"Se um homem não renascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus". ( São João, cap. 3 )
Amados irmãos, bom dia!
Eis a grande revelação que nos foi dada; a eternidade da nossa existência! Não somos apenas seres que nascem, vivem e morrem, mas, fomos criados para a eternidade. Temos um caminho longo e, às vezes difícil de compreender, mas, nosso Pai, o Deus de amor em sua infinita justiça e incontestável sabedoria tudo preparou para que possamos haurir a plena felicidade.
O texto a seguir é extenso, mas, devemos meditá-lo com grande atenção.
4. A reencarnação fazia parte dos
dogmas dos judeus, sob o nome de ressurreição. Só os saduceus, cuja crença era
a de que tudo acaba com a morte, não acreditavam nisso. As ideias dos judeus
sobre esse ponto, como sobre muitos outros, não eram claramente definidas,
porque apenas tinham vagas e incompletas noções acerca da alma e da sua ligação
com o corpo. Eles acreditavam que um homem que vivera podia reviver, sem
saberem precisamente de que maneira o fato poderia dar-se. Designavam pelo
termo ressurreição o que o Espiritismo chama reencarnação, com mais sensatez.
Com efeito, a ressurreição dá ideia de voltar à vida o corpo que já está morto,
o que a Ciência demonstra ser materialmente impossível, sobretudo quando os
elementos desse corpo já se acham desde muito tempo espalhados e absorvidos. A
reencarnação é a volta da alma ou Espírito à vida corpórea, mas em outro corpo
especialmente formado para ele e que nada tem de comum com o antigo. A palavra
ressurreição podia assim aplicar-se a Lázaro, mas não a Elias, nem aos outros
profetas. Se, portanto, segundo a crença deles, João Batista era Elias, o corpo
de João não podia ser o de Elias, pois que João fora visto criança e seus pais
eram conhecidos. João, pois, podia ser Elias reencarnado, porém, não ressuscitado.
5. Ora, entre os fariseus, havia
um homem chamado Nicodemos, senador dos judeus, que veio à noite ter com Jesus
e lhe disse: “Mestre, sabemos que vieste da parte de Deus para nos instruir
como um doutor, pois ninguém poderia fazer os milagres que fazes, se Deus não
estivesse com ele.” Jesus lhe respondeu: “Em verdade te digo: Ninguém pode ver
o reino de Deus se não nascer de novo”. Disse-lhe Nicodemos: “Como pode nascer
um homem já velho? Pode tornar a entrar no ventre de sua mãe, para nascer
segunda vez?” Retrucou-lhe Jesus: “Em verdade te digo: Se um homem não renasce
da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus. O que é nascido da
carne é carne e o que é nascido do Espírito é Espírito. Não te admires de que
eu te tenha dito ser preciso que nasças de novo. O Espírito sopra onde quer e
ouves a sua voz mas não sabes donde vem ele, nem para onde vai; o mesmo se dá
com todo homem que é nascido do Espírito.” Respondeu-lhe Nicodemos: “Como isso
pode acontecer?” – Jesus lhe observou: “Pois quê! Tu és mestre em Israel e
ignoras estas coisas? Digo-te em verdade, que não dizemos senão o que sabemos e
que não damos testemunho, senão do que temos visto. Entretanto, não aceitas o
nosso testemunho. Mas, se vocês não creem em mim quando vos falo das coisas da
Terra, como me acreditarão, quando vos fale das coisas do céu?” ( JOÃO, 3:1-12)
6. A ideia de que João Batista
era Elias e de que os profetas podiam reviver na Terra se nos depara em muitas
passagens dos Evangelhos, notadamente nas acima reproduzidas (nº 1, 2, 3). Se
essa crença fosse errada, Jesus não houvera deixado de combatê-la, como
combateu tantas outras. Longe disso, ele a aprova com toda a sua autoridade e a
põe por princípio e como condição necessária, quando diz: “Ninguém pode ver o
reino de Deus se não nascer de novo”. E insiste, acrescentando: “Não te admires
de que eu te tenha dito ser preciso nasças de novo”.
7. Estas palavras: Se um homem
não renasce da água e do Espírito foram interpretadas no sentido da regeneração
pela água do batismo. O texto primitivo, porém, rezava simplesmente: não
renasce da água e do Espírito, ao passo que 1 – O EVANGELHO SEGUNDO O
ESPIRITISMO nalgumas traduções as palavras – do Espírito – foram substituídas
pelas seguintes: do Santo Espírito, o que já não corresponde ao mesmo
pensamento. Esse ponto capital ressalta dos primeiros comentários a que os
Evangelhos deram lugar, como se comprovará um dia, sem equívoco possível (*).
