“E isto vos farão, porque não conhecem ao Pai nem a mim.” - Jesus - ( João, 16:3 )
Amados irmãos, bom dia!
"Dolorosas perplexidades não raro assaltam os discípulos, inspirando-lhes
interrogações. O Mestre Divino esclareceu esse grande problema por antecipação. A ignorância é a fonte comum do desequilíbrio. E se esse ou aquele grupo
de criaturas busca impedir as manifestações do bem, é que desconhece, por
enquanto, as bênçãos do Céu." -( Pão Nosso - Chico Xavier / Emmanuel )-
Texto evangélico:
"Não cuideis que vim trazer a paz à Terra; não vim trazer paz,
mas espada; porque eu vim pôr em dissensão o homem contra seu pai,
e a filha contra sua mãe, e a nora contra sua sogra.
E, assim, os inimigos do homem serão os seus familiares" (Mt 10:34-36).
"Observamos, em O evangelho segundo o espiritismo, o cuidado
de Kardec e dos Espíritos orientadores em analisar o sentido moral dos
textos da Boa-Nova, relacionando-os às reais necessidades do aprendiz,
ainda carente de renovação espiritual. No capítulo XXIII, intitulado
Estranha moral, itens 9 a 17, observamos o zelo do Codificador em
tornar claro o entendimento do leitor em relação ao texto de Mateus,
acima citado, de modo a que não venha, sob o jugo da letra, interpretar
o Evangelho fora do seu amplo sentido educativo, como “cartilha de
vida”. Mesmo assim, não são poucos os que se detendo na superfície
dos ensinamentos, partem para discussões estéreis, desenvolvendo
polêmicas inúteis.
A despeito de o apóstolo Paulo ter afirmado que ‘‘a letra mata
e o espírito vivifica’’ (II Cor 3:6), tem sido ela, a letra, o casulo que
vem mantendo guardada a essência dos ensinos ao longo dos séculos.
Faz-se necessário, no entanto, que se realize o trabalho de extrair o
espírito da letra.
Entendemos que a Doutrina Espírita pode realizar essa tarefa,
uma vez que, confiando nas promessas do Cristo, ensina que o
Espiritismo é o Consolador
Prometido, de acordo com esta afirmativa de Jesus: “Mas aquele
Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, vos
ensinará todas as coisas e vos fará lembrar tudo quanto vos tenho
dito” (Jo 14:26).
Dessa forma, cabe aos espíritas agir como cristãos autênticos e
realizar essa tarefa, a despeito do reconhecimento das próprias carências
espirituais, mas com a compreensão de que as verdades espirituais são, em
geral, percebidas pelos “pequeninos” e ocultas aos “sábios e entendidos”.
Interpretação do texto evangélico
» Não cuideis que vim trazer a paz à Terra; não vim trazer paz, mas
espada (Mt 10:34).
Este texto chama a atenção pela aparente contradição que encerra:
não é Jesus chamado de O príncipe da paz? Como é possível Ele,
o Governador espiritual do orbe, nos oferecer uma proposta de “paz”
inerte, de ordem parasitária, ou beatífica, fundamentada na violência?
Inúmeros leitores do Evangelho perturbam-se ante essas afirmativas do
Mestre divino, porquanto o conceito de paz, entre os homens, desde
muitos séculos foi visceralmente viciado.
Na expressão comum, ter paz
significa haver atingido garantias exteriores, dentro das quais possa
o corpo vegetar sem cuidados, rodeando-se o homem de servidores,
apodrecendo na ociosidade e ausentando-se dos movimentos da vida.
Jesus não poderia endossar tranquilidade desse jaez [...]. É preciso muito cuidado na análise dessa citação evangélica,
pois uma interpretação literal pode favorecer manifestações de lutas
externas sob o jugo da “espada”, fato que não deixa de representar
uma perigosa insensatez, considerando-se ser Jesus, guia e modelo
da humanidade.
O Espírito Emmanuel, lucidamente, esclarece este texto evangélico.
É indispensável não confundir a paz do mundo com a paz do Cristo. A
calma do plano inferior pode não passar de estacionamento. A serenidade
das esferas mais altas significa trabalho divino, a caminho da Luz
imortal. [...] Nos círculos da carne, a paz das nações costuma representar
o silêncio provisório das baionetas; a dos abastados inconscientes é
a preguiça improdutiva e incapaz; a dos que se revoltam, no quadro de
lutas necessárias, é a manifestação do desespero doentio; a dos ociosos
sistemáticos, é a fuga ao trabalho; a dos arbitrários, é a satisfação dos
próprios caprichos; a dos vaidosos, é o aplauso da ignorância; a dos
vingativos, é a destruição dos adversários; a dos maus, é a vitória da
crueldade; a dos negociantes sagazes, é a exploração inferior; a dos
que se agarram às sensações de baixo teor, é a viciação dos sentidos;
a dos comilões, é o repasto opulento do estômago, embora haja fome
espiritual no coração.
