãos, quanto bem por toda parte, que de sentimentos suaves, elevados e simples como vós, como a vossa Doutrina, sois chamados a implantar ao longo da estrada a percorrer; mas, também, quanto vos será outorgado antes mesmo de terdes adquirido direitos!
“Assisti a tudo quanto se passou esta noite; ouvi, compreendi e vou procurar a meu nuto cumprir o meu dever e instruir a classe dos Espíritos imperfeitos. Ouvi: eu estava longe de ser feliz; abismado na imensidade, no infinito, os meus padecimentos eram tanto mais intensos, quanto difícil me era o compreendê-los."
Bendito seja Deus, que me permitiu vir a um santuário, que não pode ser franqueado impunemente pelos maus. 
“Amigos, quanto vos agradeço, quanto de forças entre vós recobrei! Ó homens de bem, reuni-vos constantemente; estudai, uma vez que não podeis duvidar dos frutos das reuniões sérias; os Espíritos que têm muito ainda a aprender, os que ficam voluntariamente inativos, preguiçosos e esquecidos dos seus deveres, podem encontrar-se, em virtude de circunstâncias fortuitas ou não, aí entre vós; e então, fortemente tocados, quantas vezes lhes é dado, reconhecendo-se, entreverem o fim, o objetivo cobiçado, ao mesmo tempo que procurarem, fortes pelo exemplo que lhes dais, os meios de fugir ao penoso estado que os avassala.
Com grande satisfação me constituo intérprete das almas sofredoras, porquanto é a homens de coração que me dirijo, na certeza de não ser repelido. 
“Ainda uma vez aceitai, pois, homens generosos, a expressão do meu reconhecimento em particular, e em geral de todos a quem tanto bem tendes feito, talvez sem o saberdes.

                                                                            Eric Stanislas.

O guia do médium
— Meus filhos, este é um Espírito que sofreu por muito tempo, transviado do bom caminho. Agora compreendeu os seus erros, arrependeu-se e volveu os olhos para o Deus que negara. A sua posição não é a de um feliz, porém ele aspira à felicidade e não mais sofre. Deus permitiu-lhe esta audição para que desça depois a uma esfera inferior, a fim de instruir e estimular o progresso de Espíritos que, como ele, transgrediram a lei. É a reparação que lhe compete. Afinal, ele conquistará a felicidade, porque tem força de vontade.




 Que a graça e a paz sejam conosco!

quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

O Céu e o Inferno


"Cuida em procurar para ti uma boa reputação, pois este bem ser-te-á mais estável que mil tesouros grandes e preciosos". -( Eclesiástico, 41: 15 )-




Amados irmãos, bom dia!
O nosso proceder são sementes das quais colheremos os frutos. Vigiemos, pois.