(*) A tradução de Osterwald está conforme o texto primitivo. Diz: “Não renasce da água e do Espírito”; a de Sacy diz: do Santo Espírito; a de Lamennais: do Espírito Santo. À nota de Allan Kardec, podemos hoje acrescentar que as modernas traduções já restituíram o texto primitivo, pois que só imprimem “Espírito” e não Espírito Santo. Examinamos a tradução brasileira, a inglesa, a em Esperanto, a de Ferreira de Almeida, e em todas elas está somente “Espírito”. Além dessas modernas, encontramos a confirmação numa latina de Theodoro de Beza, de 1642, que diz: “...genitus ex aqua et Spiritu...” “...et quod genitum est ex Spiritu, spiritus est.” É fora de dúvida que a palavra “Santo” foi interpolada, como diz Kardec. – A Editora da FEB, 1947. 2 – Allan Kardec
8. Para se apanhar o verdadeiro
sentido dessas palavras, cumpre também se atente na significação do termo água
que ali não foi usado no sentido que lhe é próprio. Os conhecimentos dos
antigos sobre as ciências físicas eram muito imperfeitos. Eles acreditavam que
a Terra saíra das águas e, por isso, consideravam a água como elemento gerador absoluto.
Assim é que na GÊNESE se lê: “O Espírito de Deus era levado sobre as águas;
flutuava sobre as águas; – Que o firmamento seja feito no meio das águas; – Que
as águas que estão debaixo do céu se reúnam em um só lugar e que apareça o
elemento árido; – Que as águas produzam animais vivos que nadem na água e
pássaros que voem sobre a terra e sob o firmamento.” Segundo essa crença, a
água se tornara o símbolo da natureza material, como o Espírito era o da
natureza inteligente. Estas palavras: “Se o homem não renasce da água e do
Espírito, ou em água e em Espírito”, significam pois: “Se o homem não renasce
com seu corpo e sua alma.” É nesse sentido que a princípio as compreenderam.
Tal interpretação se justifica, aliás, por estas outras palavras: O que é nascido
da carne é carne e o que é nascido do Espírito é Espírito. Jesus estabelece aí
uma distinção positiva entre o Espírito e o corpo. O que é nascido da carne é
carne indica claramente que só o corpo procede do corpo e que o Espírito não
depende deste.
9. O Espírito sopra onde quer;
ouves-lhe a voz, mas não sabes nem donde ele vem, nem para onde vai: pode-se
entender que se trata do Espírito de Deus, que dá vida a quem Ele quer, ou da
alma do homem. Nesta última acepção – “não sabes donde ele vem, nem para onde
vai” – significa que ninguém sabe o que foi, nem o que será o Espírito. Se o
Espírito, ou alma, fosse criado ao mesmo tempo em que o corpo, saberíamos donde
ele veio, pois que se lhe conheceria o começo. Como quer que seja, essa
passagem consagra o princípio da preexistência da alma e, por conseguinte, o da
pluralidade das existências.
10. “Ora, desde o tempo de João
Batista até o presente, o reino dos céus é tomado pela violência e são os
violentos que o arrebatam; – pois que assim profetizaram todos os profetas até
João, e também a lei. Se quiserdes compreender o que vos digo, ele mesmo é o
Elias que há de vir. Ouça-o aquele que tiver ouvidos de ouvir”. (MATEUS,
11:12-15.)
11. Se o princípio da
reencarnação — conforme se acha expresso em JOÃO — podia ser interpretado, a
rigor, em sentido puramente místico, o mesmo já não acontece com esta passagem
de MATEUS, que não permite equívoco: “ELE MESMO é o Elias que há de vir”. Não
há aí nenhuma figura, nem alegoria: é uma afirmação positiva: “Desde o tempo de
João Batista até o presente o reino dos céus é tomado pela violência”. Que
significam essas palavras, uma vez que João Batista ainda vivia naquele
momento? Jesus as explica, dizendo: “Se quiserem compreender o que digo, ele
mesmo é o Elias que há de vir”. Ora, João sendo o próprio Elias, Jesus menciona
à época em que João vivia com o nome de Elias. “Até ao presente o reino dos
céus é tomado pela violência”: outra referência à violência da lei mosaica, que
ordenava o extermínio dos infiéis, para que os demais ganhassem a Terra
Prometida, Paraíso dos hebreus, ao passo que, segundo a nova lei, o céu se
ganha pela caridade e pela brandura. E acrescentou: Ouça aquele que tiver
ouvidos de ouvir. Essas palavras, que Jesus tanto repetiu, claramente dizem que
nem todos estavam em condições de compreender certas verdades.
