"A caridade é sofredora, é benigna, a caridade não é invejosa, não trata com leviandade, não se ensoberbece." - Paulo - ( I Coríntios, 13:4 )
Amados irmãos, bom dia!
"Aquele que dá para mostrar-se é vaidoso. Aquele que dá irradiando amor silencioso sem propósito de recompensas e sem mescla de personalismo inferior, reserva o Plano maior o título de Irmão." -( Vinha de Luz - Chico Xavier / Emmanuel )-
Nosso estudo de hoje devido à sua complexidade, se restringirá à questão 222 do Livro dos Espíritos. Roguemos ao nosso Mestre Jesus e aos bons Espíritos nos auxiliem na compreensão de tão maravilhosos ensinamentos.
Estudo do Livro dos Espíritos
CONSIDERAÇÕES SOBRE A PLURALIDADE DAS EXISTÊNCIAS
222. "Não é novo, dizem alguns, o dogma da reencarnação;
ressuscitaram-no da doutrina de Pitágoras. Nunca dissemos
ser de invenção moderna a Doutrina Espírita. Constituindo
uma lei da Natureza, o Espiritismo há de ter existido
desde a origem dos tempos e sempre nos esforçamos por
demonstrar que dele se descobrem sinais na antiguidade
mais remota.
Pitágoras, como se sabe, não foi o autor do
sistema da metempsicose; ele o colheu dos filósofos indianos
e dos egípcios, que o tinham desde tempos imemoriais.
A idéia da transmigração das almas formava, pois, uma
crença vulgar, aceita pelos homens mais eminentes. De que
modo a adquiriram? Por uma revelação, ou por intuição?
Ignoramo-lo. Seja, porém, como for, o que não padece dúvida
é que uma idéia não atravessa séculos e séculos, nem
consegue impor-se a inteligências de escol, se não contiver
algo de sério. Assim, a ancianidade desta doutrina, em vez
de ser uma objeção, seria prova a seu favor. Contudo, entre a metempsicose dos antigos e a moderna doutrina da reencarnação,
há, como também se sabe, profunda diferença,
assinalada pelo fato de os Espíritos rejeitarem, de maneira
absoluta, a transmigração da alma do homem para os
animais e reciprocamente.
Portanto, ensinando o dogma da pluralidade das existências
corporais, os Espíritos renovam uma doutrina que
teve origem nas primeiras idades do mundo e que se conservou
no íntimo de muitas pessoas, até aos nossos dias.
Simplesmente, eles a apresentam de um ponto de vista mais
racional, mais acorde com as leis progressivas da Natureza
e mais de conformidade com a sabedoria do Criador, despindo-a
de todos os acessórios da superstição.
Circunstância
digna de nota é que não só neste livro os Espíritos a
ensinaram no decurso dos últimos tempos: já antes da sua
publicação, numerosas comunicações da mesma natureza
se obtiveram em vários países, multiplicando-se depois,
consideravelmente. Talvez fosse aqui o caso de examinarmos
por que os Espíritos não parecem todos de acordo sobre
esta questão. Mais tarde, porém, voltaremos a este assunto.
Examinemos de outro ponto de vista a matéria e, abstraindo
de qualquer intervenção dos Espíritos, deixemo-los
de lado, por enquanto.
Suponhamos que esta teoria nada
tenha que ver com eles; suponhamos mesmo que jamais se
haja cogitado de Espíritos. Coloquemo-nos, momentaneamente,
num terreno neutro, admitindo o mesmo grau de
probabilidade para ambas as hipóteses, isto é, a da pluralidade
e a da unicidade das existências corpóreas, e vejamos
para que lado a razão e o nosso próprio interesse nos
farão pender.
Muitos repelem a idéia da reencarnação pelo só motivo
de ela não lhes convir. Dizem que uma existência já lhes
chega de sobra e que, portanto, não desejariam recomeçar
outra semelhante. De alguns sabemos que saltam em fúria
só com o pensarem que tenham de voltar à Terra. Perguntar-lhes-emos
apenas se imaginam que Deus lhes pediu o
parecer, ou consultou os gostos, para regular o Universo.
Uma de duas: ou a reencarnação existe, ou não existe; se
existe, nada importa que os contrarie; terão que a sofrer,
sem que para isso lhes peça Deus permissão. Afiguram-se-nos
os que assim falam um doente a dizer: Sofri hoje bastante,
não quero sofrer mais amanhã. Qualquer que seja o seu
mau humor, não terá por isso que sofrer menos no dia seguinte,
nem nos que se sucederem, até que se ache curado.
