"Oferece a Deus um sacrifício de louvor e cumpre teus votos para com o Altíssimo". -( Salmos, 49: 14 )-
Amados irmãos, bom dia!
"O corpo é instrumento da dor. Se
não é a causa primária desta é, pelo menos, a causa imediata. A alma tem a
percepção da dor: essa percepção é o efeito".
Hoje estudaremos as sensações que os Espíritos experimentam após o desencarne.
Sensações e percepções dos Espíritos
“Sofrem os Espíritos? Que sensações experimentam? Tais
questões nos são naturalmente dirigidas e vamos tentar resolvê-las.
Inicialmente devemos dizer que, para isso, não nos contentamos com as respostas
dos Espíritos. De certa maneira, através de numerosas observações, tivemos que
considerar a sensação com o fato. Após essas considerações, registradas por
Kardec na Revista Espírita de 1858, mês de dezembro, o Codificador pede ao
Espírito São Luiz explicações sobre a penosa sensação de frio que um Espírito
dizia sentir. Esse relato intrigou Kardec de tal forma que o levou a indagar de
São Luiz: Concebemos os sofrimentos morais, como pesares, remorsos, vergonha;
mas calor e frio, a dor física, não são efeitos morais; experimentariam os
Espíritos tais sensações?7 O Espírito, então, lhe respondeu com outra pergunta:
Tua alma sente frio? Não; mas tem consciência da sensação que age sobre o
corpo. Refletindo sobre essas
informações Kardec conclui: Disso parece resultar que esse Espírito de avarento
não sentia frio real, mas a lembrança da sensação do frio que havia suportado e
essa lembrança, tida por ele como realidade, tornava-se um suplício. No
entanto, o benfeitor espiritual enfatiza: É mais ou menos isso. Fique bem
entendido que há uma distinção, que compreendeis perfeitamente, entre a dor
física e a dor moral; não se deve confundir o efeito com a causa.
Allan Kardec nos apresenta, com a lucidez que lhe é peculiar,
a seguinte análise deste assunto, tão útil quanto necessário à prática
mediúnica. O corpo é o instrumento da dor. Se não é a causa primária desta é,
pelo menos, a causa imediata. A alma tem a percepção da dor: essa percepção é o
efeito. A lembrança que da dor a alma conserva pode ser muito penosa, mas não
pode ter ação física. De fato, nem o frio, nem o calor são capazes de
desorganizar os tecidos da alma, que não é suscetível de congelar-se, nem de
queimar-se. Não vemos todos os dias a recordação ou a apreensão de um mal
físico produzirem o efeito desse mal, como se real fora? Não as vemos até causar
a morte? Toda gente sabe que aqueles a quem se amputou um membro costumam
sentir dor no membro que lhes falta. Certo que aí não está a sede, ou, sequer,
o ponto de partida da dor. O que há, apenas, é que o cérebro guardou desta a
impressão. Lícito, portanto, será admitir-se que coisa análoga ocorra nos
sofrimentos do Espírito após a morte. Um estudo aprofundado do perispírito, que
tão importante papel desempenha em todos os fenômenos espíritas; nas aparições
vaporosas ou tangíveis; no estado em que o Espírito vem a encontrar-se por
ocasião da morte; na ideia, que tão frequentemente manifesta, de que ainda está
vivo; nas situações tão comoventes que nos revelam os dos suicidas, dos
supliciados, dos que se deixaram absorver pelos gozos materiais; e inúmeros outros
fatos, muita luz lançaram sobre esta questão, dando lugar a explicações que
passamos a resumir.
As sensações e percepções sentidas e relatadas pelos
Espíritos são mediadas pelo perispírito [...], o princípio da vida orgânica,
porém não o da vida intelectual, que reside no Espírito. É, além disso, o
agente das sensações exteriores. No corpo, os órgãos, servindo-lhes de
condutos, localizam essas sensações. Destruído o corpo, elas se tornam gerais.
Daí o Espírito não dizer que sofre mais da cabeça do que dos pés, ou
vice-versa. Não se confundam, porém, as sensações do perispírito, que se tornou
independente, com as do corpo. Estas últimas só por termo de comparação as
podemos tomar e não por analogia. Liberto do corpo, o Espírito pode sofrer, mas
esse sofrimento não é corporal, embora não seja exclusivamente moral, como o
remorso, pois que ele se queixa de frio e calor. Também não sofre mais no
inverno do que no verão: temo-los visto atravessar chamas, sem experimentarem
qualquer dor. Nenhuma impressão lhes causa, conseguintemente, a temperatura. A
dor que sentem não é, pois, uma dor física propriamente dita: é um vago
sentimento íntimo, que o próprio Espírito nem sempre compreende bem,
precisamente porque a dor não se acha localizada e porque não a produzem
agentes exteriores; é mais uma reminiscência do que uma realidade,
reminiscência, porém, igualmente penosa.