O versículo de Mateus mostra que a paz deve ser compreendida
como o estado da consciência tranquila, obtida pelo cumprimento do dever e decorrente da constante vigilância sobre as nossas imperfeições.
É na terra do coração que se trava a verdadeira guerra de melhoria
dos sentimentos. A “espada” é, neste sentido, um instrumento de
progresso que “corta” as nossas más inclinações, num processo de
intensa batalha íntima.
Até agora, há Espíritos imperfeitos que querem implementar a
evolução sob o impacto das paixões, em atendimento às exigências dos
sentidos, mas que produzem sofrimentos e dificultam a manifestação
da felicidade, ansiosamente aguardada. Por esta razão, o Espiritismo
nos mostra que é medida de bom senso aprender para viver com
acerto e eficiência uma vida digna, feliz, amando e servindo ao próximo. Devemos, então, buscar a “[...] paz do Senhor, paz que excede
o entendimento, por nascida e cultivada, portas a dentro do Espírito,
no campo da consciência e no santuário do coração.”
A espada aludida pelo Cristo é, pois, um simbolismo.
Em contraposição ao falso princípio estabelecido no mundo, trouxe
consigo a luta regeneradora, a espada simbólica do conhecimento
interior pela revelação divina, a fim de que o homem inicie a batalha
do aperfeiçoamento em si mesmo. É a espada que elimina o que há de ruim nas nossas experiências
e nos faz selecionar pensamentos, palavras e ações que garantem a vitória
sobre nós mesmos na caminhada ascensional. Laborar no regime
das causas geradoras de desarmonias, buscando desativá-las, é sempre
mais gratificante, é medida de bom senso pela utilização dos recursos
da fé raciocinada e do conhecimento.
A espada citada no texto evangélico está também representada
na cruz, símbolo do Cristianismo. A cruz encravada no alto do Gólgota
revela a vitória do bem sobre o mal, mostrando que, por meio dos
sacrifícios, das renúncias e dos exemplos no bem, a criatura humana
pode regenerar-se.
Compreendemos, assim, que a felicidade é uma
conquista individual, que passa, necessariamente pelo reconhecimento
das próprias imperfeições e se prolonga nas batalhas travadas na intimidade
do ser. Tal é o preço da paz, marcada pelas lutas íntimas, pelos
processos da reeducação e por trabalho intenso, pois como nos lembra
Emmanuel, buscar “[...] a mentirosa paz da ociosidade é desviar-se da
luz, fugindo à vida e precipitando a morte.”-( FEB - EADE )-
Estudo do Livro dos Espíritos
317. Após a morte, conservam os Espíritos o amor da pátria?
“O princípio é sempre o mesmo. Para os Espíritos elevados,
a pátria é o Universo. Na Terra, a pátria, para eles,
está onde se ache o maior número das pessoas que lhes
são simpáticas.”
As condições dos Espíritos e as maneiras por que vêem as
coisas variam ao infinito, de conformidade com os graus de desenvolvimento
moral e intelectual em que se achem. Geralmente,
os Espíritos de ordem elevada só por breve tempo se aproximam
da Terra. Tudo o que aí se faz é tão mesquinho em comparação
com as grandezas do infinito, tão pueris são, aos olhos deles, as
coisas a que os homens mais importância ligam, que quase nenhum
atrativo lhes oferece o nosso mundo, a menos que para aí
os leve o propósito de concorrerem para o progresso da Humanidade.
Os Espíritos de ordem intermédia são os que mais frequentemente
baixam a este planeta, se bem considerem as coisas de
um ponto de vista mais alto do que quando encarnados. Os Espíritos vulgares, esses são os que aí mais se comprazem e constituem
a massa da população invisível do globo terráqueo. Conservam
quase que as mesmas idéias, os mesmos gostos e as mesmas
inclinações que tinham quando revestidos do invólucro corpóreo.
Metem-se em nossas reuniões, negócios, divertimentos, nos quais
tomam parte mais ou menos ativa, segundo seus caracteres. Não
podendo satisfazer às suas paixões, gozam na companhia dos
que a elas se entregam e os excitam a cultivá-las. Entre eles, no entanto, muitos há, sérios, que vêem e observam para se instruírem e aperfeiçoarem.
Que a graça e a paz sejam conosco!
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