                              SR. CARDON, MÉDICO

Passara uma parte da sua vida na marinha mercante, como médico de navio baleeiro, adquirindo em tal ambiente idéias um tanto materialistas; recolhido à cidade de J..., exerceu aí a modesta profissão de médico da roça. Havia algum tempo, adquirira a certeza de estar afetado de uma
hipertrofia do coração, e, sabendo a moléstia incurável, deixava-se abater pela perspectiva da morte, num estado de melancolia inconsolável. Predisse o dia certo do falecimento, com antecipação de cerca de dois meses, e, chegado o momento, ele reuniu a família para dizer-lhe o último adeus. Estando abeirados do seu leito a esposa, a mãe, os três filhos e outros parentes, quando a primeira tentava erguê-lo, ele prostrou-se, tornando-se de um roxo lívido e fechando os olhos, pelo que foi julgado morto. A esposa colocou-se então de permeio, para ocultar aos filhos esse espetáculo. Minutos depois, o doente reabriu os olhos; sua fisionomia, por assim dizer iluminada, tomou radiante expressão de beatitude, e ele exclamou: — “Oh! meus filhos, belo! sublime! Oh! a morte! que benefício! que coisa suave! Morto, senti minha alma elevar-se bem alta, porém, Deus me permitiu voltasse para dizer-vos: Não lamenteis a minha morte, que é a libertação. Ah! que eu não posso descrever-vos a magnificência de tudo quanto vi, as impressões que experimentei! Mas não poderíeis compreendê-las... Oh! meus filhos, comportai-vos sempre de modo a merecer esta inefável felicidade reservada aos homens de bem; vivei conformemente aos preceitos da caridade; do que tiverdes dai uma parte aos necessitados.
Minha querida mulher, deixo-te numa posição pouco lisonjeira; temos dívidas a receber, mas eu te conjuro a não atormentares os nossos devedores; se estiverem em apuros, espera que possam pagar; e aos que não o puderem fazer, perdoa-lhes. Deus te recompensará. Tu, meu filho, trabalha para manteres tua mãe; sê honesto sempre e guarda-te de fazer algo que possa manchar a nossa família. Toma esta cruz, herança de minha mãe; não a deixes nunca, e oxalá te recorde ela sempre os meus derradeiros conselhos: Meus filhos, ajudai-vos, apoiai-vos mutuamente para que a boa harmonia reine entre vós; não sejais vaidosos nem orgulhosos; perdoai aos vossos inimigos se quiserdes que Deus vos perdoe...” Depois, fazendo-os chegar a si, tomou-lhes as mãos, acrescentando: — “Filhos, eu vos abençôo.” — E seus olhos cerraram-se, desta vez para sempre; seu rosto, porém, conservou uma expressão tão imponente que, até ao momento de ser amortalhado, numerosa turba veio contemplá-lo,tomada de admiração. Tendo-nos um amigo da família fornecido estes pormenores assaz interessantes, lembramo-nos que a evocação podia tornar-se instrutiva a todos nós, e útil ao próprio Espírito.

1.Evocação: — R. Estou perto de vós.

2. Relataram-nos as circunstâncias em que se deu a vossa passagem, e ficamos cheios de admiração. Quereis ter a bondade de nos descrever ainda mais minuciosamente o que vistes no intervalo do que poderíamos denominar as vossas duas mortes? 
— R. O que vi... E poderíeis compreendê-lo? Não sei, visto como não encontraria expressões apropriadas à compreensão do que pude ver durante os instantes em que me foi possível deixar o envoltório mortal.

3. E sabeis em que lugar estivestes? Seria longe da Terra, em outro planeta, ou no Espaço? 
— R. O Espírito não mede distâncias, nem lhes conhece o valor como a vós acontece. Arrebatado por não sei que agente maravilhoso, eu vi os esplendores de um céu, desses que só em sonho podemos imaginar. Esse percurso, através do infinito, fazia-se com celeridade tal que eu não pude precisar os instantes nele empregados pelo meu Espírito.

4. E fruís atualmente a felicidade que entrevistes? 
— R.Não; bem desejaria poder fruí-la, mas Deus não deveria recompensar-me de tal maneira. Revoltei-me muitas vezes contra os pensamentos abençoados que o coração me ditava e a morte parecia-me uma injustiça. Médico incrédulo, eu havia assimilado na arte de curar uma aversão profunda à segunda natureza, que é o nosso impulso inteligente, divino; para mim a imortalidade da alma não passava de ficção própria para seduzir as naturezas pouco instruídas, embora o nada me espantasse, maldizendo o misterioso agente que atua perenemente. A Filosofia desviara-me, sem que eu desse por isto, da compreensão da grandeza do Eterno, que sabe distribuir a dor e a alegria para ensino da Humanidade. 

5. Logo após o definitivo desprendimento reconhecestes o vosso estado? — R. Não; eu só me reconheci durante a transição que o meu Espírito experimentou para percorrer a etérea região. Isto, porém, não ocorreu imediatamente, sendo-me precisos alguns dias para o meu despertar. Deus concedera-me uma graça, em razão do que vos vou explicar: A minha primitiva descrença não mais existia; tornara-me crente antes da morte, depois de haver cientificamente sondado com gravidade a matéria que me atormentava, de não haver encontrado ao fim das razões terrestres senão a razão divina, que me inspirou e consolou, dando-me coragem mais forte que a dor. Assim, bendizia o que amaldiçoara, encarava a morte como uma libertação. A idéia de Deus é grande como o mundo! Oh! que supremo consolo na prece, que nos enternece e comove: ela é o elemento mais positivo da nossa natureza imaterial; foi por ela que compreendi, que cri firme, soberanamente, e, por isso, Deus, levando em conta os meus atos, houve por bem recompensar-me antes do termo da minha encarnação.

