sábado, 30 de setembro de 2017

O que é o Espiritismo


"Exaltar-te-ei, ó Senhor, porque tu me exaltaste; e não fizeste com que meus inimigos se alegrassem sobre mim." -( Salmos, 30: 1 )-





Amados irmãos, bom dia!
"Somente ao Senhor seja toda a honra, toda e glória e benção. Nenhum mortal, ainda que o orgulho dome, nenhum é digno de dizer seu nome." -( São Francisco de Assis )-





Padre. — As evocações, entretanto, não são feitas segundo uma fórmula religiosa?

A. K. — Realmente, o sentimento religioso domina nas evocações e em nossas reuniões, mas não temos fórmula sacramental: para os Espíritos o pensamento é tudo e a forma é nada. Nós os chamamos em nome de Deus, porque cremos em Deus e sabemos que nada se faz neste mundo sem sua permissão, e, portanto, que eles não virão sem que Deus o permita; procedemos em nossos trabalhos com calma e recolhimento, porque essa é uma condição necessária para as observações, e, em segundo lugar, porque sabemos o respeito que se deve àqueles que não vivem mais sobre a Terra, qualquer que seja sua condição, feliz ou infeliz, no mundo espiritual; fazemos um apelo aos bons Espíritos, porque, conhecendo que há bons e maus, desejamos que estes últimos não venham tomar parte fraudulentamente nas comunicações que recebemos. Que prova tudo isto? Que não somos ateus, o que não quer dizer que sejamos professos de religião reformada.

Padre. — Pois bem! Que dizem os Espíritos superiores a respeito da religião? Os bons nos devem aconselhar e guiar. Suponhamos que eu não tenha religião alguma e queira escolher uma; se eu lhes pedir para aconselharem-me se devo ser católico, protestante, anglicano, quáquer, judeu, maometano ou mórmon, qual será a resposta deles?

A. K. — Há dois pontos a considerar nas religiões: os princípios gerais, comuns a todas, e os princípios particulares de cada uma delas. Os primeiros são os de que falamos há pouco; estes são proclamados por todos os Espíritos, qualquer que seja a sua classe. Quanto aos segundos, os Espíritos vulgares, sem ser maus, podem ter preferências, opiniões; podem preconizar esta ou aquela forma, animar certas práticas, seja por convicção pessoal, seja porque conservaram as ideias da vida terrena, seja por prudência, para não assustar as consciências timoratas.
Acreditais, por exemplo, que um Espírito esclarecido, fosse mesmo Fénelon, dirigindo-se a um muçulmano, irá inabilmente dizer-lhe que Maomé é um impostor, e que ele será condenado se não se fizer cristão? Não o fará, porque seria repelido. Em geral, os Espíritos superiores, se a isso não são solicitados por alguma consideração especial, não se preocupam com essas questões de minúcia, eles se limitam a dizer: Deus é bom e justo; não quer senão o bem; a melhor de todas as religiões é aquela que só ensina o que é conforme à bondade e Justiça de Deus; que dá de Deus a maior e a mais sublime ideia e não o rebaixa emprestando-lhe as fraquezas e as paixões da humanidade; que torna os homens bons e virtuosos e lhes ensina a amarem-se todos como irmãos; que condena todo mal feito ao próximo; que não autoriza a injustiça sob qualquer forma ou pretexto que seja; que nada prescreve de contrário às leis imutáveis da natureza, porque Deus não se pode contradizer; aquela cujos ministros dão o melhor exemplo de bondade, caridade e moralidade; aquela que procura melhor combater o egoísmo e lisonjear menos o orgulho e a vaidade dos homens; aquela, finalmente, em nome da qual se comete menos mal, porque uma boa religião não pode servir de pretexto a nenhum mal; ela não lhe deve deixar porta alguma aberta, nem diretamente, nem por interpretação. Vede, julgai e escolhei.




Estudo do Livro dos Espíritos








606. Donde tiram os animais o princípio inteligente que constitui a alma de natureza especial de que são dotados?

“Do elemento inteligente universal.”

a) — Então, emanam de um único princípio a inteligência do homem e a dos animais?

“Sem dúvida alguma, porém, no homem, passou por uma elaboração que a coloca acima da que existe no animal.”




Que a graça e a paz sejam conosco!

sexta-feira, 29 de setembro de 2017

O que é o Espiritismo


"Dai ao Senhor, ó filhos dos poderosos, dai ao Senhor glória e força." -( Salmos, 29: 1 )-




Amados irmãos, bom dia!
"No Senhor está toda a graça e salvação, n'Ele encontramos o amor e o perdão."






Padre. — A religião ensina tudo isso; até agora foi suficiente; qual é hoje a necessidade de uma nova doutrina?

A. K. — Se a religião ensina o bastante, por que há tantos incrédulos, religiosamente falando? Ela prega, é verdade; ela nos manda crer, mas há muita gente que não crê por simples afirmação. O Espiritismo prova e faz ver o que a religião ensina em teoria. Além disso, donde vêm essas provas? Da manifestação dos Espíritos. Ora, é provável que os Espíritos só se manifestem com o consentimento de Deus; se, pois, Deus em sua misericórdia envia aos homens esse socorro para afastá-los da incredulidade, é uma impiedade repeli-lo.

Padre. — Não podeis, entretanto, contestar que o Espiritismo não está, em todos os pontos, de acordo com a religião.

A. K. — Ora, senhor abade, todas as religiões dirão a mesma coisa: os protestantes, os judeus, os muçulmanos, tanto quanto os católicos. Se o Espiritismo negasse a existência de Deus, da alma, da sua individualidade e imortalidade, das penas e recompensas futuras, do livre-arbítrio do homem; se ele ensinasse que cada um só deve viver para si, não pensar senão em si, não só seria contrário à religião católica, como a todas as religiões do mundo; ele seria ainda a negação de todas as leis morais, base das sociedades humanas. Longe disso: os Espíritos proclamam um Deus único, soberanamente justo e bom; eles dizem que o homem é livre e responsável por seus atos, recompensado ou punido pelo bem ou pelo mal que houver feito; colocam acima de todas as virtudes a caridade evangélica e a seguinte regra sublime ensinada pelo Cristo: fazer aos outros como queremos que nos seja feito.
Não são estes os fundamentos da religião?
Essa certeza do futuro, de se ir encontrar aqueles a quem se amou, não será uma consolação? Essa grandiosidade da vida espiritual, que é a nossa essência, comparada às mesquinhas preocupações da vida terrena, não será própria a elevar a nossa alma e a fortalecer-nos na prática do bem?

Padre. — Concordo que, nas questões gerais, o Espiritismo é conforme às grandes verdades do Cristianismo; dar-se-á, porém, o mesmo em relação aos dogmas?
Não contradiz ele alguns princípios que a Igreja nos ensina?