12. Aqueles do seu povo a quem a
morte foi dada viverão de novo; aqueles que estavam mortos em meio a mim
ressuscitarão. Despertem do seu sono e entoem louvores a Deus, vocês que
habitam no pó; porque o orvalho que cai sobre vocês é um orvalho de luz e
porque arruinarão a Terra e o reino dos gigantes. (ISAÍAS, 26:19.)
13. É também muito explícita esta
passagem de Isaías: “Aqueles do seu povo a quem a morte foi dada viverão de
novo". Se o profeta quis falar da vida espiritual, se tinha pretendido
dizer que aqueles que tinham sido executados não estavam mortos em Espírito,
teria dito: ainda vivem, e não: viverão de novo. No sentido espiritual, essas
palavras seriam um contrassenso, pois que implicariam uma interrupção na vida
da alma. No sentido de regeneração moral, seriam a negação das penas eternas,
pois que estabelecem, em princípio, que todos os que estão mortos reviverão.
14. Mas, quando o homem tiver
morrido uma vez, quando seu corpo, separado de seu espírito, foi consumido, que
é feito dele? – Tendo morrido uma vez, poderia o homem reviver de novo? Nesta
guerra em que me acho todos os dias da minha vida, espero que chegue a minha
mutação. (JÓ,14:10-14) [Tradução de Le Maistre de Sacy] Quando o homem morre,
perde toda a sua força, expira. Depois, onde está ele? – Se o homem morre,
viverá de novo? Esperarei todos os dias de meu combate, até que venha alguma
mutação. [Tradução protestante de Osterwald] Quando o homem está morto, vive
sempre; acabando os dias da minha existência terrestre, esperarei, pois a ela
voltarei de novo. [Versão da Igreja grega]
15. Nessas três versões, o
princípio da pluralidade das existências se acha 3 – O EVANGELHO SEGUNDO O
ESPIRITISMO claramente expresso. Ninguém poderá supor que Jó quis falar da
regeneração pela água do batismo, que ele decerto não conhecia. “Tendo o homem
morrido uma vez, poderia reviver de novo?” A ideia de morrer uma vez, e de
reviver implica a de morrer e reviver muitas vezes. A versão da Igreja grega
ainda é mais explícita, se é que isso é possível: “Acabando os dias da minha
existência terrena, esperarei, pois a ela voltarei”, ou, voltarei à existência
terrestre. Isso é tão claro, como se alguém dissesse: “Saio de minha casa, mas
a ela tornarei”. “Nesta guerra em que me encontro todos os dias de minha vida,
espero que se dê a minha mutação.” Jó, evidentemente, pretendeu referir-se à
luta que sustentava contra as misérias da vida. Espera a sua mutação, isto é,
resigna-se. Na versão grega, esperarei parece aplicar-se, preferentemente, a
uma nova existência: “Quando a minha existência estiver acabada, esperarei,
pois a ela voltarei.” Jó como que se coloca, após a morte, no intervalo que
separa uma existência de outra e diz que lá aguardará o momento de voltar.
16. Não há mais como duvidar de
que, sob o nome de ressurreição, o princípio da reencarnação era ponto de uma
das crenças fundamentais dos judeus, ponto que Jesus e os profetas confirmaram
de modo formal; donde se segue que negar a reencarnação é negar as palavras do
Cristo. Um dia, porém, quando suas palavras forem meditadas sem ideias
preconcebidas, elas serão reconhecidas e autorizadas quanto a esse ponto, bem
como em relação a muitos outros.
17. A essa autoridade, do ponto
de vista religioso, se acrescenta, do ponto de vista filosófico, a das provas
que resultam da observação dos fatos. Quando se trata de remontar dos efeitos
às causas, a reencarnação surge como de necessidade absoluta, como condição
essencial à Humanidade; numa palavra: como lei da Natureza. Pelos seus
resultados, ela se evidencia, de modo, por assim dizer, material, da mesma
forma que o motor oculto se revela pelo movimento. Só ela pode dizer ao homem
donde ele vem, para onde vai, por que está na Terra, e justificar todas as
irregularidades e todas as aparentes injustiças que a vida apresenta. Sem o
princípio da preexistência da alma e da pluralidade das existências, as máximas
do Evangelho são incompreensíveis, em sua maioria, razão por que tem dado lugar
a interpretações tão contraditórias. Está nesse princípio a chave que lhes
restituirá o sentido verdadeiro. ( O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. 4 )
Desejamos que tenham um ótimo dia com a graça e a paz do nosso Mestre Jesus.
Abraço fraterno!
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