6. Poder-se-ia dizer que estivestes morto nessa primeira crise? 
— R. Sim e não: tendo o Espírito abandonado o corpo, naturalmente a carne extinguia-se; entretanto, retomando posse da morada terrena, a vida voltou ao corpo, que passou por uma transição, por um sono.

7. E sentíeis então os laços que vos prendiam ao corpo? 
R. Sem dúvida; o Espírito tem um grilhão fortíssimo a prendê-lo, e não entra na vida natural antes que dê o último estremecimento da carne.

8. Como, pois, na vossa morte aparente e durante alguns minutos, pôde o vosso Espírito desprender-se súbita e imperturbavelmente, ao passo que o desprendimento efetivo se fez acompanhar da perturbação por alguns dias? Parece-nos que no primeiro caso, os laços entre corpo e Espírito subsistindo mais que no segundo, o desprendimento deverá ser mais lento, ao contrário justamente do que se deu. 
— R. Tendes muitas vezes evocado um Espírito encarnado, recebendo respostas exatas; eu estava nas condições desses tais, porque Deus me chamava e os seus servidores me diziam: — “Vem...” Obedeci, agradecendo-lhe o favor especial que houve por bem conceder-me para que pudesse entrever, compreendendo-a, a sua infinita grandeza. Obrigado a vós, que antes da morte real me permitistes doutrinar os meus, para que façam boas e justas encarnações. 

9. Donde provinham as belas palavras que após o despertar dirigistes à vossa família? 
— R. Eram o reflexo do que tinha visto e ouvido; os bons Espíritos inspiravam-me a linguagem e davam fulgor à minha fisionomia.

10. Que impressão julgais ter a vossa revelação produzido nos assistentes, notadamente nos vossos filhos? 
— R. Surpreendente, profunda; a morte não é mentirosa; os filhos, por mais ingratos que possam ser, curvam-se sempre à encarnação que termina. Se pudéssemos penetrar o coração dos filhos, junto de um túmulo entreaberto, vê-lo-íamos apenas palpitar de sentimentos verdadeiros, sinceros, tocados pela mão secreta dos Espíritos, que dizem em todos os pensamentos: Tremei se duvidais; a morte é a reparação, a justiça de Deus, e eu vos asseguro, em que pese aos incrédulos, que a minha família e os amigos creram nas palavras por mim pronunciadas antes da morte. Eu era, ao demais, intérprete de um outro mundo. 

11. Dizendo não gozardes da felicidade entrevista, pode inferir-se que sejais infeliz? 
— R. Não, uma vez que me tornei crente antes da morte, e isto de coração e consciência. A dor acabrunha nesse mundo, mas fortalece sob o ponto de vista do futuro espiritual. Notai que Deus teve em conta as minhas preces e a crença n'Ele depositada em absoluto; estou firme no caminho da perfeição, e chegarei ao fim que me foi permitido lobrigar. Orai, meus amigos, por este mundo invisível que preside aos vossos destinos; esta permuta fraternal é de caridade; é a alavanca que põe em comunhão os Espíritos de todos os mundos. 

