"Como Deus é grande, nosso Deus dos séculos eternos. é Ele o nosso guia". -( Salmos, 47: 15 )-
Amados irmãos, bom dia!
Concluindo nossos estudos dessa semana, apresentamos alguns casos para reflexão. Sugerimos sejam lidos um a um e analisados com grande atenção.
Caso 1: Sanson* Antigo membro da Sociedade Espírita de Paris,
faleceu a 21 de abril de 1862, depois de um ano de atrozes padecimentos. Pediu
a Allan Kardec que o evocasse logo após a sua desencarnação, o que foi feito em
duas diferentes ocasiões.
Resumo do Caso
Kardec: Fostes tão sofredor que podemos, penso eu, perguntar
como vos achais agora... Sentis ainda as vossas dores? Comparando a situação de
hoje com a de dois dias atrás, que sensações experimentais?
Sanson: A minha situação é bem ditosa; acho-me regenerado,
renovado, como se diz entre vós, nada mais sentindo das antigas dores. A
passagem da vida terrena para a dos Espíritos deixou-me de começo num estado
incompreensível, porque ficamos algumas vezes muitos dias privados de lucidez.
Eu havia feito no entanto um pedido a Deus para permitir-me falar aos que
estimo, e Deus ouviu-me.
Kardec: Ao fim de que tempo recobrastes a lucidez das idéias?
Sanson: Ao fim de oito horas.
Kardec: Que efeito vos causa o vosso corpo aqui ao lado?
Sanson: Meu corpo! pobre, mísero despojo... volve ao pó,
enquanto eu guardo a lembrança de todos que me estimaram. Vejo essa pobre carne
decomposta, morada que foi do meu Espírito, provação de tantos anos! Obrigado,
mísero corpo, pois que purificaste o meu Espírito! O meu sofrimento, dez vezes
bendito, deu-me um lugar bem compensador, por isso que tão depressa posso
comunicar-me convosco...
Kardec: Conservastes as ideias até ao último instante?
Sanson: Sim. O meu Espírito conservou as suas faculdades, e
quando eu já não mais via, pressentia. Toda a minha existência se desdobrou na
memória e o meu último pensamento, a última prece, foi para que pudesse
comunicar-me convosco, como o faço agora; em seguida pedi a Deus que vos
protegesse, para que o sonho da minha vida se completasse.
Kardec: Tivestes consciência do momento em que o corpo exalou
o derradeiro suspiro? que se passou convosco nesse momento? que sensação
experimentastes?
Sanson: [...] Eu não sentia, nada compreendia e, no entanto,
uma felicidade inefável me extasiava de gozo, livre do peso das dores. [...]
Não vos atemorize a morte, meus amigos: ela é um estádio da vida [...] Repito:
coragem e boa-vontade! Não deis mais que medíocre valor aos bens terrenos, e
sereis recompensados.
Kardec: Dissestes que por ocasião de expirar nada víeis,
porém pressentíeis. Compreende-se que nada vísseis corporalmente, mas o que
pressentíeis antes da extinção seria já a claridade do mundo dos Espíritos?
Sanson: Foi o que eu disse precedentemente, o instante da
morte dá clarividência ao Espírito; os olhos não veem, porém o Espírito, que
possui uma vista bem mais profunda, descobre instantaneamente um mundo
desconhecido, e a verdade, brilhando de súbito, lhe dá momentaneamente imensa
alegria ou funda mágoa, conforme o estado de consciência e a lembrança da vida
passada.
Kardec: Podeis dizer-nos o que vos impressionou, o que vistes
no momento em que os vossos olhos se abriram à luz? Podeis descrever-nos, se é
possível, o aspecto das coisas que se vos depararam?
Sanson: Quando pude voltar a mim e ver o que tinha diante dos
olhos, fiquei como que ofuscado, sem poder compreender, porquanto a lucidez não
volta repentinamente. Deus, porém, que me deu uma prova exuberante da sua
bondade, permitiu-me recuperasse as faculdades, e foi então que me vi cercado
de numerosos, bons e fiéis amigos. Todos os Espíritos protetores que nos
assistem, rodeavam-me sorrindo; uma alegria sem par irradiava-lhes do semblante
e também eu, forte e animado, podia sem esforço percorrer os espaços. O que eu
vi não tem nome na linguagem dos homens.
