"Ganho entendimento por meio dos teus preceitos; por isso odeio todo caminho de falsidade." -( Salmo, 119: 104 )-
Amados irmãos, bom dia!
Hoje apresentamos um tema que além de interessante, vem nos abrir o entendimento sobre uma série de questões que até então, deixavam dúvidas à real compreensão. Que nosso Mestre Jesus e os bons Espíritos nos capacitem para que possamos assimilar tão preciosos ensinamentos.
Estudo do Livro dos Espíritos
CONSIDERAÇÕES E CONCORDÂNCIAS BÍBLICAS CONCERNENTES À CRIAÇÃO
59. Os povos hão formado idéias muito divergentes acerca da
Criação, de acordo com as luzes que possuíam. Apoiada na Ciência,
a razão reconheceu a inverossimilhança de algumas dessas
teorias. A que os Espíritos apresentam confirma a opinião de há
muito partilhada pelos homens mais esclarecidos.
A objeção que se lhe pode fazer é a de estar em contradição
com o texto dos livros sagrados. Mas, um exame sério mostrará
que essa contradição é mais aparente do que real e que decorre da interpretação dada ao que muitas vezes só tinha sentido
alegórico.
A questão de ter sido Adão, como primeiro homem, a origem
exclusiva da Humanidade, não é a única a cujo respeito as crenças religiosas tiveram que se modificar. O movimento da Terra
pareceu, em determinada época, tão em oposição às letras sagradas,
que não houve gênero de perseguições a que essa teoria não
tivesse servido de pretexto, e, no entanto, a Terra gira, malgrado
aos anátemas, não podendo ninguém hoje contestá-lo, sem
agravo à sua própria razão.
Diz também a Bíblia que o mundo foi criado em seis dias e
põe a época da sua criação há quatro mil anos, mais ou menos,
antes da era cristã. Anteriormente, a Terra não existia; foi tirada
do nada: o texto é formal. Eis, porém, que a ciência positiva, a
inexorável ciência, prova o contrário. A história da formação do
globo terráqueo está escrita em caracteres irrecusáveis no mundo
fóssil, achando-se provado que os seis dias da criação indicam
outros tantos períodos, cada um de, talvez, muitas centenas de
milhares de anos. Isto não é um sistema, uma doutrina, uma
opinião insulada; é um fato tão certo como o do movimento da
Terra e que a Teologia não pode negar-se a admitir, o que demonstra
evidentemente o erro em que se está sujeito a cair tomando
ao pé da letra expressões de uma linguagem freqüentemente
figurada. Dever-se-á daí concluir que a Bíblia é um erro?
Não; a conclusão a tirar-se é que os homens se equivocaram ao
interpretá-la.
Escavando os arquivos da Terra, a Ciência descobriu em que
ordem os seres vivos lhe apareceram na superfície, ordem que está
de acordo com o que diz a Gênese, havendo apenas a notar-se
a diferença de que essa obra, em vez de executada milagrosamente
por Deus em algumas horas, se realizou, sempre pela sua vontade,
mas conformemente à lei das forças da Natureza, em alguns
milhões de anos. Ficou sendo Deus, por isso, menor e menos
poderoso? Perdeu em sublimidade a sua obra, por não ter o prestígio da instantaneidade? Indubitavelmente, não. Fora mister fazer-se
da Divindade bem mesquinha idéia, para se não reconhecer
a sua onipotência nas leis eternas que ela estabeleceu para
regerem os mundos. A Ciência, longe de apoucar a obra divina,
no-la mostra sob aspecto mais grandioso e mais acorde com as
noções que temos do poder e da majestade de Deus, pela razão
mesma de ela se haver efetuado sem derrogação das leis da Natureza.