12. Acaso quereríeis dirigir algumas palavras à vossa mulher e filhos? 
— R. Peço a todos os meus que acreditem no Deus poderoso, justo, imutável; na prece que consola e alivia; na caridade que é a mais pura prática da encarnação humana; peço-lhes que se lembrem que do pouco também se pode dar, pois o óbolo do pobre é o mais meritório aos olhos de Deus, desse Deus que sabe que muito dá um pobre, mesmo que dê pouco. “O rico precisa dar muito, e repetidamente, para merecer outro tanto. O futuro é a caridade, a benevolência em todos os atos; é considerar que todos os Espíritos são irmãos, sem se preocupar jamais com as mil pueris vaidades da Terra.“ Tereis rudes provações, querida, amada família; aceitaias, porém, corajosamente, lembrando-vos de que Deus as vê. Repeti amiúde esta prece: 

— “Deus de amor e bondade, que tudo faculta e sempre, dá-nos força superior a todas as vicissitudes, torna-nos bons, humildes e caridosos, pequenos pela fortuna e grandes de coração. Permite seja espírita o nosso Espírito na Terra, a fim de melhor te compreendermos e te amarmos.
“Seja teu nome emblema de liberdade, oh! meu Deus!— O consolador de todos os oprimidos, de todos os que necessitam amar, perdoar e crer."

                                                                                                       Cardon




Que a graça e a paz sejam conosco!

quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

O Céu e o Inferno


"O temor do Senhor é-lhe como um paraíso abençoado; ele está revestido de uma glória que supera toda glória". -( Eclesiástico, 40, 28 )-




Amados irmãos, bom dia!
Temer ao Senhor é respeitar seus conselhos e viver segundo seus ensinamentos. É o caminho para a verdadeira evolução. Busquemos assim proceder.




                            O MARQUÊSDE SAINT-PAUL


(Falecido em 1860 e evocado, a pedido de uma sua irmã, consóror da Sociedade de Paris, em 16 de maio de 1861)1. 

Evocação
— R. Eis-me aqui.

2. Vossa irmã pediu-nos para evocar-vos, pois, conquanto seja médium, não está ainda bastante desenvolvida. 
R. Responderei da melhor forma possível.

3. Em primeiro lugar ela deseja saber se sois feliz. 
R. —Estou na erraticidade, estado transitório que não proporciona nem felicidade nem castigo absolutos. 

4. Permanecestes por muito tempo inconsciente do vosso estado? 
— R. Estive muito tempo perturbado e só voltei a mim para bendizer da piedade dos que, lembrando-se de mim, por mim oraram.

5. E podeis precisar o tempo dessa perturbação? 
— R. Não.

6. Quais os parentes que reconhecestes primeiro? 
— R. Minha mãe e meu pai, os quais me receberam ao despertar, iniciando-me em a nova vida. 

7. A que atribuir o fato de parecer que nos últimos extremos da moléstia confabuláveis com as pessoas caras da Terra? 
— R. Ao conhecimento antecipado pela revelação do mundo que viria habitar. Vidente antes da morte, meus olhos só se turbaram no momento da separação do corpo, porque os laços carnais eram ainda muito vigorosos.

8. Como explicar as recordações da infância que de preferência vos ocorriam? 
— R. Ao fato de o princípio se identificar mais com o fim, que com o meio da vida. 

— P. Como explicar isso? 
— R. Importa dizer que os moribundos lembram e vêem, como reflexo consolador, a pureza infantil dos primeiros anos.


É provavelmente por motivo providencial semelhante que os velhos, à proporção que se aproximam do termo da vida, têm, por vezes, nítida lembrança dos mais ínfimos episódios da infância. 


9. Por que, referindo-vos ao corpo, faláveis sempre na terceira pessoa? — R. Porque era vidente como vo-lo disse, e sentia claramente as diferenças entre o físico e o moral; essas diferenças, muito amalgamadas entre si pelo fluido vital, tornam-se distintíssimas aos olhos dos moribundos clarividentes. 

Eis aí uma particularidade singular da morte deste senhor. Nos seus últimos momentos, ele dizia sempre: Ele tem sede, é preciso dar-lhe de beber; ele tem frio, é preciso aquecê-lo; sofre em tal ou tal região, etc. E quando se lhe dizia: Mas sois vós que tendes sede? — respondia: “Não, é ele.” Aqui ressaltam perfeitamente as duas existências; o eu pensante está no Espírito e não no corpo; o Espírito, em parte desprendido, considerava o corpo outra individualidade, que a bem dizer lhe não pertencia; era portanto ao seu corpo que se fazia mister dessedentar, e não a ele Espírito. Este fenômeno nota-se também em alguns sonâmbulos. 