Conseguintemente, se os que de tal maneira se externam
tiverem que viver de novo, corporalmente, tornarão a viver,
reencarnarão. Nada lhes adiantará rebelarem-se, quais
crianças que não querem ir para o colégio, ou condenados,
para a prisão. Passarão pelo que têm de passar. São demasiado
pueris semelhantes objeções, para merecerem mais
seriamente examinadas.
Diremos, todavia, aos que as formulam
que se tranquilizem, que a Doutrina Espírita, no
tocante à reencarnação, não é tão terrível como a julgam;
que, se a houvessem estudado a fundo, não se mostrariam
tão aterrorizados; saberiam que deles dependem as condições da nova existência, que será feliz ou desgraçada, conforme
ao que tiverem feito neste mundo; que desde agora
poderão elevar-se tão alto que a recaída no lodaçal não lhes
seja mais de temer.
Supomos dirigir-nos a pessoas que acreditam num
futuro depois da morte e não aos que criam para si a perspectiva do nada, ou pretendem que suas almas se vão
afogar num todo universal, onde perdem a individualidade,
como os pingos da chuva no oceano, o que vem a dar quase
no mesmo. Ora, pois: se credes num futuro qualquer, certo
não admitis que ele seja idêntico para todos, porquanto, de
outro modo, qual a utilidade do bem? Por que haveria o
homem de constranger-se? Por que deixaria de satisfazer a
todas as suas paixões, a todos os seus desejos, embora
à custa de outrem, uma vez que por isso não ficaria sendo
melhor, nem pior?
Credes, ao contrário, que esse futuro
será mais ou menos ditoso ou inditoso, conforme ao que
houverdes feito durante a vida e então desejais que seja tão
afortunado quanto possível, visto que há de durar pela eternidade,
não? Mas, porventura, teríeis a pretensão de ser
dos homens mais perfeitos que hajam existido na Terra e,
pois, com direito a alcançardes de um salto a suprema felicidade
dos eleitos? Não. Admitis então que há homens de
valor maior do que o vosso e com direito a um lugar melhor,
sem daí resultar que vos conteis entre os réprobos. Pois
bem! Colocai-vos mentalmente, por um instante, nessa situação
intermédia, que será a vossa, como acabastes de
reconhecer, e imaginar que alguém vos venha dizer: Sofreis;
não sois tão felizes quanto poderíeis ser, ao passo que diante
de vós estão seres que gozam de completa ventura. Quereis
mudar na deles a vossa posição? — Certamente, respondereis;
que devemos fazer? — Quase nada: recomeçar o trabalho
mal executado e executá-lo melhor. — Hesitaríeis em
aceitar, ainda que a poder de muitas existências de provações?
Façamos outra comparação mais prosaica. Figuremos
que a um homem que, sem ter chegado à miséria extrema,
sofre, no entanto, privações, por escassez de recursos, viessem dizer: Aqui está uma riqueza imensa de que podes
gozar; para isto só é necessário que trabalhes arduamente
durante um minuto. Fosse ele o mais preguiçoso da Terra,
que sem hesitar diria: Trabalhemos um minuto, dois minutos,
uma hora, um dia, se for preciso. Que importa isso,
desde que me leve a acabar os meus dias na fartura? Ora,
que é a duração da vida corpórea, em confronto com a eternidade?
Menos que um minuto, menos que um segundo.
Temos visto algumas pessoas raciocinarem deste modo:
Não é possível que Deus, soberanamente bom como é, imponha
ao homem a obrigação de recomeçar uma série de
misérias e tribulações. Acharão, porventura, essas pessoas
que há mais bondade em condenar Deus o homem a sofrer
perpetuamente, por motivo de alguns momentos de erro,
do que em lhe facultar meios de reparar suas faltas?
“Dois
industriais contrataram dois operários, cada um dos quais
podia aspirar a se tornar sócio do respectivo patrão. Aconteceu
que esses dois operários certa vez empregaram muito
mal o seu dia, merecendo ambos ser despedidos. Um dos
industriais, não obstante as súplicas do seu, o mandou
embora e o pobre operário, não tendo achado mais trabalho,
acabou por morrer na miséria. O outro disse ao seu:
Perdeste um dia; deves-me por isso uma compensação.
Executaste mal o teu trabalho; ficaste a me dever uma reparação.
Consinto que o recomeces. Trata de executá-lo
bem, que te conservarei ao meu serviço e poderás continuar
aspirando à posição superior que te prometi.” Será
preciso perguntemos qual dos industriais foi mais humano?
Dar-se-á que Deus, que é a clemência mesma, seja
mais inexorável do que um homem?