A. K. — O Espiritismo é, antes de tudo, uma ciência, não cogita de questões dogmáticas. Esta ciência tem consequências morais como todas as ciências filosóficas; essas consequências são boas ou más? Pode-se julgá-las pelos princípios gerais que acabo de expor. Algumas pessoas se iludem sobre o verdadeiro caráter do Espiritismo. A questão é de grande importância e merece alguns desenvolvimentos. Façamos primeiro um termo de comparação: a eletricidade, estando na natureza, existiu em todo tempo e produziu sempre os efeitos que hoje observamos e muitos outros que ainda não conhecemos. Na ignorância da sua verdadeira causa, os homens explicavam esses efeitos de um modo mais ou menos extravagante. A descoberta da eletricidade e de suas propriedades veio lançar por terra um punhado de teorias absurdas, espargindo a luz por sobre mais de um mistério da natureza. O que fizeram a eletricidade e as ciências físicas para certos fenômenos, o Espiritismo o fez para outros de ordem diferente.
O Espiritismo funda-se na existência de um mundo invisível, formado pelos seres incorpóreos que povoam o espaço e que não são mais que as almas daqueles que viveram na Terra, ou em outros globos, nos quais deixaram seus invólucros materiais. São os seres a que chamamos Espíritos, seres que nos cercam e incessantemente exercem sobre os homens, sem que estes o percebam, uma grande influência, e desempenham papel muito ativo no mundo moral, e mesmo, até certo ponto, no físico. O Espiritismo está, pois, em a natureza e podemos dizer que, numa certa ordem de ideias, é ele uma potência, como a eletricidade o é sob outro ponto de vista, e como ainda a gravitação é uma outra. Os fenômenos, de que o mundo invisível é a fonte, produziram-se em todos os tempos; eis aí por que a história de todos os povos faz deles menção. Somente, em sua ignorância, como se deu com a eletricidade, os homens os atribuíam a causas mais ou menos racionais, e deram, nesse ponto de vista, livre curso à sua imaginação.
Melhor observado depois que se vulgarizou, o Espiritismo vem derramar luz sobre grande número de questões, até hoje insolúveis ou mal compreendidas. Seu verdadeiro caráter é, pois, o de uma ciência, e não de uma religião; e a prova disso é que ele conta entre os seus aderentes homens de todas as crenças, que por esse fato não renunciaram às suas convicções: católicos fervorosos que não deixam de praticar todos os deveres do seu culto, quando a Igreja os não repele; protestantes de todas as seitas, israelitas, muçulmanos e mesmo budistas e bramanistas.
Ele repousa, por conseguinte, em princípios independentes das questões dogmáticas. Suas consequências morais são todas no sentido do Cristianismo, porque de todas as doutrinas é esta a mais esclarecida e pura; razão pela qual, de todas as seitas religiosas do mundo, os cristãos são os mais aptos para compreendê-lo em sua verdadeira essência. Podemos exprobrá-lo por isso? Cada um pode formar de suas opiniões uma religião e interpretar à vontade as religiões conhecidas, mas daí a constituir nova Igreja, a distância é grande.




Estudo do Livro dos Espíritos







605. Considerando-se todos os pontos de contacto que existem entre o homem e os animais, não seria lícito pensar que o homem possui duas almas: a alma animal e a alma espírita e que, se esta última não existisse, só como o bruto poderia ele viver? Por outra: que o animal é um ser semelhante ao homem, tendo de menos a alma espírita? Dessa maneira de ver resultaria serem os bons e os maus instintos do homem efeito da predominância de uma ou outra dessas almas?

“Não, o homem não tem duas almas. O corpo, porém, tem seus instintos, resultantes da sensação peculiar aos órgãos. Dupla, no homem, só é a natureza. Há nele a natureza animal e a natureza espiritual. Participa, pelo seu corpo, da natureza dos animais e de seus instintos. Por sua alma, participa da dos Espíritos.”

a) — De modo que, além de suas próprias imperfeições de que cumpre ao Espírito despojar-se, tem ainda o homem que lutar contra a influência da matéria?

“Quanto mais inferior é o Espírito, tanto mais apertados são os laços que o ligam à matéria. Não o vedes? O homem não tem duas almas; a alma é sempre única em cada ser. São distintas uma da outra a alma do animal e a do homem, a tal ponto que a de um não pode animar o corpo criado para o outro. Mas, conquanto não tenha alma animal, que, por suas paixões, o nivele aos animais, o homem tem o corpo que, às vezes, o rebaixa até ao nível deles, por isso que o corpo é um ser dotado de vitalidade e de instintos, porém ininteligentes estes e restritos ao cuidado que a sua conservação requer.”

Encarnando no corpo do homem, o Espírito lhe traz o princípio intelectual e moral, que o torna superior aos animais. As duas naturezas nele existentes dão às suas paixões duas origens diferentes: umas provêm dos instintos da natureza animal, provindo as outras das impurezas do Espírito, de cuja encarnação é ele a imagem e que mais ou menos simpatiza com a grosseria dos apetites animais. Purificando-se, o Espírito se liberta pouco a pouco da influência da matéria. Sob essa influência, aproxima-se do bruto. Isento dela, eleva-se à sua verdadeira destinação.




Que a graça e a paz sejam conosco!

quinta-feira, 28 de setembro de 2017

O que é o Espiritismo


"A ti clamo, ó Senhor; rocha minha, não emudeças para comigo; não suceda que, calando-te a meu respeito, eu me torne semelhante aos que descem à cova." -( salmos, 28:1 )-




Amados irmãos, bom dia!
Que não nos calemos na procura do Senhor. Que estejamos sempre em sua busca fazendo desse proceder, nosso modo de vida. "Onde iremos se só Tú tens palavra de vida".







 
Um livre-pensador. — Há pouco proclamastes a liberdade de pensamento e de consciência, e declarastes que toda crença sincera é respeitável. O materialismo é uma crença como outra qualquer; por que negar-lhe a liberdade que concedeis a todas as outras?

A. K. — Cada um é, certamente, livre de crer no que quiser ou de não crer em coisa alguma; e não toleraríamos mais uma perseguição contra aquele que acredita no nada depois da morte, assim como na promovida contra um cismático de qualquer Religião.
Combatendo o materialismo, não atacamos os indivíduos, mas sim uma doutrina que, se é inofensiva para a sociedade, quando se encerra no foro íntimo da consciência de pessoas esclarecidas, é uma chaga social, se vier a generalizar-se. A crença de tudo acabar para o homem depois da morte, que toda solidariedade cessa com a extinção da vida corporal, leva-o a considerar como um disparate o sacrifício do seu bem-estar presente, em proveito de outrem; donde a máxima: “Cada um por si durante a vida terrena, porque com ela tudo se acaba.”
A caridade, a fraternidade, a moral, em suma, ficam sem base alguma, sem nenhuma razão de ser. Para que nos molestarmos, nos constrangermos e nos sujeitarmos a privações hoje, quando amanhã, talvez, já nada sejamos?
A negação do futuro, a simples dúvida sobre outra vida, são os maiores estimulantes do egoísmo, origem da maioria dos males da humanidade. É necessário possuir alta dose de virtude para não seguir a corrente do vício e do crime, quando para isso não se tem outro freio além do da própria força de vontade.
O respeito humano pode conter o homem do mundo, mas não contém aquele que não dá importância à opinião pública. A crença na vida futura, mostrando a perpetuidade das relações entre os homens, estabelece entre eles uma solidariedade que não se quebra na tumba; desse modo, essa crença muda o curso das ideias. Se essa crença fosse um simples espantalho, não duraria senão um tempo curto, mas como a sua realidade é fato adquirido pela experiência, é um dever propagá-la e combater a crença contrária, mesmo no interesse da ordem social. É o que faz o Espiritismo; e o faz com êxito, porque fornece provas, e porque, decididamente, o homem antes quer ter a certeza de viver e poder ser feliz em um mundo melhor, para compensação das misérias deste mundo, do que a de morrer para sempre. O pensamento de ser aniquilado, de ver os filhos e os entes que lhe são mais caros perdidos, sem remissão, sorri a um bem limitado número, acreditai-me; é o motivo do tão pequeno êxito obtido pelos ataques dirigidos contra o Espiritismo, em nome da incredulidade, os quais não lhe produziram o menor abalo.




Estudo do Livro dos Espíritos



    




604. Pois que os animais, mesmo os aperfeiçoados, existentes nos mundos superiores, são sempre inferiores ao homem, segue-se que Deus criou seres intelectuais perpetuamente destinados à inferioridade, o que parece em desacordo com a unidade de vistas e de progresso que todas as suas obras revelam.