10. O que dissestes sobre a erraticidade do vosso Espírito e sua respectiva perturbação, levaria a duvidar da vossa felicidade, ao contrário do que se poderia inferir das vossas qualidades. Demais, há Espíritos errantes felizes e infelizes. 
— R. Estou num estado transitório; aqui as virtudes humanas passam a ter seu justo valor. Certo, este estado é mil vezes preferível ao da minha encarnação terrestre; mas porque alimentei sempre aspirações ao verdadeiramente bom e belo, minha alma não ficará satisfeita senão quando se alçar aos pés do Criador.




Que a graça e a paz sejam conosco!

terça-feira, 28 de janeiro de 2020

O Céu e o Inferno


"Todas as obras do Senhor são excelentes". -( Eclesiástico, 39: 21 )-




Amados irmãos, bom dia!
Lembremos sempre: tudo concorre para o bem dos que o amam.




                         SRA. HÉLÈNE MICHEL

Jovem de 25 anos, falecida subitamente no lar, sem sofrimentos, sem causa previamente conhecida. Rica e um tanto frívola, a leviandade de caráter predispunha-a mais para as futilidades da vida do que para as coisas sérias. Não obstante, possuía um coração bondoso e era  dócil, afetuosa e caritativa. Evocada três dias após a morte por pessoas conhecidas, exprimia-se assim:
“Não sei onde estou... que turbação me cerca! Chamaste-me, e eu vim. Não compreendo por que não estou em minha casa; lamentam a minha ausência quando presente estou, sem poder fazer-me reconhecida. Meu corpo não mais me pertence, e no entanto eu lhe sinto a algidez... Quero deixá-lo e mais a ele me prendo, sempre... Sou como que duas personalidades... Oh! quando chegarei a compreender o que comigo se passa? É necessário que vá lá ainda... meu outro ‘eu’, que lhe sucederá na minha ausência? Adeus.”

O sentimento da dualidade que não está ainda destruído por uma completa separação, é aqui evidente. Caráter volúvel, permitindo-lhe a posição e a fortuna a satisfação de todos os caprichos, deveria igualmente favorecer as tendências de leviandade. Não admira, pois, tenha sido lento o seu desprendimento, a ponto de, três dias após a morte, sentir-se ainda ligada ao invólucro corporal. Mas, como não possuísse vícios sérios e fosse de boa índole, essa situação nada tinha de penosa e não deveria prolongar-se por muito tempo. Evocada novamente depois de alguns dias, as suas idéias estavam já muito modificadas. Eis o que disse:

“Obrigada por haverdes orado por mim. Reconheço a bondade de Deus, que me subtraiu aos sofrimentos e apreensões consequentes ao desligamento do meu Espírito. À minha pobre mãe será dificílimo resignar-se; entretanto será confortada, e o que a seus olhos constitui sensível desgraça, era fatal e indispensável para que as coisas do Céu se lhe tornassem no que devem ser: tudo. Estarei ao seu lado até o fim da sua provação terrestre, ajudando-a a suportá-la.
Não sou infeliz, porém, muito tenho ainda a fazer para aproximar-me da situação dos bem-aventurados. Pedirei a Deus me conceda voltar a essa Terra para reparação do tempo que aí perdi nesta última existência.
‘A fé vos ampare, meus amigos; confiai na eficácia da prece, mormente quando partida do coração. Deus é bom.’

— P. Levastes muito tempo a reconhecer-vos? 
— R. Compreendi a morte no mesmo dia que por mim orastes.

— P. Era doloroso o estado de perturbação?
— R. Não, eu não sofria, acreditava sonhar e aguardava o despertar. Minha vida não foi isenta de dores, mas todo ser encarnado nesse mundo deve sofrer. Resignando-me à vontade de Deus, a minha resignação foi por Ele levada em conta. Grata vos sou pelas preces que me auxiliaram no reconhecimento de mim mesma. Obrigada; voltarei sempre com prazer. Adeus. 

                                                                                            Hélène




Que a graça e a paz sejam conosco!