* KARDEC, Allan. O céu e o inferno. Tradução de Manuel
Justiniano Quintão. 60. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007. Segunda parte, capítulo
2. Sanson, p. 188-198.
CASO 2: Sra. HÉLÈNE MICHEL
Resumo do Caso
Jovem de 25 anos, falecida subitamente no lar, sem
sofrimentos, sem causa previamente conhecida. Rica e um tanto frívola, a
leviandade de caráter predispunha-a mais para as futilidades da vida do que
para as coisas sérias. Não obstante, possuía um coração bondoso e era dócil,
afetuosa e caritativa. Evocada três dias após a morte por pessoas conhecidas,
exprimia-se assim: “Não sei onde estou... que turbação me cerca! Chamaste-me, e
eu vim. Não compreendo por que não estou em minha casa; lamentam a minha
ausência quando presente estou, sem poder fazer-me reconhecida. Meu corpo não
mais me pertence, e no entanto eu lhe sinto a algidez.. Quero deixá-lo e mais a
ele me prendo, sempre... Sou como que duas personalidades... Oh! quando
chegarei a compreender o que comigo se passa? É necessário que vá lá ainda...
meu outro “eu”, que lhe sucederá na minha ausência? Adeus.”
Comentário de Kardec: O sentimento da dualidade que não está
ainda destruído por uma completa separação, é aqui evidente. Caráter volúvel,
permitindo-lhe a posição e a fortuna a satisfação de todos os caprichos,
deveria igualmente favorecer as tendências de leviandade. Não admira, pois,
tenha sido lento o seu desprendimento, a ponto de, três dias após a morte,
sentir-se ainda ligada ao invólucro corporal. Mas, como não possuísse vícios
sérios e fosse de boa índole, essa situação nada tinha de penosa e não deveria
prolongar-se por muito tempo. Evocada novamente depois de alguns dias, as suas
ideias estavam já muito modificadas. Eis o que disse: “Obrigada por haverdes
orado por mim. Reconheço a bondade de Deus, que me subtraiu aos sofrimentos e
apreensões consequentes ao desligamento do meu Espírito. À minha pobre mãe será
dificílimo resignar-se; entretanto será confortada, e o que a seus olhos
constitui sensível desgraça, era fatal e indispensável para que as coisas do
Céu se lhe tornassem no que devem ser: tudo. Estarei ao seu lado até o fim da
sua provação terrestre, ajudando-a a suportá-la. “Não sou infeliz, porém, muito
tenho ainda a fazer para aproximar-me da situação dos bem-aventurados. Pedirei
a Deus me conceda voltar a essa Terra para reparação do tempo que aí perdi
nesta última existência. A fé vos ampare, meus amigos; confiai na eficácia da
prece, mormente quando partida do coração. Deus é bom.”
Allan Kardec: Levastes muito tempo a reconhecer-vos?
Hélène: Compreendi a morte no mesmo dia que por mim orastes.
Allan Kardec: Era doloroso o estado de perturbação?
Hélène: Não, eu não sofria, acreditava sonhar e aguardava o
despertar. Minha vida não foi isenta de dores, mas todo ser encarnado nesse
mundo deve sofrer. Resignando-me à vontade de Deus, a minha resignação foi por
Ele levada em conta. Grata vos sou pelas preces que me auxiliaram no
reconhecimento de mim mesma. Obrigada; voltarei sempre com prazer. Adeus.”
* KARDEC, Allan. O céu e o inferno. Tradução de Manuel
Justiniano Quintão. 60. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007. Segunda parte, capítulo
3. Hélène Michel, p. 264-266. 37
CASO 3: NOVEL
Resumo do Caso
O Espírito dirige-se ao médium, que em vida o conhecera. “Vou
contar-te o meu sofrimento quando morri. Meu Espírito, preso ao corpo por elos
materiais, teve grande dificuldade em desembaraçar-se – o que já foi, por si
uma rude angústia. A vida que eu deixava aos 21 anos era ainda tão vigorosa que
eu não podia crer na sua perda. Por isso procurava o corpo, estava admirado,
apavorado por me ver perdido num turbilhão de sombras. Por fim, a consciência
do meu estado e a revelação das faltas cometidas, em todas as minhas
encarnações, feriram-me subitamente, enquanto uma luz implacável me iluminava
os mais secretos âmagos da alma, que se sentia desnudada e logo possuída de
vergonha acabrunhante. Procurava fugir a essa influência interessando-me pelos
objetos que me cercavam, novos, mas que, no entanto, já conhecia; os Espíritos
luminosos, flutuando no éter, davam-me a ideia de uma ventura a que eu não
podia aspirar; formas sombrias e desoladas, mergulhadas umas em tedioso
desespero; furiosas ou irônicas outras, deslizavam em torno de mim ou por sobre
a terra a que me chumbava. Eu via agitarem-se os humanos cuja ignorância
invejava; toda uma ordem de sensações desconhecidas, ou antes reencontradas,
invadiram-me simultaneamente. Como que arrastado por força irresistível,
procurando fugir à dor encarniçada, franqueava as distâncias, os elementos, os
obstáculos materiais, sem que as belezas naturais nem os esplendores celestes
pudessem acalmar um instante a dor acerba da consciência, nem o pavor causado
pela revelação da eternidade. Pode um mortal prejulgar as torturas materiais
pelos arrepios da carne; mas as vossas frágeis dores, amenizadas pela
esperança, atenuadas por distrações ou mortas pelo esquecimento, não vos darão
nunca a ideia das angústias de uma alma que sofre sem tréguas, sem esperança,
sem arrependimento. Decorrido um tempo cuja duração não posso precisar,
invejando os eleitos cujos esplendores entrevia, detestando os maus Espíritos
que me perseguiam com remoques, desprezando os humanos cujas torpezas eu via,
passei de profundo abatimento a uma revolta insensata. Chamaste-me finalmente,
e pela primeira vez um sentimento suave e terno me acalmou; escutei os ensinos
que te dão os teus guias, a verdade impôs-se-me, orei; Deus ouviu-me,
revelou-se-me por sua Clemência, como já se me havia revelado por sua Justiça.