“Tudo em a Natureza se encadeia por elos que ainda não podeis apreender. Assim, as coisas aparentemente mais díspares têm pontos de contacto que o homem, no seu estado atual, nunca chegará a compreender. Por um esforço da inteligência poderá entrevê-los; mas, somente quando essa inteligência estiver no máximo grau de desenvolvimento e liberta dos preconceitos do orgulho e da ignorância, logrará ver claro na obra de Deus. Até lá, suas muito restritas idéias lhe farão observar as coisas por um mesquinho e acanhado prisma. Sabei não ser possível que Deus se contradiga e que, na Natureza, tudo se harmoniza mediante leis gerais, que por nenhum de seus pontos deixam de corresponder à sublime sabedoria do Criador.”

a) — A inteligência é então uma propriedade comum, um ponto de contacto entre a alma dos animais e a do homem?

“É, porém os animais só possuem a inteligência da vida material. No homem, a inteligência proporciona a vida moral.”




Que a graça e a paz sejam conosco!

quarta-feira, 27 de setembro de 2017

O que é o Espiritismo


"O Senhor é a minha luz e a minha salvação; a quem temerei? O Senhor é a força da minha vida; de quem me recearei?" -( Salmos, 27: 1 )-




Amados irmãos, bom dia!
Só no caminho do Senhor encontramos a verdadeira vida. Que a sua graça não nos permita dele afastar e que saibamos conduzir nossos irmãos a esse caminho.







Padre. — Se a Igreja, vendo levantar-se uma nova doutrina, cujos princípios, em consciência, julga dever condenar, podeis contestar-lhe o direito de discuti-los e combatê-los, premunindo os fiéis contra o que ela considera erro?

A. K. — De modo algum podemos contestar esse direito, que também reclamamos para nós outros. Se ela se houvesse encerrado nos limites da discussão, nada haveria de melhor; lede, porém, a maioria dos discursos proferidos por seus membros e publicados em nome da religião, os sermões que têm sido pregados, e vereis neles a injúria e a calúnia transbordando por toda parte e os princípios da doutrina sempre indigna e perversamente desfigurados.
Do alto do púlpito, não temos sido — os espíritas — qualificados de inimigos da sociedade e da ordem pública, não temos sido anatematizados e rejeitados pela Igreja, sob o pretexto de que é melhor ser incrédulo do que crer-se em Deus e na alma pelos ensinos do Espiritismo? Não lamentam muitos, hoje, não se poder atear para os espíritas as fogueiras da Inquisição?
Em certas localidades não têm sido assinalados à animadversão de seus concidadãos, a ponto de fazer que sejam nas ruas perseguidos e injuriados? Não se tem imposto a todos os fiéis que os evitem como pestíferos, e impedido que os criados entrem a seu serviço?
Muitas mulheres não têm sido aconselhadas a separarem-se de seus maridos, como muitos maridos de suas mulheres, tudo por causa do Espiritismo?
Não se têm tirado lugares a empregados, retirado o pão do trabalho a operários e recusado caridade aos necessitados, por serem eles espíritas? Não se têm despedido de alguns hospitais, até cegos, pelo fato de não quererem abjurar sua crença? Dizei-me, senhor abade, será isso uma discussão leal? Os espíritas responderam, porventura, à injúria com a injúria, ao mal com o mal?
Não. A tudo opuseram eles sempre a calma e a moderação. A consciência pública já lhes faz a justiça de reconhecer não terem sido eles os agressores.

Padre. — Todo homem sensato deplora esses excessos, mas a Igreja não pode ser responsável pelos abusos cometidos por alguns de seus membros pouco esclarecidos.

A. K. — Convenho, mas entrarão na classe dos pouco esclarecidos os príncipes da Igreja?
Vede a pastoral do bispo de Argel e de alguns outros. Não foi um bispo quem ordenou o auto de fé de Barcelona? A autoridade superior eclesiástica não tem todo o poder sobre os seus subordinados? Se ela tolera esses sermões indignos da cadeira evangélica; se ela patrocina a publicação de escritos injuriosos e difamatórios contra uma classe inteira de cidadãos, e se não se opõe às perseguições exercidas em nome da religião, é porque as aprova.
Em resumo, a Igreja, repelindo sistematicamente os espíritas que a buscavam, forçou-os a retroceder; pela natureza e violência dos seus ataques ela ampliou a discussão e conduziu-a para um terreno novo. O Espiritismo era apenas uma simples doutrina filosófica; foi a Igreja quem lhe deu maiores proporções, apresentando-o como inimigo formidável; foi ela, enfim, quem o proclamou nova religião. Foi um passo errado, mas a paixão não raciocina melhor.




Estudo do Livro dos Espíritos

 





603. Nos mundos superiores, os animais conhecem a Deus?

“Não. Para eles o homem é um deus, como outrora os Espíritos eram deuses para o homem.”




Que a graça e a paz sejam conosco!

terça-feira, 26 de setembro de 2017

O que é o Espiritismo


"Julga-me, Senhor, pois tenho andado em minha sinceridade; tenho confiado também no Senhor; não vacilarei." -( Salmos, 26: 1 )-




Amados irmãos, bom dia!
"Senhor Jesus! Concedeste-nos os entes queridos por tesouros que nos empresta. Ensinai-nos a considerá-los e aceitá-los em sua verdadeira condição de filhos de Deus, tanto quanto nós, com necessidades e esperanças semelhantes às nossas. Faze-nos, porém, observar que aspiram a gêneros de felicidade diferente da nossa e ajuda-nos a não lhes violentar o sentimento em nome do amor, no propósito inconsciente de escravizá-los aos nossos pontos de vista" -( Mãos Unidas - Chico Xavier / Emmanuel )- 






Terceiro diálogo – O padre

Um abade. — Permitir-me-eis, senhor, dirigir-vos, por minha vez, algumas perguntas?

A. K. — De boa mente, reverendo; mas, antes de responder a elas,creio útil fazer-vos conhecer o terreno em que me devo colocar perante vós.
Primeiro que tudo, cumpre-me declarar que não tenho a pretensão de vos converter às nossas ideias. Se desejardes conhecê-las pormenorizadamente, encontrá-las-eis nos livros em que estão expostas; neles podereis estudá-las à vontade e aceitá-las ou rejeitá-las.
O Espiritismo tem por fim combater a incredulidade e suas funestas consequências, fornecendo provas patentes da existência da alma e da vida futura; ele se dirige, pois, àqueles que em nada creem ou que de tudo duvidam, e o número desses não é pequeno, como muito bem sabeis; os que têm fé religiosa e a quem esta fé satisfaz, dele não têm necessidade.

Àquele que diz: “Eu creio na autoridade da Igreja e não me afasto dos seus ensinos, sem nada buscar além dos seus limites”, o Espiritismo responde que não se impõe a pessoa alguma e que não vem forçar nenhuma convicção.
A liberdade de consciência é consequência da liberdade de pensar, que é um dos atributos do homem; e o Espiritismo, se não a respeitasse, estaria em contradição com os seus princípios de liberdade e tolerância. A seus olhos, toda crença, quando sincera e não permita ao homem fazer mal ao próximo, é respeitável, mesmo que seja errônea.