Alguma coisa de pungente há na idéia de que a nossa
sorte fique para sempre decidida, por efeito de alguns anos
de provações, ainda quando de nós não tenha dependido o
atingirmos a perfeição, ao passo que eminentemente
consoladora é a idéia oposta, que nos permite a esperança.
Assim, sem nos pronunciarmos pró ou contra a pluralidade
das existências, sem preferirmos uma hipótese a outra,
declaramos que, se aos homens fosse dado escolher, ninguém
quereria o julgamento sem apelação.
Disse um filósofo que, se Deus não existisse, fora mister inventá-lo, para
felicidade do gênero humano. Outro tanto se poderia dizer
da pluralidade das existências. Mas, conforme atrás ponderamos,
Deus não nos pede permissão, nem consulta os
nossos gostos. Ou isto é, ou não é. Vejamos de que lado
estão as probabilidades e encaremos de outro ponto de vista
o assunto, unicamente como estudo filosófico, sempre
abstraindo do ensino dos Espíritos.
Se não há reencarnação, só há, evidentemente, uma
existência corporal. Se a nossa atual existência corpórea é
única, a alma de cada homem foi criada por ocasião do seu
nascimento, a menos que se admita a anterioridade da alma,
caso em que caberia perguntar o que era ela antes do nascimento
e se o estado em que se achava não constituía
uma existência sob forma qualquer. Não há meio termo: ou
a alma existia, ou não existia antes do corpo. Se existia,
qual a sua situação? Tinha, ou não, consciência de si mesma?
Se não tinha, é quase como se não existisse. Se tinha
individualidade, era progressiva, ou estacionária? Num e
noutro caso, a que grau chegara ao tomar o corpo? Admitindo,
de acordo com a crença vulgar, que a alma nasce com o corpo, ou, o que vem a ser o mesmo, que, antes de
encarnar, só dispõe de faculdades negativas, perguntamos:
1º Por que mostra a alma aptidões tão diversas e independentes
das idéias que a educação lhe fez adquirir?
2º Donde vem a aptidão extranormal que muitas crianças em tenra idade revelam, para esta ou aquela arte, para
esta ou aquela ciência, enquanto outras se conservam inferiores
ou medíocres durante a vida toda?
3º Donde, em uns, as idéias inatas ou intuitivas, que
noutros não existem?
4º Donde, em certas crianças, o instinto precoce que
revelam para os vícios ou para as virtudes, os sentimentos
inatos de dignidade ou de baixeza, contrastando com o meio
em que elas nasceram?
5º Por que, abstraindo-se da educação, uns homens
são mais adiantados do que outros?
6º Por que há selvagens e homens civilizados? Se
tomardes de um menino hotentote recém-nascido e o
educardes nos nossos melhores liceus, fareis dele algum
dia um Laplace ou um Newton?
Qual a filosofia ou a teosofia capaz de resolver estes
problemas? É fora de dúvida que, ou as almas são iguais ao
nascerem, ou são desiguais. Se são iguais, por que, entre
elas, tão grande diversidade de aptidões? Dir-se-á que isso
depende do organismo. Mas, então, achamo-nos em presença
da mais monstruosa e imoral das doutrinas. O homem
seria simples máquina, joguete da matéria; deixaria
de ter a responsabilidade de seus atos, pois que poderia atribuir tudo às suas imperfeições físicas. Se as almas são
desiguais, é que Deus as criou assim. Nesse caso, porém,
por que a inata superioridade concedida a algumas? Corresponderá
essa parcialidade à justiça de Deus e ao amor
que Ele consagra igualmente a todas as suas criaturas?
Admitamos, ao contrário, uma série de progressivas
existências anteriores para cada alma e tudo se explica. Ao
nascerem, trazem os homens a intuição do que aprenderam
antes: São mais ou menos adiantados, conforme o
número de existências que contem, conforme já estejam
mais ou menos afastados do ponto de partida. Dá-se aí
exatamente o que se observa numa reunião de indivíduos
de todas as idades, onde cada um terá desenvolvimento
proporcionado ao número de anos que tenha vivido. As existências
sucessivas serão, para a vida da alma, o que os
anos são para a do corpo. Reuni, em certo dia, um milheiro
de indivíduos de um a oitenta anos; suponde que um véu
encubra todos os dias precedentes ao em que os reunistes
e que, em consequência, acreditais que todos nasceram na
mesma ocasião. Perguntareis naturalmente como é que uns
são grandes e outros pequenos, uns velhos e jovens outros,
instruídos uns, outros ainda ignorantes. Se, porém, dissipando-se
a nuvem que lhes oculta o passado, vierdes a saber
que todos hão vivido mais ou menos tempo, tudo se vos
tornará explicado. Deus, em sua justiça, não pode ter criado
almas desigualmente perfeitas. Com a pluralidade das
existências, a desigualdade que notamos nada mais apresenta
em oposição à mais rigorosa equidade: é que apenas
vemos o presente e não o passado. A este raciocínio serve
de base algum sistema, alguma suposição gratuita? Não. Partimos de um fato patente, incontestável: a desigualdade
das aptidões e do desenvolvimento intelectual e moral e
verificamos que nenhuma das teorias correntes o explica,
ao passo que uma outra teoria lhe dá explicação simples,
natural e lógica. Será racional preferir-se as que não explicam
àquela que explica?
