“E para que sejamos livres de homens dissolutos e maus, porque a fé não é de todos.” -( São Paulo, 2ª Epístola aos Tessalonicenses, 3: 2 )-
Amados irmãos, bom dia!
Hoje concluímos mais um tema com essa história que devemos analisar com atenção. Que os bons Espíritos nos auxiliem em sua compreensão e entendimento. A justiça do Senhor jamais falha, portanto, atentemo-nos ao bom comportamento, pois, o que plantarmos será o que iremos colher, sem dúvida.
3.º caso: Dívida e resgate
“No livro Contos e Apólogos, capítulo 23, páginas 101 a 104,
relata-nos Irmão X emocionante manifestação da lei de causa e efeito, ocorrida
entre os séculos dezenove e vinte. Na antevéspera do Natal de 1856, Dona Maria
Augusta Correia da Silva, senhora de extensos haveres, retornava à fazenda, às
margens do Paraíba, após quase um ano de passeio repousante na Corte.
Acompanhada de numerosos amigos que lhe desfrutariam a
festiva hospitalidade, a orgulhosa matrona, na tarde chuvosa e escura, recebia
os sessenta e dois cativos de sua casa que, sorridentes e humildes, lhe pediam
a bênção. Na sala grande, nobremente assentada em velha poltrona sobre largo
estrado que lhe permitisse mais ampIo golpe de vista, fazia um gesto de
complacência, à distância, para cada servidor que exclamava de joelhos: —
Louvado seja Nosso Senhor Jesus-Cristo, «sinhá»! — Louvado seja! – acentuava
Dona Maria com terrível severidade a transparecer-lhe da voz. Velhinhos de
cabeça branca, homens rudes do campo, mulheres desfiguradas pelo sofrimento,
moços e crianças desfilavam nas boas-vindas. Contudo, em ângulo recuado, pobre
moça mestiça, sustentando nos braços duas crianças recém-nascidas, sob a feroz
atenção de capataz desalmado, esperava a sua vez. Foi a última que se aproximou
para a saudação. A fazendeira soberana levantou-se, empertigada, chamou para
junto de si o cérbero humano que seguia de perto a jovem escrava, e, antes que
a pobrezinha lhe dirigisse a palavra, falou-lhe, duramente: — Matilde, guarde
as crias na senzala e encontre-me no terreiro. Precisamos conversar. A
interpelada obedeceu sem hesitação. E afastando-se do recinto, na direção do
quintal, Dona Maria Augusta e o assessor, de azorrague em punho, cochichavam
entre si. No grande pátio que a noite agora amortalhava em sombra espessa, a
mãezinha infortunada veio atender à ordenação recebida. — Acompanhe-nos! -
determinou Dona Maria, austeramente. Guiadas pelo rude capitão do mato, as duas
mulheres abordaram a margem do rio transbordante. Nuvens formidandas coavam no
céu os medonhos rugidos de trovões remotos... Derramava-se o Paraíba, em
soberbo espetáculo de grandeza, dominando o vale extenso. Dona Maria pousou o
olhar coruscante na mestiça humilhada e falou:. — Diga de quem são essas duas
«crias» nascidas em minha ausência! — De «Nhô» Zico, «sinhá»! — Miserável! —
bradou a proprietária poderosa — meu filho não me daria semelhante desgosto.
Negue essa infâmia! — Não posso! Não posso!
A patroa encolerizada relanceou o olhar pela paisagem deserta
e bramiu, rouquenha: — Nunca mais verá você essas crianças que odeio... — Ah!
«sinhá» – soluçou a infeliz –, não me separe dos meninos! Não me separe dos
meninos! Pelo amor de Deus!... — Não quero você mais aqui e essas crias serão
entregues à venda. — Não me expulse, «sinhá»! Não me expulse! — Desavergonhada,
de hoje em diante você é livre! E depois de expressivo gesto para o
companheiro, acentuou, irônica: — Livre, poderá você trabalhar noutra parte
para comprar esses rebentos malditos. Matilde sorriu, em meio do pranto
copioso, e exclamou: — Ajude-me, «sinhá»... Se é assim, darei meu sangue para
reaver meus filhinhos... Dona Maria Augusta indicou-lhe o Paraíba enorme e
sentenciou: — Você está livre, mas fuja de minha presença. Atravesse o rio e
desapareça! — «Sinhá», assim não! Tenha piedade de sua cativa! Ai, Jesus! Não
posso morrer... Mas, a um sinal da patroa, o capataz envilecido estalou o
chicote no dorso da jovem, que oscilou, indefesa, caindo na corrente profunda.
— Socorro! Socorro, meu Deus! VaIei-me, Nosso Senhor! – gritou a mísera,
debatendo-se nas águas. Todavia, daí a instantes, apenas um cadáver de mulher
descia rio abaixo, ante o silêncio da noite... Cem anos passaram... Na
antevéspera do Natal de 1956, Dona Maria Augusta Correia da Silva, reencarnada,
estava na cidade de Passa-Quatro, no sul de Minas Gerais. Mostrava-se noutro
corpo de carne, como quem mudara de vestimenta, mas era ela mesma, com a
diferença de que, ao invés de rica latifundiária, era agora apagada mulher, em
rigorosa luta para ajudar ao marido na defesa do pão. Sofria no lar as
privações dos escravos de outro tempo. Era mãe, padecendo aflições e sonhos...
Meditava nos filhinhos, ante a expectação do Natal, quando a chuva, sobre o
telhado, se fez mais intensa. Horrível temporal desabava na região. Alagara-se
tudo em derredor da casa singela. A pobre senhora, vendo a água invadir-lhe o
reduto doméstico, avançou para fora, seguida do esposo e das crianças. . .
As águas, porém, subiam sempre em turbilhão envolvente e
destruidor, arrastando o que se lhes opusesse à passagem. Diante da
ex-fazendeira, erguia-se um rio inesperado e imenso e, em dado instante,
esmagada de dor, ante a violenta separação do companheiro e dos pequeninos,
tombou na caudal, gritando em desespero: — Socorro! Socorro, meu Deus!
Valei-me, Nosso Senhor! Todavia, decorridos alguns momentos, apenas um cadáver
de mulher descia corrente abaixo, ante o silêncio da noite... • A antiga
situante do Vale do Paraíba resgatou o débito que contraíra perante a Lei”. -(
FEB )-
Que a graça e a paz sejam conosco!
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