Se alguém fosse por sua consciência arrastado a crer, por exemplo, que é o Sol que gira ao redor da Terra, nós lhe diríamos: “Acreditai-o se quiserdes, porque isso não fará que esses dois astros troquem os seus papéis”, mas assim como não procuramos violentar-vos a consciência, respeitai também a nossa.
Se transformardes, porém, uma crença, de si mesma inocente, em instrumento de perseguição, ela então se tornará nociva e pode ser combatida. Tal é, senhor abade, a linha de conduta que tenho seguido com os ministros dos diversos cultos que a mim se hão dirigido. Quando eles me interpelaram sobre alguns pontos da Doutrina, dei-lhes as explicações necessárias, abstendo-me de discutir certos dogmas de que o Espiritismo não se quer ocupar, por serem todos os homens livres em suas apreciações; nunca, porém, fui procurá-los no propósito de lhes abalar a fé por meio de qualquer pressão. Àquele que nos procura como irmão, nós o acolhemos como tal; ao que nos repele, deixamo-lo em paz. É o conselho que não tenho cessado de dar aos espíritas, porque não concordo com os que se arrogam a missão de converter o clero. Sempre lhes tenho dito: Semeai no campo dos incrédulos, onde há colheita a fazer.

O Espiritismo não se impõe, porque, como vo-lo disse — respeita a liberdade de consciência; ele sabe também que toda crença imposta é superficial e não desperta senão as aparências da fé; nunca, porém, a fé sincera. Ele expõe seus princípios aos olhos de todos, de modo a cada um poder formar opinião segura. Os que lhe aceitam os princípios, sacerdotes ou leigos, o fazem livremente e por achá-los racionais, mas nós não ficamos querendo mal aos que se afastam da nossa opinião. Se hoje há luta entre a Igreja e o Espiritismo, nós temos consciência de não havê-la provocado.




Estudo do Livro dos Espíritos








602. Os animais progridem, como o homem, por ato da própria vontade, ou pela força das coisas?

“Pela força das coisas, razão por que não estão sujeitos à expiação.”




Que a graça e a paz sejam conosco!



 

segunda-feira, 25 de setembro de 2017

O que é o Espiritismo


"A ti, Senhor, levanto a minha alma." -( Salmos, 25: 1 )-




Amados irmãos, bom dia!
"Quando te reconheças à bica do desespero ou do desânimo, ergue-te sobre os motivos de tristeza ou desalento e contempla os quadros da natureza em torno. Novos minutos se despencam do coração das horas em teu benefício, dezenas e centenas de criaturas aparecem por todos os flancos,a te endereçarem sorrisos de esperança, tarefas múltiplas te pedem devotamento e os dias sempre renovados te apontam o Céu, de horizonte a horizonte,como sendo imensa porta libertadora, através da qual, em cada manhã, a Sabedoria do Senhor te convida sem palavras a recomeçar e progredir, trabalhar e viver." -( Mãos Unidas - Chico Xavier / Emmanuel )- 





Sociedade Espírita de Paris

V. — Tendes uma sociedade que se preocupa com esses estudos: ser-me-ia possível fazer parte dela?

A. K. — Por ora, ainda não; porque se não há, para ser nela recebido, necessidade de ser doutor em Espiritismo, há, contudo, a de ter-se sobre ele ao menos ideias mais firmes do que as vossas.
Como a Sociedade não deseja ser perturbada nos seus estudos, ela não admite os que lhe viriam fazer perder tempo com questões elementares, nem os que, não simpatizando com seus princípios e convicções, lançariam a desordem no seu seio, com discussões intempestivas ou com o espírito de contradição. É uma sociedade científica, como tantas outras, que se ocupa de aprofundar os diferentes pontos da ciência espírita e procura esclarecer-se; é o centro ao qual convergem ensinos colhidos em todas as partes do mundo e onde se elaboram e coordenam questões que se relacionam com o progresso da Ciência, mas não é uma escola nem um curso de ensino elementar. Mais tarde, quando as vossas convicções estiverem fortalecidas pelo estudo, ela decidirá se vos deve admitir. Enquanto esperais, podereis assistir, como visitante, a uma ou duas sessões, com a condição de não fazer reflexão alguma de natureza a melindrar quem quer que seja; do contrário, eu, que vos vou apresentar, incorreria na censura dos meus colegas, e a porta vos seria interdita.
Aí encontrareis uma reunião de homens graves e de boa sociedade, cuja maioria se recomenda pela superioridade do seu saber e posição social, e que não consentiria, àqueles que recebe em seu seio, se afastarem das conveniências, no que quer que seja; não creais, pois, que ela convide o público e chame o primeiro recém-vindo para assistir às suas sessões.
Como não faz demonstrações com o fim de satisfazer curiosidades, ela afasta com cuidado os curiosos. Aqueles, pois, que supõem ir aí achar uma distração e uma espécie de espetáculo, ficarão desapontados e melhor farão se lá não forem. Eis por que ela recusa admitir, mesmo como simples visitantes, as pessoas que não conhece, ou aquelas cujas disposições hostis são notórias.





Estudo do Livro dos Espíritos






 601.Os animais estão sujeitos, como o homem, a uma lei progressiva?

“Sim; e daí vem que nos mundos superiores, onde os homens são mais adiantados, os animais também o são, dispondo de meios mais amplos de comunicação. São sempre, porém, inferiores ao homem e se lhe acham submetidos, tendo neles o homem servidores inteligentes."

Nada há nisso de extraordinário. Tomemos os nossos mais inteligentes animais, o cão, o elefante, o cavalo, e imaginemo-los dotados de uma conformação apropriada a trabalhos manuais. Que não fariam sob a direção do homem?




Que a graça e a paz sejam conosco!



domingo, 24 de setembro de 2017

O que é o Espiritismo


"Do Senhor é a terra e a sua plenitude, o mundo e aqueles que nele habitam." -( Salmos, 24: 1 )-




Amados irmãos, bom dia!
"Para nós que aceitamos a jornada para a integração com Jesus, não há possibilidade de recuo, porque a desistência da luta pela vitória do bem significa perturbação e não equilíbrio, rebeldia e não fé.
Em suma, carregar nossa cruz será, desse modo, romper com os milênios de animalidade em que se nos sedimenta a estrutura da alma, principiando por acender as possíveis réstias de luz na selva de nossos próprios instintos, recebendo, pela fidelidade ao serviço, a honra de trabalhar, em Seu Nome, não através de méritos que ainda não possuímos, mas em razão da misericórdia, da pura misericórdia que Ele nos concedeu" -( Mãos Unidas - Chico Xavier / Emmanuel )- 






Elementos de convicção

V. — Convenho, ilustre amigo, que do ponto de vista filosófico, a Doutrina Espírita é perfeitamente racional, mas fica sempre de pé a questão das manifestações, que não pode ser resolvida senão por fatos; ora, é a realidade destes que muita gente contesta, e não deveis achar extraordinário o desejo que vos manifestam de testemunhá-los.