De acordo, neste ponto, com Moisés, a Ciência coloca o homem
em último lugar na ordem da criação dos seres vivos. Moisés,
porém, indica, como sendo o do dilúvio universal, o ano 4.654 da
formação do mundo, ao passo que a Geologia nos aponta o grande
cataclismo como anterior ao aparecimento do homem, atendendo
a que, até hoje, não se encontrou, nas camadas primitivas,
traço algum de sua presença, nem da dos animais de igual
categoria, do ponto de vista físico. Contudo, nada prova que isso
seja impossível. Muitas descobertas já fizeram surgir dúvidas a
tal respeito. Pode dar-se que, de um momento para outro, se adquira
a certeza material da anterioridade da raça humana e então
se reconhecerá que, a esse propósito, como a tantos outros, o
texto bíblico encerra uma figura. A questão está em saber se
o cataclismo geológico é o mesmo a que assistiu Noé. Ora, o tempo
necessário à formação das camadas fósseis não permite confundi-los
e, desde que se achem vestígios da existência do homem
antes da grande catástrofe, provado ficará, ou que Adão não
foi o primeiro homem, ou que a sua criação se perde na noite dos
tempos. Contra a evidência não há raciocínios possíveis; forçoso
será aceitar-se esse fato, como se aceitaram o do movimento da
Terra e os seis períodos da Criação.
A existência do homem antes do dilúvio geológico ainda é,
com efeito, hipotética. Eis aqui, porém, alguma coisa que o é
menos. Admitindo-se que o homem tenha aparecido pela primeira
vez na Terra 4.000 anos antes do Cristo e que, 1.650 anos
mais tarde, toda a raça humana foi destruída, com exceção de
uma só família, resulta que o povoamento da Terra data apenas de Noé, ou seja: de 2.350 anos antes da nossa era. Ora, quando
os hebreus emigraram para o Egito, no décimo oitavo século, encontraram
esse país muito povoado e já bastante adiantado em
civilização. A História prova que, nessa época, as Índias e outros
países também estavam florescentes, sem mesmo se ter em conta
a cronologia de certos povos, que remonta a uma época muito
mais afastada. Teria sido preciso, nesse caso, que do vigésimo
quarto ao décimo oitavo século, isto é, que num espaço de 600
anos, não somente a posteridade de um único homem houvesse
podido povoar todos os imensos países então conhecidos, suposto
que os outros não o fossem, mas também que, nesse curto
lapso de tempo, a espécie humana houvesse podido elevar-se da
ignorância absoluta do estado primitivo ao mais alto grau de
desenvolvimento intelectual, o que é contrário a todas as leis
antropológicas.
A diversidade das raças corrobora, igualmente, esta opinião.
O clima e os costumes produzem, é certo, modificações no caráter físico; sabe-se, porém, até onde pode ir a influência dessas
causas. Entretanto, o exame fisiológico demonstra haver, entre
certas raças, diferenças constitucionais mais profundas do que
as que o clima é capaz de determinar. O cruzamento das raças dá
origem aos tipos intermediários. Ele tende a apagar os caracteres
extremos, mas não os cria; apenas produz variedades. Ora, para
que tenha havido cruzamento de raças, preciso era que houvesse
raças distintas. Como, porém, se explicará a existência delas,
atribuindo-se-lhes uma origem comum e, sobretudo, tão pouco
afastada? Como se há de admitir que, em poucos séculos, alguns
descendentes de Noé se tenham transformado ao ponto de produzirem
a raça etíope, por exemplo? Tão pouco admissível é semelhante
metamorfose, quanto a hipótese de uma origem comum
para o lobo e o cordeiro, para o elefante e o pulgão, para o pássaro
e o peixe. Ainda uma vez: nada pode prevalecer contra a evidência
dos fatos.
Tudo, ao invés, se explica, admitindo-se: que a existência do
homem é anterior à época em que vulgarmente se pretende que ela começou; que diversas são as origens; que Adão, vivendo há
seis mil anos, tenha povoado uma região ainda desabitada; que o
dilúvio de Noé foi uma catástrofe parcial, confundida com o cataclismo
geológico; e atentando-se, finalmente, na forma alegórica
peculiar ao estilo oriental, forma que se nos depara nos livros
sagrados de todos os povos. Isto faz ver quanto é prudente não
lançar levianamente a pecha de falsas as doutrinas que podem,
cedo ou tarde, como tantas outras, desmentir os que as combatem.
As idéias religiosas, longe de perderem alguma coisa, se engrandecem,
caminhando de par com a Ciência. Esse o meio único
de não apresentarem lado vulnerável ao cepticismo.
Que a graça e a paz sejam conosco!
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