"Sondai-me, Senhor, e provai-me; escrutai meus rins e meu coração". -( Salmos, 25: 2 )-
Amados irmãos, bom dia!
A cada novo dia que se inicia, sejamos gratos ao Senhor pela oportunidade de trabalharmos em nossa reforma íntima objetivando ser agradável aos seus olhos. O conhecimento de si mesmo é, portanto, a chave do progresso individual.
Conhecimento de si mesmo
“Allan Kardec pergunta
aos Espíritos Superiores: Qual o meio prático mais eficaz que tem o homem de se
melhorar nesta vida e de resistir à atração do mal? Um sábio da antiguidade
vo-lo disse: Conhece-te a ti mesmo.
À vista da dificuldade de cada um conhecer-se a si mesmo, o
Codificador indaga a respeito do meio de consegui-lo, obtendo a seguinte
resposta, assinada pelo Espírito Santo Agostinho: Fazei o que eu fazia, quando vivi na Terra: ao fim do dia, interrogava
a minha consciência, passava revista ao que fizera e perguntava a mim mesmo se
não faltara a algum dever, se ninguém tivera motivo para de mim se queixar.
Foi assim que cheguei a me conhecer e a ver o que em mim precisava de reforma.
Aquele que, todas as noites, evocasse todas as ações que praticara durante o
dia e inquirisse de si mesmo o bem ou o mal que houvera feito, rogando a Deus e
ao seu anjo de guarda [Espírito protetor] que o esclarecessem, grande força
adquiriria para se aperfeiçoar, porque, crede-me, Deus o assistiria.
Dirigi, pois, a vós mesmos perguntas, interrogai-vos sobre o
que tendes feito e com que objetivo procedestes em tal ou tal circunstância,
sobre se fizestes alguma coisa que, feita por outrem, censuraríeis, sobre se
obrastes alguma ação que não ousaríeis confessar. Perguntai ainda mais: Se
aprouvesse a Deus chamar-me neste momento, teria que temer o olhar de alguém,
ao entrar de novo no mundo dos Espíritos, onde nada pode ser ocultado? Examinai
o que pudestes ter obrado contra Deus, depois contra o vosso próximo e, finalmente,
contra vós mesmos. As respostas vos darão, ou o descanso para a vossa
consciência, ou a indicação de um mal que precise ser curado. O conhecimento de
si mesmo é, portanto, a chave do progresso individual. Mas, direis, como há de
alguém julgar-se a si mesmo? Não está aí a ilusão do amor-próprio para atenuar
as faltas e torná-las desculpáveis? O avarento se considera apenas econômico e
previdente; o orgulhoso julga que em si só há dignidade. Isto é muito real, mas
tendes um meio de verificação que não pode iludir-vos. Quando estiverdes
indecisos sobre o valor de uma de vossas ações, inquiri como a qualificaríeis,
se praticada por outra pessoa. Se a censurais noutrem, não na podereis ter por
legítima quando fordes o seu autor, pois que Deus não usa de duas medidas na
aplicação de sua justiça. Procurai também saber o que dela pensam os vossos
semelhantes e não desprezeis a opinião dos vossos inimigos, porquanto esses
nenhum interesse têm em mascarar a verdade e Deus muitas vezes os coloca ao
vosso lado como um espelho, a fim de que sejais advertidos com mais franqueza
do que o faria um amigo. Perscrute, conseguintemente, a sua consciência aquele
que se sinta possuído do desejo sério de melhorar-se, a fim de extirpar de si
os maus pendores, como do seu jardim arranca as ervas daninhas; dê balanço no
seu dia moral para, a exemplo do comerciante, avaliar suas perdas e seus lucros
e eu vos asseguro que a conta destes será mais avultada que a daquelas.
Se puder dizer que foi bom o seu dia, poderá dormir em paz e
aguardar sem receio o despertar na outra vida. Formulai, pois, de vós para
convosco, questões nítidas e precisas e não temais multiplicá-las. Justo é que
se gastem alguns minutos para conquistar uma felicidade eterna. Não trabalhais
todos os dias com o fito de juntar haveres que vos garantam repouso na velhice?
