“Não existem obstáculos ao progresso intelectual, conforme
nos ensina a Doutrina Espírita. O mesmo, porém, não se dá com o progresso moral”.
Amados irmãos, bom dia!
Somos chamados a todo instante a nos aperfeiçoarmos. É uma
lei natural, afinal, fomos criados para isso. Compete a cada um os cuidados no
fiel cumprimento da missão dada. Temos a liberdade de executar nosso trabalho.
Que os bons Espíritos nos auxiliem nessa caminhada para que nossa reforma
íntima se faça com a devida brevidade.
“A lei do progresso é inexorável. O homem não pode
conservar-se indefinidamente na ignorância, porque tem de atingir a finalidade
que a Providência lhe assinou. Ele se instrui pela força das coisas.
As revoluções morais, como as revoluções sociais, se
infiltram nas idéias pouco a pouco; germinam durante séculos; depois, irrompem
subitamente e produzem o desmoronamento do carunchoso edifício do passado, que
deixou de estar em harmonia com as necessidades novas e com as novas
aspirações.
Há duas espécies de progresso, que uma a outra se prestam
mútuo apoio, mas que, no entanto, não marcham lado a lado: o progresso intelectual e o progresso moral.
Entre os povos civilizados, o primeiro tem recebido, no correr
deste século, todos os incentivos. Por isso mesmo atingiu um grau a que ainda
não chegara antes da época atual. Muito falta para que o segundo se ache no
mesmo nível. Entretanto, comparando-se os costumes sociais de hoje com os de
alguns séculos atrás, só um cego negaria o processo realizado. Ora, sendo
assim, por que haveria essa marcha ascendente de parar, com relação, de
preferência, ao moral, do que com relação ao intelectual? Por que será
impossível que entre o século dezenove e o vigésimo quarto século haja, a esse
respeito, tanta diferença quanta entre o décimo quarto século e o século
dezenove? Duvidar fora pretender que a Humanidade está no apogeu da perfeição,
o que seria absurdo, ou que ela não é perfectível moralmente, o que a
experiência desmente.
Na verdade, o atual progresso alcançado pela Humanidade
representa um esforço evolutivo de milênios. Da sensação à irritabilidade, da
irritabilidade ao instinto, do instinto à inteligência e da inteligência ao
discernimento, séculos e séculos correram incessantes. A evolução é fruto do
tempo infinito.
Outro ponto importante, merecedor de destaque, é que o
progresso, moral ou intelectual, é sempre cumulativo. De átomo a átomo,
organizam-se os corpos astronômicos dos mundos e de pequenina experiência em
pequenina experiência, infinitamente repetidas, alarga-se-nos o poder da mente
e sublimam-se-nos as manifestações da alma que, no escoar das eras
imensuráveis, cresce no conhecimento e aprimora-se na virtude, estruturando,
pacientemente, no seio do espaço e do tempo, o veículo glorioso com que
escalaremos, um dia, os impérios deslumbrantes da Beleza Imortal.
O progresso é, principalmente, resultado do esforço individual:
quanto maior for o nosso empenho, melhores serão os resultados alcançados. O
progresso nos Espíritos é o fruto do próprio trabalho; mas, como são livres,
trabalham no seu adiantamento com maior ou menor atividade, com mais ou menos
negligência, segundo sua vontade, acelerando ou retardando o progresso e, por
conseguinte, a própria felicidade. Enquanto uns avançam rapidamente,
entorpecem-se outros, quais poltrões, nas fileiras inferiores. São eles, pois,
os próprios autores da sua situação, feliz ou desgraçada, conforme esta frase
do Cristo: — A cada um segundo as suas obras. Todo Espírito que se atrasa não
pode queixar-se senão de si mesmo, assim como o que se adianta tem o mérito
exclusivo do seu esforço, dando por isso maior apreço à felicidade conquistada.
O progresso intelectual e o progresso moral raramente marcham
juntos, mas o que o Espírito não consegue em dado tempo, alcança em outro, de
modo que os dois progressos acabam por atingir o mesmo nível. Eis por que se
vêem muitas vezes homens inteligentes e instruídos pouco adiantados moralmente,
e vice-versa.
