"Ao encerrarmos mais um mês, sejamos gratos ao Senhor por todo o cuidado com o qual nos sustentou e que nossos sentidos estejam de prontidão para escutar a sua voz a nos direcionar em nossa caminhada".
Amados irmãos, bom dia!
Hoje vamos estudar uma lei que, aparentemente, pode nos
parecer incoerente, mas, sabemos não haver incoerências nas leis divinas,
precisaremos compreendê-la profundamente. É a lei da destruição necessária e da
destruição abusiva. Que os bons Espíritos sejam conosco a nos auxiliar em seu
entendimento.
"Há duas formas de destruição no Planeta: uma é benéfica, a
outra é abusiva. A primeira [...] não passa de uma transformação, que tem por
fim a renovação e melhoria dos seres vivos. A segunda, não prevista na lei de
Deus, resulta da imperfeição moral e intelectual do homem, em razão da
predominância [...] da bestialidade sobre a natureza espiritual. Toda
destruição que excede os limites da necessidade é uma violação da lei de Deus.
A destruição recíproca dos seres vivos é, dentre as leis da
Natureza, uma das que, à primeira vista, menos parecem conciliar-se com a
bondade de Deus. Pergunta-se por que lhes criou ele a necessidade de mutuamente
se destruírem, para se alimentarem uns à custa dos outros. Para quem apenas vê
a matéria e restringe à vida presente a sua visão, há de isso, com efeito,
parecer uma imperfeição na obra divina. É que, em geral, os homens apreciam a
perfeição de Deus do ponto de vista humano; medindo-lhe a sabedoria pelo juízo
que dela formam, pensam que Deus não poderia fazer coisa melhor do que eles
próprios fariam. Não lhes permitindo a curta visão, de que dispõem, apreciar o
conjunto, não compreendem que um bem real possa decorrer de um mal aparente. Só
o conhecimento do princípio espiritual, considerado em sua verdadeira essência,
e o da grande lei de unidade, que constitui a harmonia da criação, pode dar ao
homem a chave desse mistério e mostrar-lhe a sabedoria providencial e a
harmonia, exatamente onde apenas vê uma anomalia e uma contradição.
A verdadeira vida, tanto do animal como do homem, não está no
invólucro corporal, do mesmo modo que não está no vestuário. Está no princípio
inteligente que preexiste e sobrevive ao corpo. Esse princípio necessita do
corpo, para se desenvolver pelo trabalho que lhe cumpre realizar sobre a
matéria bruta. O corpo se consome nesse trabalho, mas o Espírito não se gasta;
ao contrário, sai dele cada vez mais forte, mais lúcido e mais apto. [...] Por
meio do incessante espetáculo da destruição, ensina Deus aos homens o pouco
caso que devem fazer do envoltório material e lhes suscita a idéia da vida
espiritual, fazendo que a desejem como uma compensação. Objetar-se-á: não podia
Deus chegar ao mesmo resultado por outros meios, sem constranger os seres vivos
a se entredestruírem?
Desde que na sua obra tudo é sabedoria, devemos supor que
esta não existirá mais num ponto do que noutros; se não o compreendemos assim,
devemos atribuí-lo à nossa falta de adiantamento. Contudo, podemos tentar a
pesquisa da razão do que nos pareça defeituoso, tomando por bússola este
princípio: Deus há de ser infinitamente justo e sábio. Procuremos, portanto, em
tudo, a sua justiça e a sua sabedoria e curvemo-nos diante do que ultrapasse o
nosso entendimento.
Uma primeira utilidade que se apresenta de tal destruição,
utilidade, sem dúvida, puramente física, é esta: os corpos orgânicos só se
conservam com o auxílio das matérias orgânicas, matérias que só elas contêm os
elementos nutritivos necessários à transformação deles. Como instrumentos de
ação para o princípio inteligente, precisando os corpos ser constantemente
renovados, a Providência faz que sirvam ao seu mútuo entretenimento. Eis por
que os seres se nutrem uns dos outros. Mas, então, é o corpo que se nutre do
corpo, sem que o Espírito se aniquile ou altere. Fica apenas despojado do seu
envoltório. Há também considerações morais de ordem elevada. É necessária a
luta para o desenvolvimento do Espírito. Na luta é que ele exercita suas
faculdades. O que ataca em busca do alimento e o que se defende para conservar
a vida usam de habilidade e inteligência, aumentando, em consequência, suas
forças intelectuais. Um dos dois sucumbe; mas, em realidade, que foi o que o
mais forte ou o mais destro tirou ao mais fraco? A veste de carne, nada mais;
ulteriormente, o Espírito, que não morreu, tomará outra. A [...] lei de
destruição é, por assim dizer, o complemento do processo evolutivo, visto ser
preciso morrer para renascer e passar por milhares de metamorfoses, animando
formas corporais gradativamente mais aperfeiçoadas, e é desse modo que,
paralelamente, os seres vão passando por estados de consciência cada vez mais
lúcidos, até atingir, na espécie humana, o reinado da Razão. A denominada lei
de destruição melhor se conceituaria, no dizer dos Instrutores Espirituais,
como lei de transformação. O que ocorre, na realidade, é a transformação e não
a destruição, tanto no que concerne à matéria, quanto no que se refere ao Espírito.
A célebre anunciação de Lavoisier * — na natureza nada se cria, nada se perde,
tudo se transforma — foi uma antevisão científica, no campo da matéria, do que
os Espíritos viriam confirmar mais tarde ao Codificador. Tomada como
transformação, a norma aplica-se também ao Espírito eterno, indestrutível, mas
em contínua mutação, obedecendo à evolução e ao progresso sob os processos mais
variados e complexos.