A. K. — Acho-o muito natural; todavia, como eu procuro que eles sejam aproveitados, explico em que condições convêm que cada um se coloque, para melhor observá-los e, sobretudo, compreendê-los; ora, quem não aceita essas condições, mostra não ter sério desejo de esclarecer-se, e com tal pessoa é inútil perdermos tempo.
Convireis, também, que seria singular que tão racional filosofia tivesse saído de fatos ilusórios e controvertidos. Em boa lógica, a realidade do efeito implica a da causa que o produz; se um é verdadeiro, a outra não pode ser falsa, porque, onde não há árvores, não se pode colher frutos.
Nem todos, é certo, testemunharam os fatos, porque não se colocaram nas condições precisas para observá-los; não tiveram a paciência e a perseverança exigidas. Mas isso também se dá com todas as ciências: o que uns não fazem, é feito por outros; todos os dias, aceitamos o resultado dos cálculos astronômicos, sem que nós mesmos os façamos. Seja como for, se achais a filosofia boa, podeis aceitá-la como aceitaríeis outra qualquer, conservando vossa opinião sobre as vias e meios que a ela conduziram, ou, ao menos, não a admitindo senão a título de hipótese, até mais ampla constatação. Os elementos de convicção não são os mesmos para todos; o que convence a uns, não produz impressão alguma em outros; assim sendo, é preciso um pouco de tudo. É, porém, um engano crer-se que as experiências físicas sejam o único meio de convencer.
Notei que em algumas pessoas os mais importantes fenômenos não produziram a menor impressão, ao passo que uma simples resposta escrita venceu todas as dúvidas. Quando se vê um fato que não se compreende, quanto mais extraordinário ele é, mais suspeitas desperta e mais o pensamento se esforça para lhe dar uma causa vulgar; se ele, porém, for compreendido, é logo admitido por ter uma razão de ser, desaparecendo o maravilhoso e o sobrenatural.
Certamente as explicações que vos acabo de dar, nesta conversa, longe estão de ser completas, mas sumárias como são, estou persuadido de que vos levarão a refletir; e, se as circunstâncias vos fizerem testemunhar alguns fatos de manifestação, vê-los-eis com menor prevenção, porque possuireis uma base onde firmar o vosso raciocínio.
Há duas coisas no Espiritismo: a parte experimental das manifestações e a doutrina filosófica. Ora, eu sou todos os dias visitado por pessoas que ainda nada viram e creem tão firmemente como eu, pelo só estudo que fizeram da parte filosófica; para elas, o fenômeno das manifestações é acessório; o fundo é a doutrina, a ciência; eles a veem tão grande, tão racional, que nela encontram tudo quanto pode satisfazer às suas aspirações interiores, à parte o fato das manifestações; do que concluem que, supondo não existissem as manifestações, a doutrina não deixaria de ser sempre a que melhor resolve uma multidão de problemas reputados insolúveis.
Quantos me disseram que essas ideias estavam em germe no seu cérebro, conquanto em estado de confusão. O Espiritismo veio coordená-las, dar-lhes corpo, e foi para eles como um raio de luz. É o que explica o número de adeptos que a simples leitura de O livro dos espíritos produziu. Acreditais que esse número seria o que é hoje, se nunca tivéssemos passado das mesas giratórias e falantes?

V. — O senhor tinha razão de dizer que das mesas giratórias e falantes saiu uma doutrina filosófica, e longe estava eu de suspeitar as consequências que surgiram de um fato encarado como simples objeto de curiosidade. Agora vejo quanto é vasto o campo aberto pelo vosso sistema.

A. K. — Nisso vos contesto, caro senhor; dais-me subida honra atribuindo-me esse sistema quando ele não me pertence. Ele foi totalmente deduzido do ensino dos Espíritos. Eu vi, observei, coordenei e procuro fazer compreender aos outros aquilo que compreendo; esta é a parte que me cabe. Há entre o Espiritismo e outros sistemas filosóficos esta diferença capital; que estes são todos obra de homens, mais ou menos esclarecidos, ao passo que, naquele que me atribuís, eu não tenho o mérito da invenção de um só princípio.
Diz-se: a filosofia de Platão, de Descartes, de Leibnitz; nunca se poderá dizer: a doutrina de Allan Kardec; e isto, felizmente, pois que valor pode ter um nome em assunto de tamanha gravidade? O Espiritismo tem auxiliares de maior preponderância, ao lado dos quais somos simples átomos.




Estudo do Livro dos Espíritos







600. Sobrevivendo ao corpo em que habitou, a alma do animal vem a achar-se, depois da morte, num estado de erraticidade, como a do homem?

“Fica numa espécie de erraticidade, pois que não mais se acha unida ao corpo, mas não é um Espírito errante. O Espírito errante é um ser que pensa e obra por sua livre vontade. De idêntica faculdade não dispõe o dos animais. A consciência de si mesmo é o que constitui o principal atributo do Espírito. O do animal, depois da morte, é classificado pelos Espíritos a quem incumbe essa tarefa e utilizado quase imediatamente. Não lhe é dado tempo de entrar em relação com outras criaturas.”




Que a graça e a paz sejam conosco!

sábado, 23 de setembro de 2017

O que é o Espiritismo


"O Senhor é o meu Pastor, nada me faltará." -( Salmos, 23: 1 )-




Amados irmãos, bom dia!
"Quando tantos companheiros da Humanidade se vêm impedidos de caminhar para a solução dos problemas que lhe são próprios, considera a tua prerrogativa de caminhar para socorrê-los. E, se te vês em carência de amor ou alegria, exerce, para logo, o teu privilégio de compreender e auxiliar." -( Mãos Unidas - Chico Xavier / Emmanuel )- 





Esquecimento do passado

V. — Não consigo explicar a mim mesmo como pode o homem aproveitar da experiência adquirida em suas anteriores existências, quando não se lembra delas, pois que, desde que lhe falta essa reminiscência, cada existência é para ele qual se fora a primeira; deste modo, está sempre a recomeçar. Suponhamos que cada dia, ao despertar, perdemos a memória de tudo quanto fizemos no dia anterior; quando chegássemos aos 70 anos, não estaríamos mais adiantados do que aos 10; ao passo que recordando as nossas faltas, inaptidões e punições que disso nos provieram, esforçar-nos-emos por evitá-las.
Para me servir da comparação que fizestes do homem, na Terra, com o aluno de um colégio, eu não compreendo como este poderia aproveitar as lições da quarta classe, não se lembrando do que aprendeu na anterior. Essas soluções de continuidade na vida do Espírito interrompem todas as relações e fazem dele, de alguma sorte, uma entidade nova; do que podemos concluir que os nossos pensamentos morrem com cada uma das nossas existências, para renascer em outra, sem consciência do que fomos; é uma espécie de aniquilamento.

A. K. — De pergunta em pergunta, levar-me-eis a fazer um curso completo de Espiritismo; todas as objeções que apresentais são naturais em quem ainda nada conhece, mas que, mediante estudo sério, pode encontrar-lhes respostas muito mais explícitas do que as que posso dar em sumária explicação que, por certo, deve sempre ir provocando novas questões.
Tudo se encadeia no Espiritismo, e, quando se toma o conjunto, vê-se que seus princípios emanam uns dos outros, servindo-se mutuamente de apoio; e, então, o que parecia uma anomalia contrária à justiça e à sabedoria de Deus, se torna natural e vem confirmar essa justiça e essa sabedoria. Tal é o problema do esquecimento do passado, que se prende a outras questões de não menor importância e, por isso, não farei aqui senão tocar levemente o assunto.
 Se em cada uma de suas existências um véu esconde o passado do Espírito, com isso nada perde ele das suas aquisições, apenas esquece o modo por que as conquistou. Servindo-me ainda da comparação supra com o aluno, direi que pouco importa saber onde, como, com que professores ele estudou as matérias de uma classe, uma vez que as saiba, quando passa para a classe seguinte. Se os castigos o tornaram laborioso e dócil, que lhe importa saber quando foi castigado por preguiçoso e insubordinado? É assim que, reencarnando, o homem traz por intuição e como ideias inatas, o que adquiriu em ciência e moralidade. Digo em moralidade porque se, no curso de uma existência, ele se melhorou, se soube tirar proveito das lições da experiência, se tornará melhor quando voltar; seu Espírito, amadurecido na escola do sofrimento e do trabalho, terá mais firmeza; longe de ter de recomeçar tudo, ele possui um fundo que vai sempre crescendo e sobre o qual se apoia para fazer maiores conquistas.