* KARDEC, Allan. O céu e o inferno. Tradução de Manuel
Justiniano Quintão. 60. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007. Segunda parte, capítulo
4. Novel, p. 284-285.
CASO 4: FRANÇOIS-SIMON LOUVET
Resumo do Caso
A seguinte comunicação foi dada espontaneamente, em uma
reunião espírita no Havre, a 12 de fevereiro de 1863: “Tereis piedade de um
pobre miserável que passa de há muito por cruéis torturas?! Oh! o vácuo... o
Espaço... despenho-me... caio... morro... Acudam-me! Deus, eu tive uma existência
tão miserável... Pobre diabo, sofri fome muitas vezes na velhice; e foi por
isso que me habituei a beber, a ter vergonha e desgosto de tudo. “Quis morrer,
e atirei-me... Oh! meu Deus! Que momento! E para que tal desejo, quando o termo
estava tão próximo? Orai, para que eu não veja incessantemente este vácuo
debaixo de mim.... Vou despedaçar-me de encontro a essas pedras! Eu vo-lo
suplico, a vós que conheceis as misérias dos que não mais pertencem a esse
mundo. Não me conheceis, mas eu sofro tanto... Para que mais provas? Sofro! Não
será isso o bastante? Se eu tivera fome, em vez deste sofrimento mais terrível
e aliás imperceptível para vós, não vacilaríeis em aliviar-me com uma migalha
de pão. Pois eu vos peço que oreis por mim... Não posso permanecer por mais
tempo neste estado... Perguntai a qualquer desses felizes que aqui estão, e
sabereis quem fui. Orai por mim.” Palavras de um benfeitor espiritual: “Esse
que acaba de se dirigir a vós foi um pobre infeliz que teve na Terra a prova da
miséria; vencido pelo desgosto, faltou-lhe a coragem, e, em vez de olhar para o
céu como devia, entregou-se à embriaguez; desceu aos extremos últimos do
desespero, pondo termo à sua triste provação: atirou-se da Torre Francisco I,
no dia 22 de julho de 1857. Tende piedade de sua pobre alma, que não é
adiantada, mas que lobriga da vida futura o bastante para sofrer e desejar uma
reparação. Rogai a Deus lhe conceda essa graça, e com isso tereis feito obra
meritória.” Buscando-se informes a respeito, encontrou-se no Journal du Havre,
de 23 de julho de 1857, a seguinte notícia local: “Ontem, às 4 horas da tarde,
os transeuntes do cais foram dolorosamente impressionados por um horrível
acidente: – um homem atirou-se da torre, vindo despedaçar-se sobre as pedras.
Era um velho puxador de sirga, cujo pendor à embriaguez o arrastara ao
suicídio. Chamava-se François-Victor-Simon Louvet. O corpo foi transportado
para a casa de uma das suas filhas, à rua de la Corderie. Tinha 67 anos de
idade.”
Comentário de Kardec: Seis anos fazia que esse homem morrera
e ele se via ainda cair da torre, despedaçando-se nas pedras... Aterra-o o
vácuo, horroriza-o a perspectiva da queda... e isso há 6 anos! Quanto tempo
durará tal estado? Ele não o sabe, e essa incerteza lhe aumenta as angústias.
* KARDEC, Allan. O céu e o inferno. Tradução de Manuel
Justiniano Quintão. 60. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007. Segunda parte, capítulo
5. François Simon Louvet, p. 322-324.
Continuamos abertos a críticas e sugestões, perguntas e também pedimos que sejamos lembrados em suas orações, para que esse trabalho seja sempre feito de acordo com a vontade do nosso Pai celestial.
Que a graça e a paz sejam conosco!