Algumas vezes, entretanto, há mais do que isso, como vamos
ver. Nos dias atuais, este assunto é de
fácil assimilação, mesmo para o cidadão comum, devido ao progresso alcançado
pelas ciências psíquicas no século vinte e no atual. Este fato, aliás, nos faz
refletir sobre a incrível capacidade de análise de Kardec, pois sem contar com
os conhecimentos que temos nos dias atuais, conseguiu compreender nitidamente o
assunto. Continuando com as explicações, esclarece-nos o Codificador:
Ensina-nos a experiência que, por ocasião da morte, o perispírito se desprende
mais ou menos lentamente do corpo; que, durante os primeiros minutos depois da
desencarnação, o Espírito não encontra explicação para a situação em que se
acha. Crê não estar morto, por isso que se sente vivo; vê a um lado o corpo,
sabe que lhe pertence, mas não compreende que esteja separado dele. Essa
situação dura enquanto haja qualquer ligação entre o corpo e o perispírito.
Disse-nos, certa vez, um suicida: “Não, não estou morto.” E acrescentava: “No
entanto, sinto os vermes a me roerem.” Ora, indubitavelmente, os vermes não lhe
roíam o perispírito e ainda menos o Espírito; roíam-lhe apenas o corpo. Como,
porém, não era completa a separação do corpo e do perispírito, uma espécie de
repercussão moral se produzia, transmitindo ao Espírito o que estava ocorrendo
no corpo. Repercussão talvez não seja o termo próprio, porque pode induzir à
suposição de um efeito muito material. Era antes a visão do que se passava com
o corpo, ao qual ainda o conservava ligado o perispírito, o que lhe causava a
ilusão, que ele tomava por realidade. Assim, pois, não haveria no caso uma
reminiscência, porquanto ele não fora, em vida, roído pelos vermes: havia o
sentimento de um fato da atualidade. Isto mostra que deduções se podem tirar
dos fatos, quando atentamente observados. Durante a vida, o corpo recebe
impressões exteriores e as transmite ao Espírito por intermédio do perispírito,
que constitui, provavelmente, o que se chama fluido nervoso. Uma vez morto, o
corpo nada mais sente, por já não haver nele Espírito, nem perispírito. Este,
desprendido do corpo, experimenta a sensação, porém, como já não lhe chega por um
conduto limitado, ela se lhe torna geral. Ora, não sendo o perispírito,
realmente, mais do que simples agente de transmissão, pois que no Espírito é
que está a consciência, lógico será deduzir-se que, se pudesse existir
perispírito sem Espírito, aquele nada sentiria, exatamente como um corpo que
morreu. Do mesmo modo, se o Espírito não tivesse perispírito, seria inacessível
a toda e qualquer sensação dolorosa. É o que se dá com os Espíritos
completamente purificados. Sabemos que quanto mais eles se purificam, tanto
mais etérea se torna a essência do perispírito, donde se segue que a influência
material diminui à medida que o Espírito progride, isto é, à medida que o
próprio perispírito se torna menos grosseiro. Dizendo que os Espíritos são
inacessíveis às impressões da matéria que conhecemos, referimo-nos aos
Espíritos muito elevados, cujo envoltório etéreo não encontra analogia neste
mundo. Outro tanto não acontece com os de perispírito mais denso, os quais
percebem os nossos sons e odores, não, porém, apenas por uma parte limitada de
suas individualidades, conforme lhes sucedia quando vivos. Pode-se dizer que,
neles, as vibrações moleculares se fazem sentir em todo o ser e lhes chegam
assim ao sensorium commune, que é o próprio Espírito, embora de modo diverso e
talvez, também, dando uma impressão diferente, o que modifica a percepção. Eles
ouvem o som da nossa voz, entretanto nos compreendem sem o auxílio da palavra,
somente pela transmissão do pensamento. Em apoio do que dizemos há o fato de
que essa penetração é tanto mais fácil, quanto mais desmaterializado está o
Espírito. Pelo que concerne à vista, essa, para o Espírito, independe da luz,
qual a temos. A faculdade de ver é um atributo essencial da alma, para quem a
obscuridade não existe. É, contudo, mais extensa, mais penetrante nas mais
purificadas. A alma, ou o Espírito, tem, pois, em si mesma, a faculdade de
todas as percepções. Estas, na vida corpórea, se obliteram pela grosseria dos
órgãos do corpo; na vida extracorpórea se vão desanuviando, à proporção que o
invólucro semimaterial se eteriza.
Podemos, então, concluir com Kardec: Os Espíritos possuem
todas as percepções que tinham na Terra, porém em grau mais alto, porque as
suas faculdades não estão amortecidas pela matéria; eles têm sensações desconhecidas
por nós, veem e ouvem coisas que os nossos sentidos limitados nos não permitem
ver nem ouvir. Para eles não há obscuridade, excetuando-se aqueles que, por
punição, se acham temporariamente nas trevas”.
-( FEB )-
Que a graça e a paz sejam conosco!
Nenhum comentário:
Postar um comentário