À vista da sexta interrogação acima, dirão naturalmente
que o hotentote é de raça inferior. Perguntaremos, então,
se o hotentote é ou não um homem. Se é, por que a ele e à
sua raça privou Deus dos privilégios concedidos à raça
caucásica? Se não é, por que tentar fazê-lo cristão? A Doutrina
Espírita tem mais amplitude do que tudo isto. Segundo
ela, não há muitas espécies de homens, há tão-somente
homens cujos espíritos estão mais ou menos atrasados,
porém todos suscetíveis de progredir. Não é este princípio
mais conforme à justiça de Deus?
Vimos de apreciar a alma com relação ao seu passado
e ao seu presente. Se a considerarmos, tendo em vista o
seu futuro, esbarraremos nas mesmas dificuldades.
1ª Se a nossa existência atual é que, só ela, decidirá da
nossa sorte vindoura, quais, na vida futura, as posições
respectivas do selvagem e do homem civilizado? Estarão no
mesmo nível, ou se acharão distanciados um do outro,
no tocante à soma de felicidade eterna que lhes caiba?
2ª O homem que trabalhou toda a sua vida por melhorar-se,
virá a ocupar a mesma categoria de outro que se
conservou em grau inferior de adiantamento, não por
culpa sua, mas porque não teve tempo, nem possibilidade
de se tornar melhor?
3ª O que praticou o mal, por não ter podido instruir-se, será culpado de um estado de coisas cuja existência
em nada dependeu dele?
4ª Trabalha-se continuamente por esclarecer, moralizar,
civilizar os homens. Mas, em contraposição a um que
fica esclarecido, milhões de outros morrem todos os dias
antes que a luz lhes tenha chegado. Qual a sorte destes
últimos? Serão tratados como réprobos? No caso contrário,
que fizeram para ocupar categoria idêntica à dos outros?
5ª Que sorte aguarda os que morrem na infância, quando
ainda não puderam fazer nem o bem, nem o mal? Se vão
para o meio dos eleitos, por que esse favor, sem que coisa
alguma hajam feito para merecê-lo? Em virtude de que
privilégio eles se vêem isentos das tribulações da vida?
Haverá alguma doutrina capaz de resolver esses problemas?
Admitam-se as existências consecutivas e tudo se
explicará conformemente à justiça de Deus. O que se não
pôde fazer numa existência faz-se em outra. Assim é que
ninguém escapa à lei do progresso, que cada um será
recompensado segundo o seu merecimento real e que
ninguém fica excluído da felicidade suprema, a que todos
podem aspirar, quaisquer que sejam os obstáculos com que
topem no caminho.
Essas questões facilmente se multiplicariam ao infinito,
porquanto inúmeros são os problemas psicológicos e
morais que só na pluralidade das existências encontram
solução. Limitamo-nos a formular as de ordem mais geral.
Como quer que seja, alegar-se-á talvez que a Igreja não
admite a doutrina da reencarnação; que ela subverteria a
religião. Não temos o intuito de tratar dessa questão neste momento. Basta-nos o havermos demonstrado que aquela
doutrina é eminentemente moral e racional. Ora, o que é
moral e racional não pode estar em oposição a uma religião
que proclama ser Deus a bondade e a razão por excelência.