A segunda parte da vossa objeção, relativa ao aniquilamento do pensamento, não tem base mais segura, porque esse olvido só se dá durante a vida corporal; uma vez terminada ela, o Espírito recobra a lembrança do seu passado; então poderá julgar do caminho que seguiu e do que lhe resta ainda fazer; de modo que não há essa solução de continuidade em sua vida espiritual, que é a vida normal do Espírito. Esse esquecimento temporário é um benefício da Providência; a experiência só se adquire, muitas vezes, por provas rudes e terríveis expiações, cuja recordação seria muito penosa e viria aumentar as angústias e tribulações da vida presente. Se os sofrimentos da vida parecem longos, que seria se a eles se juntasse a lembrança do passado? Vós, por exemplo, meu amigo, sois hoje um homem de bem, mas talvez devais isso aos rudes castigos que recebestes pelos malefícios que hoje vos repugnariam à consciência; ser-vos-ia agradável a lembrança de ter sido outrora enforcado por vossa maldade? Não vos perseguiria a vergonha de saber que o mundo não ignorava o mal que tínheis feito? Que vos importa o que fizestes e o que sofrestes para expiar, quando hoje sois um homem estimável? Aos olhos do mundo, sois um homem novo; e aos olhos de Deus, um Espírito reabilitado. Livre da reminiscência de um passado importuno, viveis com mais liberdade; é para vós um novo ponto de partida; vossas dívidas anteriores estão pagas, cumprindo-vos ter cuidado de não contrair outras.
Quantos homens desejariam assim poder, durante a vida, lançar um véu sobre os seus primeiros anos! Quantos, ao chegar ao termo de sua carreira, não têm dito: “Se eu tivesse de recomeçar, não faria mais o que fiz!”
Pois bem, o que eles não podem fazer nesta mesma vida, fá-lo-ão em outra; em uma nova existência, seu Espírito trará, em estado de intuição, as boas resoluções que tiver tomado. É assim que se efetua gradualmente o progresso da humanidade. Suponhamos ainda — o que é um caso muito comum — que em vossas relações, em vossa família mesmo se encontre um indivíduo que vos deu outrora muitos motivos de queixa, que talvez vos arruinou, ou desonrou em outra existência, e que, Espírito arrependido, veio encarnar-se em vosso meio, ligar-se a vós pelos laços de família, a fim de reparar suas faltas para convosco, por seu devotamento e afeição; não vos acharíeis mutuamente na mais embaraçosa posição, se ambos vos lembrásseis de vossas passadas inimizades? Em vez de se extinguirem, os ódios se eternizariam.
Disso resulta que a reminiscência do passado perturbaria as relações sociais e seria um tropeço ao progresso. Quereis uma prova? Supondo que um indivíduo condenado às galés tome a firme resolução de tornar-se um homem de bem, que acontece quando ele termina o cumprimento da pena? A sociedade o repele, e essa repulsa o lança de novo nos braços do vício. Se, porém, todos desconhecessem os seus antecedentes, ele seria bem acolhido; e, se ele mesmo os esquecesse, poderia ser honesto e andar de cabeça erguida, em vez de ser obrigado a curvá-la sob o peso da vergonha do que não pode olvidar. Isto está em perfeita concordância com a Doutrina dos Espíritos, a respeito dos mundos superiores ao nosso planeta, nos quais, só reinando o bem, a lembrança do passado nada tem de penosa; eis por que seus habitantes se recordam da sua existência precedente, como nós nos recordamos hoje do que ontem fizemos.
Quanto à lembrança do que fizeram em mundos inferiores, ela produz neles a impressão de um mau sonho.




Estudo do Livro dos Espíritos






599. À alma dos animais é dado escolher a espécie de animal em que encarne?

“Não, pois que lhe falta livre-arbítrio.”




Qe a graça e a paz sejam conosco!

sexta-feira, 22 de setembro de 2017

O que é o Espiritismo


"Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste? Por que te alongas do meu auxílio e das palavras do meu bramido?" -( Salmos, 22: 1 )-




Amados irmãos, bom dia!
"Por maiores as tuas dificuldades, não esmoreças. Prossegue trabalhando e esperando, na trilha das obrigações que a vida te assinalou, porque Deus está agindo para resguardar-te em segurança e oferecer-te o melhor." -( Mãos Unidas - Chico Xavier / Emmanuel )-






Loucura, suicídio e obsessão

V. — Certas pessoas consideram as ideias espíritas como capazes de perturbar as faculdades mentais, pelo que acham prudente deter-lhes a propagação.

A. K. — Deveis conhecer o provérbio: “Quem quer matar o cão — diz que o cão está danado.”
Não é, portanto, estranhável que os inimigos do Espiritismo procurem agarrar-se a todos os pretextos; como este lhes pareceu próprio para despertar temores e suscetibilidades, empregam-no logo, conquanto não resista ao mais ligeiro exame. Ouvi, pois, a respeito dessa loucura, o raciocínio de um louco. Todas as grandes preocupações do espírito podem ocasionar a loucura; as Ciências, as Artes, a Religião mesmo, fornecem o seu contingente. A loucura provém de certo estado patológico do cérebro, instrumento do pensamento; estando o instrumento desorganizado, o pensamento fica alterado.
A loucura é, pois, um efeito consecutivo, cuja causa primária é uma predisposição orgânica, que torna o cérebro mais ou menos acessível a certas impressões; e isto é tão real que encontrareis pessoas que pensam excessivamente e não ficam loucas, ao passo que outras enlouquecem sob o influxo da menor excitação.
Existindo uma predisposição para a loucura, toma esta o caráter de preocupação principal, que então se torna ideia fixa; esta poderá ser a dos Espíritos, num indivíduo que deles se tenha ocupado, como poderá ser a de Deus, dos anjos, do diabo, da fortuna, do poder, de uma ciência, da maternidade, de um sistema político ou social. É provável que o louco religioso se tivesse tornado um louco espírita, se o Espiritismo fosse a sua preocupação dominante.
É certo que um jornal disse que se contavam, só em uma localidade da América, de cujo nome não me recordo, 4.000 casos de loucura espírita, mas é também sabido que os nossos adversários têm a ideia fixa de se crerem os únicos dotados de razão; é uma esquisitice como outra qualquer. Para eles, nós somos todos dignos de um hospital de doidos, e, por consequência, os 4.000 espíritas da localidade em questão eram considerados como loucos. Dessa espécie, os Estados Unidos contam centenas de milhares, e todos os países do mundo um número ainda muito maior. Esse gracejo de mau gosto começa a não ter valor, desde que tal moléstia vai invadindo as classes mais elevadas da sociedade.
Falam muito do caso de Victor Hennequin, mas se esquecem que, antes de se ocupar com os Espíritos, já ele havia dado provas de excentricidade nas suas ideias; se as mesas girantes não tivessem então aparecido (as quais, segundo um trocadilho bem espirituoso dos nossos adversários, lhe fizeram girar a cabeça), sua loucura teria seguido outro rumo. Eu digo, pois, que o Espiritismo não tem privilégio algum, nesse sentido, mas vou ainda além: afirmo que, bem compreendido, ele é um preservativo contra a loucura e o suicídio.
Entre as causas mais numerosas de excitação cerebral, devemos contar as decepções, os desastres, as afeições contrariadas, as quais são também as mais frequentes causas do suicídio. Ora, o verdadeiro espírita vê as coisas deste mundo de um ponto de vista tão elevado, que as tribulações não são para eles senão os incidentes desagradáveis de uma viagem. Aquilo que em outro qualquer produziria violenta comoção, afeta-o mediocremente. Ele sabe que os dissabores da vida são provas que servirão para o seu adiantamento, se as sofrer sem murmurar, porque sua recompensa será proporcional à coragem com que as houver suportado. Suas convicções dão-lhe, pois, uma resignação que o preserva do desespero e, por consequência, de uma causa incessante de loucura e de suicídio. Ele sabe, além disso, pelo espetáculo que lhe dão as comunicações com os Espíritos, a sorte deplorável dos que abreviam voluntariamente os seus dias, e este quadro é bem de molde a fazê-lo refletir; também é considerável o número dos que por esse meio têm sido detidos nesse funesto declive. É um dos grandes resultados do Espiritismo.
Em o número das causas de loucura, devemos também colocar o medo, principalmente do diabo, que já tem desarranjado mais de um cérebro. Sabe-se o número de vítimas que se tem feito, ferindo as imaginações fracas com esse painel que, por detalhes horrorosos, capricham em tornar mais assustador. O diabo, dizem, só causa medo às crianças, é um freio para corrigi-las; sim, como o papão e o lobisomem, que as contêm por algum tempo, tornando-se elas piores que antes, quando lhes perdem o medo; mas, em troca desse pequeno resultado, não contam as epilepsias que têm sua origem nesse abalo de cérebros tão delicados. Não confundamos a loucura patológica com a obsessão; esta não provém de lesão alguma cerebral, mas da subjugação que Espíritos malévolos exercem sobre certos indivíduos, e que, muitas vezes, têm as aparências da loucura propriamente dita. Esta afecção, muito frequente, é independente de qualquer crença no Espiritismo e existiu em todos os tempos. Neste caso, a medicação comum é impotente e mesmo prejudicial.
Fazendo conhecer esta nova causa de perturbação orgânica, o Espiritismo nos oferece, ao mesmo tempo, o único meio de vencê-la, agindo não sobre o enfermo, mas sobre o Espírito obsessor. O Espiritismo é o remédio, e não a causa do mal.