No entanto, o progresso intelectual pode engendrar o
progresso moral fazendo [...] compreensíveis o bem e o mal. O homem, desde
então, pode escolher. O desenvolvimento do livre-arbítrio acompanha o da
inteligência e aumenta a responsabilidade dos atos. Nesse sentido, a [...]
encarnação é necessária ao duplo progresso moral e intelectual do Espírito: ao
progresso intelectual, pela atividade obrigatória do trabalho; ao progresso
moral, pela necessidade recíproca dos homens entre si. A vida social é a pedra
de toque das boas ou más qualidades. A bondade, a maldade, a doçura, a
violência, a benevolência, a caridade, o egoísmo, a avareza, o orgulho, a
humildade, a sinceridade, a franqueza, a lealdade, a má-fé, a hipocrisia, em
uma palavra, tudo o que constitui o homem de bem ou o perverso tem por móvel,
por alvo e por estímulo as relações do homem com os seus semelhantes.
Observando os diferentes graus evolutivos existentes na
Humanidade terrestre, compreendemos que uma [...] só existência corporal é
manifestamente insuficiente para o Espírito adquirir todo o bem que lhe falta e
eliminar o mal que lhe sobra. Como poderia o selvagem, por exemplo, em uma só
encarnação nivelar-se moral e intelectualmente ao mais adiantado europeu? É
materialmente impossível. Deve ele, pois, ficar eternamente na ignorância e
barbaria, privado dos gozos que só o desenvolvimento das faculdades pode
proporcionar-lhe? O simples bom-senso repele tal suposição, que seria não
somente a negação da justiça e bondade divinas, mas das próprias leis
evolutivas e progressivas da Natureza. Mas Deus, que é soberanamente justo e
bom, concede ao Espírito tantas encarnações quantas as necessárias para atingir
seu objetivo – a perfeição. Para cada nova existência de permeio à matéria,
entra o Espírito com o cabedal adquirido nas anteriores, em aptidões,
conhecimentos intuitivos, inteligência e moralidade. Cada existência é assim um
passo avante no caminho do progresso.
É importante considerar também que o [...] Espírito progride
igualmente na erraticidade, adquirindo conhecimentos especiais que não poderia
obter na Terra [como encarnado] [...]. O estado corporal e o espiritual
constituem a fonte de dois gêneros de progresso, pelos quais o Espírito tem de
passar alternadamente, nas existências peculiares a cada um dos dois mundos. De posse dessas informações, é possível
reconhecer, mesmo numa criança, a soma de progresso que o Espírito já alcançou:
basta observar-lhe as tendências instintivas e as idéias inatas. Essa
observação nos esclarece, por exemplo, por que existem crianças que se revelam
boas em um meio adverso, apesar dos maus exemplos que colhem, ao passo que
outras são instintivamente viciosas em um meio bom, apesar dos bons conselhos
que recebem. Na verdade, essas crianças
refletem [...] o resultado do progresso moral adquirido, como as idéias inatas
são o resultado do progresso intelectual.
Devemos entender que, na essência, não existem obstáculos ao
progresso intelectual, conforme nos ensina a Doutrina Espírita. O mesmo, porém,
não se dá com o progresso moral. O maior obstáculo ao progresso moral são o
orgulho e o egoísmo, segundo palavras de um dos Espíritos da Codificação, o
qual, ao elucidar esta informação, nos diz: Refiro-me ao progresso moral,
porquanto o intelectual se efetua sempre. À primeira vista, parece mesmo que o
progresso intelectual reduplica a atividade daqueles vícios [orgulho e
egoísmo], desenvolvendo a ambição e o gosto das riquezas, que, a seu turno,
incitam o homem a empreender pesquisas que lhe esclarecem o Espírito. Assim é
que tudo se prende, no mundo moral, como no mundo físico, e que do próprio mal
pode nascer o bem. Curta, porém, é a duração desse estado de coisas, que mudará
à proporção que o homem compreender melhor que, além da que o gozo dos bens
terrenos proporciona, uma felicidade existe maior e infinitamente mais
duradoura. O orgulho e o egoísmo, assim como todas as demais imperfeições
capazes de retardar a marcha evolutiva da Humanidade, chegarão um dia ao seu
término, pois Deus reserva ao ser humano um venturoso estado de plenitude
espiritual. Entretanto, por ora, enquanto nos encontramos no processo evolutivo
que a lei do progresso faculta, a [...] suprema felicidade só é compartilhada
pelos Espíritos perfeitos, ou, por outra, pelos puros Espíritos, que não a
conseguem senão depois de haverem progredido em inteligência e moralidade”. -(
FEB )-
Que a graça e a paz sejam conosco!
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