Que teria sido da religião, se, contra a opinião universal e o
testemunho da ciência, se houvesse obstinadamente
recusado a render-se à evidência e expulsado de seu seio
todos os que não acreditassem no movimento do Sol ou
nos seis dias da criação? Que crédito houvera merecido e
que autoridade teria tido, entre povos cultos, uma religião
fundada em erros manifestos e que os impusesse como artigos
de fé? Logo que a evidência se patenteou, a Igreja,
criteriosamente, se colocou do lado da evidência. Uma vez
provado que certas coisas existentes seriam impossíveis sem
a reencarnação, que, a não ser por esse meio, não se consegue
explicar alguns pontos do dogma, cumpre admiti-lo
e reconhecer meramente aparente o antagonismo entre esta
doutrina e a dogmática. Mais adiante mostraremos que talvez
seja muito menor do que se pensa a distância que, da
doutrina das vidas sucessivas, separa a religião e que a
esta não faria aquela doutrina maior mal do que lhe fizeram
as descobertas do movimento da Terra e dos períodos
geológicos, as quais, à primeira vista, pareceram desmentir
os textos sagrados. Demais, o princípio da reencarna-
ção ressalta de muitas passagens das Escrituras, achando-se
especialmente formulado, de modo explícito, no
Evangelho:
“Quando desciam da montanha (depois da transfiguração),
Jesus lhes fez esta recomendação: Não faleis a ninguém
do que acabastes de ver, até que o Filho do homem
tenha ressuscitado, dentre os mortos. Perguntaram-lhe então seus discípulos: Por que dizem os escribas ser preciso
que primeiro venha Elias? Respondeu-lhes Jesus: É certo
que Elias há de vir e que restabelecerá todas as coisas.
Mas, eu vos declaro que Elias já veio, e eles não o conheceram
e o fizeram sofrer como entenderam. Do mesmo modo
darão a morte ao Filho do homem. Compreenderam então
seus discípulos que era de João Batista que ele lhes
falava.” (São Mateus, cap. 17)
Pois que João Batista fora Elias, houve reencarnação
do Espírito ou da alma de Elias no corpo de João Batista.
Em suma, como quer que opinemos acerca da reencarnação,
quer a aceitemos, quer não, isso não constituirá
motivo para que deixemos de sofrê-la, desde que ela exista,
malgrado a todas as crenças em contrário. O essencial está
em que o ensino dos Espíritos é eminentemente cristão;
apóia-se na imortalidade da alma, nas penas e recompensas
futuras, na justiça de Deus, no livre-arbítrio do
homem, na moral do Cristo. Logo, não é anti-religioso.
Temos raciocinado, abstraindo, como dissemos, de
qualquer ensinamento espírita que, para certas pessoas,
carece de autoridade. Não é somente porque veio dos Espíritos que nós e tantos outros nos fizemos adeptos da pluralidade
das existências. É porque essa doutrina nos pareceu
a mais lógica e porque só ela resolve questões até então
insolúveis.
Ainda quando fosse da autoria de um simples mortal,
tê-la-íamos igualmente adotado e não houvéramos hesitado
um segundo mais em renunciar às idéias que esposávamos.
Em sendo demonstrado o erro, muito mais que perder
do que ganhar tem o amor-próprio, com o se obstinar na sustentação de uma idéia falsa. Assim também, tê-la-íamos
repelido, mesmo que provindo dos Espíritos, se nos parecera
contrária à razão, como repelimos muitas outras, pois
sabemos, por experiência, que não se deve aceitar cegamente
tudo o que venha deles, da mesma forma que se não
deve adotar às cegas tudo o que proceda dos homens. O
melhor título que, ao nosso ver, recomenda a idéia da reencarnação
é o de ser, antes de tudo, lógica.
Outro, no entanto,
ela apresenta: o de a confirmarem os fatos, fatos positivos
e por bem dizer, materiais, que um estudo atento e
criterioso revela a quem se dê ao trabalho de observar com
paciência e perseverança e diante dos quais não há mais
lugar para a dúvida. Quando esses fatos se houverem vulgarizado,
como os da formação e do movimento da Terra,
forçoso será que todos se rendam à evidência e os que se
lhes colocaram em oposição ver-se-ão constrangidos a
desdizer-se.
Reconheçamos, portanto, em resumo, que só a doutrina
da pluralidade das existências explica o que, sem ela, se
mantém inexplicável; que é altamente consoladora e conforme
à mais rigorosa justiça; que constitui para o homem
a âncora de salvação que Deus, por misericórdia, lhe
concedeu.
As próprias palavras de Jesus não permitem dúvida a
tal respeito. Eis o que se lê no Evangelho de São João,
capítulo 3:
3. Respondendo a Nicodemos, disse Jesus: Em verdade,
em verdade te digo que, se um homem não nascer de
novo, não poderá ver o reino de Deus. 4. Disse-lhe Nicodemos: Como pode um homem
nascer já estando velho? Pode tornar ao ventre de sua mãe
para nascer segunda vez?
5. Respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo
que, se um homem não renascer da água e do Espírito, não
poderá entrar no reino de Deus. O que é nascido da carne é
carne e o que é nascido do Espírito é Espírito. Não te admires
de que eu te tenha dito: é necessário que torneis a nascer."
Que a graça e a paz sejam conosco!
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