Estudo do Livro dos Espíritos






598. Após a morte, conserva a alma dos animais a sua individualidade e a consciência de si mesma?

“Conserva sua individualidade; quanto à consciência do seu eu, não. A vida inteligente lhe permanece em estado latente.”




Que a graça e a paz sejam conosco!

quinta-feira, 21 de setembro de 2017

O que é o Espiritismo


"O rei se alegra em tua força, Senhor; e na tua salvação grandemente se regozija" -( Salmos, 21: 1 )-




Amados irmãos, bom dia!
"Em quaisquer dificuldades e males, procura a prática do bem e, na lavoura incessante do bem, busca transpor obstáculo a obstáculo, na certeza de que assim liquidarás problema a problema. Isso porque “servir e esquecer” serão sempre as base da harmonia e da elevação. E a vida assim será constantemente porque se hoje somos chamados a agir em socorro aos outros, amanhã provavelmente serão os outros chamados a agir em socorro a nós." -( Mãos Unidas - Chico Xavier / Emmanuel )-







Utilidade prática das manifestações

V. — Admitamos que a coisa esteja comprovada, o Espiritismo reconhecido como realidade; qual a sua utilidade prática? Não se tendo sentido a sua falta até o presente, parece-me que se podia continuar a dispensá-lo, e viver sem ele, muito tranquilamente.

A. K. — Podíamos dizer o mesmo das vias férreas e do vapor, sem os quais também se vivia muito bem. Se utilidade prática, para vós, é dar meios de passar boa vida, fazer fortuna, conhecer o futuro, descobrir minas de carvão ou tesouros ocultos, arrecadar heranças, libertar-se do trabalho de estudar, o Espiritismo não na tem; ele não pode produzir altas e baixas na Bolsa, nem transformar-se em ações de Bancos, nem mesmo fornecer inventos já prontos e no estado de serem explorados. Sob tal ponto de vista, quantas ciências deixariam de ser úteis! Quantas delas não oferecem vantagem alguma, comercialmente falando!

Os homens passavam igualmente bem, antes da descoberta dos novos planetas, antes que se soubesse ser a Terra, e não o Sol, que se move, antes que se conhecesse o mundo microscópico e outras tantas coisas. O camponês, para viver e fazer brotar seu trigo, não precisa saber o que seja um planeta. Para que, pois, se entregam os sábios a esses estudos?
Há alguém que ouse dizer que eles perdem o tempo?
Tudo que serve para erguer uma ponta do véu que nos envolve, ajuda o desenvolvimento da inteligência, alarga o círculo das ideias, fazendo-nos melhor compreender as leis da natureza.
Ora, o mundo dos Espíritos existe em virtude de uma dessas leis naturais, e o Espiritismo nos faz conhecê-lo; ele nos mostra a influência que o mundo invisível exerce sobre o visível e as relações existentes entre eles, como a Astronomia nos ensina as que ligam os astros à Terra; ele no-lo faz ver como uma das forças que regem o universo e contribuem para a manutenção da harmonia geral.
Supondo que a isso se limitasse a sua utilidade, já não seria de grande importância a revelação de uma tal potência, abstraindo-se mesmo de toda a sua doutrina moral? De nada valerá um mundo inteiro novo que se nos revela, quando o conhecimento dele nos conduz à solução de tão grande número de problemas, até então insolúveis; quando ele nos inicia nos mistérios do além-túmulo, que nos devem interessar de algum modo, visto que todos nós, tarde ou cedo, temos de transpor esse marco fatal? O Espiritismo possui, porém, outra utilidade, mais positiva: é a natural influência moral que exerce. Ele é a prova patente da existência da alma, da sua individualidade depois da morte, da sua imortalidade, da sua sorte futura; é, pois, a destruição do materialismo, não pelo raciocínio, mas por fatos. Não convém pedir-lhe senão o que ele pode dar, e nunca o que está fora dos limites do seu fim providencial.
Antes dos progressos sérios da Astronomia, acreditava-se na Astrologia. Será razoável dizer-se que a Astronomia para nada serve, porque já não se pode encontrar na influência dos astros o prognóstico do destino? Assim como a Astronomia destronou os astrólogos, o Espiritismo veio destronar os adivinhos, os feiticeiros e os que liam a buena-dicha. Ele é, para a magia, o que é a Astronomia para a Astrologia, a Química para a Alquimia.




Estudo do Livro dos Espíritos






597. Pois que os animais possuem uma inteligência que lhes faculta certa liberdade de ação, haverá neles algum princípio independente da matéria?

“Há e que sobrevive ao corpo.”

a) — Será esse princípio uma alma semelhante à do homem?

“É também uma alma, se quiserdes, dependendo isto do sentido que se der a esta palavra. É, porém, inferior à do homem. Há entre a alma dos animais e a do homem distância equivalente à que medeia entre a alma do homem e Deus.”




Que a graça e a paz sejam conosco!

quarta-feira, 20 de setembro de 2017

O que é o Espiritismo


"Os céus declaram a glória de Deus; o firmamento proclama a obra das suas mãos.-( Salmos, 19: 1 )-





Amados irmãos, bom dia!
"Revisa tudo o que enxergaste, ouviste, acompanhaste e empreendeste, em apenas dois lustros de permanência na Terra, e verificarás que uma só luz persiste, acima de todos os fenômenos e acontecimentos do dia-a-dia, - a luz do amor que colocaste no dever retamente cumprido, perante as criaturas e ideais a que empenhaste o coração com o trabalho no bem dos outros, luz que permanece inapagável em nós e por nós, a iluminar-nos a estrada para a felicidade verdadeira, hoje e sempre." -( Mãos Unidas - Chico Xavier / Emmanuel )- 






Diversidade dos Espíritos

V. — Falais de Espíritos bons ou maus, sérios ou frívolos; confesso-vos que não compreendo essa diferença; parece-me que, deixando o envoltório corporal, os Espíritos se despojam das imperfeições inerentes à matéria; que a luz se deve fazer para eles, sobre todas as verdades que nos são ocultas, e que eles ficam libertos dos prejuízos terreno.