Nos seres inferiores da criação, naqueles a quem ainda falta
o senso moral, nos quais a inteligência ainda não substituiu o instinto, a luta
não pode ter por móvel senão a satisfação de uma necessidade material. A
destruição mútua existente entre os animais, mantida às custas da cadeia
alimentar, atende à lei natural de preservação e diversidade biológica das
espécies da Natureza. No homem, há um período de transição em que ele mal se
distingue do bruto. Nas primeiras idades, domina o instinto animal e a luta
ainda tem por móvel a satisfação das necessidades materiais. Mais tarde,
contrabalançam-se o instinto animal e o sentimento moral; luta então o homem,
não mais para se alimentar, porém, para satisfazer à sua ambição, ao seu
orgulho, à necessidade, que experimenta, de dominar. Para isso, ainda lhe é
preciso destruir. Todavia, à medida que o senso moral prepondera, desenvolve-se
a sensibilidade, diminui a necessidade de destruir, acaba mesmo por
desaparecer, por se tornar odiosa. O homem ganha horror ao sangue. Contudo, a
luta é sempre necessária ao desenvolvimento do Espírito, pois, mesmo chegando a
esse ponto, que parece culminante, ele ainda está longe de ser perfeito. Só à
custa de muita atividade adquire conhecimento, experiência e se despoja dos
últimos vestígios da animalidade. Mas, nessa ocasião, a luta, de sangrenta e
brutal que era, se torna puramente intelectual. O homem luta contra as
dificuldades, não mais contra os seus semelhantes.
A sabedoria divina dotou os seres vivos de dois instintos
opostos: o de destruição e o de conservação. Ambos funcionam como princípios da
natureza.
Pelo primeiro, os seres se destroem reciprocamente, visando
diferentes fins, entre os quais a alimentação com os despojos materiais. Deus
coloca [...] o remédio ao lado do mal [...] para manter o equilíbrio e servir
de contrapeso. É por essa razão que as [...] criaturas são instrumentos de que
Deus se serve para chegar aos fins que objetiva. Para se alimentarem, os seres
vivos reciprocamente se destroem, destruição esta que obedece a um duplo fim:
manutenção do equilíbrio na reprodução, que poderia tornar-se excessiva, e
utilização dos despojos do invólucro exterior que sofre a destruição. Esse
invólucro é simples acessório e não a parte essencial do ser pensante. A parte
essencial é o princípio inteligente, que não se pode destruir e se elabora nas
metamorfoses diversas por que passa. A destruição abusiva é, sob qualquer
pretexto, um atentado à lei de Deus. Nesse sentido, o [...] homem tem papel
preponderante diante dos demais seres vivos, ao dizimar, em larga escala, os
demais seres da criação, seja buscando alimentar a crescente população humana,
seja aproveitando os despojos animais e vegetais em inúmeras indústrias de
transformação, que lhe proporcionam múltiplas utilidades.
Infelizmente, existem significativas e graves destruições no
nosso Planeta em razão da desmedida ambição humana. A título de sustentação de
preços de mercado, teóricos economistas, há algumas décadas, sustentavam a
vantagem da destruição de produtos e colheitas, como aconteceu no Brasil, na
década de 1930, quando milhares e milhares de toneladas de café foram
queimadas, numa demonstração inequívoca de insensibilidade, de egoísmo e de
ignorância dos responsáveis por tais desmandos. Enquanto se estendiam os campos
de queima de café no Sul do país, em estúpida destruição, populações inteiras
do Nordeste e do Norte não tinham meios de adquirir café para a sua
alimentação. [...] Outros abusos que têm provocado a reação e os protestos das
populações esclarecidas de todo o Planeta, por sua profunda repercussão no
relacionamento entre os seres vivos e o meio ambiente, são os problemas
ecológicos. Relativamente recente tem sido a conscientização das populações
para esse tipo de destruição, que o homem, consciente ou inconscientemente, vem
provocando na terra, nas águas e na atmosfera. [...] Não se pode deixar de
reconhecer que os novos processos tecnológicos, aliados à enorme proliferação
dos estabelecimentos fabris, sem os necessários cuidados capazes de evitar a
poluição, vão causando a destruição da vida animal nos rios, lagos e mares, com
o contínuo lançamento de dejetos e resíduos industriais nas águas, ao mesmo
tempo que fábricas e máquinas de toda espécie contribuem para poluir a
atmosfera. Some-se a tudo isso a destruição contínua das florestas e de muitas
espécies animais e ainda a ameaça das bombas, usinas e lixo atômico e tem-se um
quadro sombrio das condições materiais do mundo contemporâneo, agravando-se
pelo descuido, imprevidência e deseducação, gerando o desequilíbrio mesológico
e perspectivas pouco animadoras. Sabemos, entretanto, que a destruição abusiva
irá desaparecer, paulatinamente, da Terra, em razão do progresso moral e
intelectual do ser humano. Atualmente já existe um número significativo de
indivíduos e organizações, espalhados pelo mundo, seriamente trabalhando para
que a vida no Planeta se desenvolva num clima de equilíbrio, o que demonstra
uma conscientização mais ampla a respeito desse assunto". -( FEB )-
* LAVOISIER, Antoine
(1743-1794): químico francês, guilhotinado durante a Revolução Francesa, é
considerado o Pai da Química Moderna. Este lúcido cientista muito contribuiu
para o avanço da Ciência nos campos da química geral e da química orgânica.
Que a graça e a paz sejam conosco!