A. K. — Sem dúvida eles ficam livres das imperfeições físicas, isto é, das dores e enfermidades corporais; porém, as imperfeições morais são do Espírito, e não do corpo. Entre eles há alguns que são mais ou menos adiantados, moral e intelectualmente. Seria erro acreditar que os Espíritos, deixando o corpo material, recebem logo a luz da verdade.
É possível admitirdes que, quando morrerdes, não haja distinção alguma entre o vosso Espírito e o de um selvagem? Assim sendo, de que vos serviria ter trabalhado para a vossa instrução e melhoramento, quando um vadio, depois da morte, será tanto quanto vós?
O progresso dos Espíritos faz-se gradualmente e, algumas vezes, com muita lentidão. Entre eles alguns há que, por seu grau de aperfeiçoamento, veem as coisas sob um ponto de vista mais justo do que quando estavam encarnados; outros, pelo contrário, conservam ainda as mesmas paixões, os mesmos preconceitos e erros, até que o tempo e novas provas os venham esclarecer. Notai bem que o que digo é fruto da experiência, colhido no que eles nos dizem em suas comunicações. É, pois, um princípio elementar do Espiritismo que existem Espíritos de todos os graus de inteligência e moralidade.

V. — Por que não são perfeitos todos os Espíritos? Tê-los-á Deus assim criado em tão diversas categorias?

A. K. — É o mesmo que perguntar por que todos os alunos de um colégio não estão cursando a aula de Filosofia.
Todos os Espíritos têm a mesma origem e o mesmo destino; as diferenças que os separam não constituem espécies distintas, mas exprimem diversos graus de adiantamento. Os Espíritos não são perfeitos, porque não são mais do que as almas dos homens, que não atingiram também a perfeição; e, pela mesma razão, os homens não são perfeitos por serem encarnações de Espíritos mais ou menos adiantados. O mundo corporal e o mundo espiritual estão em contínuo revezamento; pela morte do corpo, o mundo corporal fornece seu contingente ao espiritual; pelos nascimentos, este alimenta a humanidade. Em cada nova existência, o Espírito dá maior ou menor passo no caminho do progresso, e, quando adquiriu na Terra a soma de conhecimentos e a elevação moral que o nosso globo comporta, ele o deixa, para ir viver em mundo mais elevado onde vai aprender novas coisas.
Os Espíritos que formam a população invisível da Terra são, de alguma sorte, o reflexo do mundo corporal; neles se encontram os mesmos vícios e as mesmas virtudes; há entre eles sábios, ignorantes e charlatães, prudentes e levianos, filósofos, raciocinadores, sistemáticos; como se não se despissem de seus prejuízos, todas as opiniões políticas e religiosas têm entre eles representantes; cada um fala segundo suas ideias, e o que eles dizem é, muitas vezes, apenas a sua opinião pessoal; eis o motivo por que se não deve crer cegamente em tudo o que dizem os Espíritos.

V. — Sendo assim, apresenta-se imensa dificuldade: nesses conflitos de opiniões diversas, como distinguir-se o erro da verdade? Não descubro a utilidade dos Espíritos, nem o que ganhamos em conversar com eles.

A. K. — Quando eles apenas servissem para dar-nos a prova de sua existência e de serem as almas dos homens, só isto seria de grande importância para quantos ainda duvidam que tenham uma alma e ignoram o que será deles depois da morte.
Como todas as ciências filosóficas, esta exige longos estudos e minuciosas observações; é só assim que se aprende a distinguir a verdade da impostura, e que se adquire os meios de afastar os Espíritos enganadores. Acima dessa turba de baixa esfera, existem os Espíritos superiores, que só têm em vista o bem, e cuja missão é guiar os homens pelo bom caminho; cumpre-nos sabê-los apreciar e compreender. Estes nos vêm ensinar grandes coisas, mas não julgueis que o estudo dos outros seja inútil; para bem conhecer um povo é necessário estudá-lo sob todas as faces. Vós mesmos tendes a prova disso; pensáveis que bastava aos Espíritos deixarem seu envoltório corpóreo para que ficassem isentos de todas as suas imperfeições; ora, são as comunicações com eles que nos ensinaram que isto não se dá, e fizeram-nos conhecer o verdadeiro estado do mundo espiritual, que a todos nós interessa no mais alto ponto, pois que todos temos que ir para lá.
Quanto aos erros que se podem originar da divergência de opiniões entre os Espíritos, eles desaparecem por si mesmos, à medida que se aprende a distinguir os bons dos maus, os sábios dos ignorantes, os sinceros dos hipócritas, absolutamente como se dá entre nós; então, o bom senso repelirá as falsas doutrinas.

V. — A minha observação subsiste sempre no ponto de vista das questões científicas e outras que podemos submeter aos Espíritos. A divergência de suas opiniões, sobre as teorias que dividem os sábios, deixa-nos na incerteza. Compreendo que, não possuindo todos o mesmo grau de instrução, não podem saber tudo, mas, então, que peso pode ter para nós a opinião daqueles que sabem, quando não podemos distinguir quem erra ou quem tem razão? Vale tanto dirigirmo-nos aos homens como aos Espíritos.

A. K. — Essa reflexão é ainda uma consequência da ignorância do verdadeiro caráter do Espiritismo.
Aquele que supõe nele achar meio fácil de saber tudo, de tudo descobrir, labora em grande erro. Os Espíritos não estão encarregados de trazer-nos a ciência já feita; seria, realmente, muito cômodo se nos bastasse pedir para sermos logo servidos, ficando assim dispensados do trabalho de estudar.
Deus quer que trabalhemos, que o nosso pensamento se exercite; e só por esse preço adquiriremos a ciência; os Espíritos não vêm libertar-nos dessa necessidade: eles são o que são; o Espiritismo tem por objeto estudá-los, a fim de que, por analogia, fiquemos sabendo o que seremos um dia; e não para nos fazer conhecer o que nos deve ser oculto, ou revelar-nos as coisas antes do tempo próprio.
Tampouco os Espíritos são leitores da buena-dicha, e aquele que se vangloria de obter deles certos segredos, prepara para si estranhas decepções da parte dos Espíritos galhofeiros; em uma palavra, o Espiritismo é uma ciência de observação, e não uma arte de adivinhar e especular. Nós o estudamos com o fim de conhecer o estado das individualidades do mundo invisível, as relações que nos prendem a elas, sua ação oculta sobre o mundo visível, e não para dele tirar qualquer vantagem material.
Deste ponto de vista, não há Espírito algum cujo estudo não nos traga alguma utilidade; alguma coisa aprendemos sempre com todos eles; as suas imperfeições, os defeitos, a incapacidade, a ignorância mesmo, são outros tantos objetos de observação, que nos iniciam na natureza íntima desse mundo; e quando eles não nos instruam, nós, estudando-os, nos instruímos, como fazemos quando observamos os costumes de um povo desconhecido para nós. Quanto aos Espíritos esclarecidos, esses nos ensinam muito, porém sempre nos limites do possível; nunca lhes perguntemos o que eles não podem ou não devem revelar; contentemo-nos com o que nos dizem; querer ir além é sujeitarmo-nos às manifestações dos Espíritos frívolos, sempre dispostos a falar de tudo. A experiência nos ensina a julgar do grau de confiança que lhes devemos conceder.




Estudo do Livro dos Espíritos







596. Donde procede a aptidão que certos animais denotam para imitar a linguagem do homem e por que essa aptidão se revela mais nas aves do que no macaco, por exemplo, cuja conformação apresenta mais analogia com a humana?

“Origina-se de uma particular conformação dos órgãos vocais, reforçada pelo instinto de imitação. O macaco imita os gestos; algumas aves imitam a voz.”




Que a graça e a paz sejam conosco!