Não constitui esse repouso o objeto de todos os vossos desejos, o fim que vos
faz suportar fadigas e privações temporárias? Pois bem! que é esse descanso de
alguns dias, turbado sempre pelas enfermidades do corpo, em comparação com o
que espera o homem de bem? Não valerá este outro a pena de alguns esforços? Sei
haver muitos que dizem ser positivo o presente e incerto o futuro. Ora, esta
exatamente a ideia que estamos encarregados de eliminar do vosso íntimo, visto
desejarmos fazer que compreendais esse futuro, de modo a não restar nenhuma
dúvida em vossa alma. Por isso foi que primeiro chamamos a vossa atenção por
meio de fenômenos capazes de ferir-vos os sentidos e que agora vos damos
instruções, que cada um de vós se acha encarregado de espalhar. Com este
objetivo é que ditamos O Livro dos Espíritos. Comentando a resposta dada por
Santo Agostinho, Kardec assinala: Muitas faltas que cometemos nos passam
despercebidas. Se, efetivamente, seguindo o conselho de Santo Agostinho,
interrogássemos mais amiúde a nossa consciência, veríamos quantas vezes falimos
sem que o suspeitemos, unicamente por não perscrutarmos a natureza e o móvel
dos nossos atos. A forma interrogativa tem alguma coisa de mais preciso do que
qualquer máxima, que muitas vezes deixamos de aplicar a nós mesmos. Aquela
exige respostas categóricas, por um sim ou não, que não abrem lugar para
qualquer alternativa e que são outros tantos argumentos pessoais. E, pela soma
que derem as respostas, poderemos computar a soma de bem ou de mal que existe
em nós.
Assim, consoante deflui desses ensinamentos, é o conhecimento
de si mesmo o primeiro passo para que o Espírito possa atingir a perfeição
moral. O processo de renovação para o bem é longo, pois que depende do esforço
de vontade de cada um no sentido da sua auto-educação, mais inevitável, de
acordo com a lei do Progresso, a que todos os seres estão submetidos. Com
efeito, sendo a Alma, ou Espírito, criação divina, suas diversas reencarnações
[...] têm por objetivo a manifestação
cada vez mais grandiosa do que nela há de divino, o aumento do domínio que
está destinado a exercer dentro e fora de si, por meio de seus sentidos e
energias latentes. Pode alcançar-se esse resultado por processos diferentes,
pela Ciência ou pela meditação, pelo trabalho ou pelo exercício moral. O melhor
processo consiste em utilizar todos esses modos de aplicação, em completá-los
uns pelos outros; o mais eficaz, porém, de todos, é o exame íntimo, a
introspecção. Acrescentemos o desapego das coisas materiais, a firme vontade de melhorar a nossa união
com Deus em espírito e verdade, e veremos que toda religião verdadeira,
toda filosofia profunda aí vai buscar sua origem e nessas fórmulas se resume. O
resto, doutrinas culturais, ritos e práticas não são mais do que o vestuário
externo que encobre, aos olhos das turbas, a alma das religiões. Victor Hugo
escrevia no “Post scriptum de ma vie [minha vida]”: É dentro de nós que devemos
olhar o exterior... Inclinando-nos sobre este poço, o nosso espírito,
avistamos, a uma distância de abismo, em estreito círculo, o mundo imenso. Para que possamos, entretanto, realizar esse
encontro com nós mesmos, com vistas à perfeição, é necessário, em especial,
aprender a disciplinar o pensamento. O pensamento é [...] criador. Não atua
somente em roda de nós, influenciando nossos semelhantes para o bem ou para o
mal; atua principalmente em nós; gera nossas palavras, nossas ações e, com ele,
construímos, dia a dia, o edifício grandioso ou miserável de nossa vida
presente e futura. Modelamos nossa alma e seu invólucro com os nossos
pensamentos; estes produzem formas, imagens que se imprimem na matéria sutil,
de que o corpo fluídico [perispírito] é composto. Assim, pouco a pouco, nosso
ser povoa-se de formas frívolas ou austeras, graciosas ou terríveis, grosseiras
ou sublimes; a alma se enobrece, embeleza ou cria uma atmosfera de fealdade.
Segundo o ideal a que visa, a chama interior aviva-se ou obscurece-se. Se
meditarmos em assuntos elevados, na sabedoria, no dever, no sacrifício, nosso
ser impregna-se, pouco a pouco, das qualidades de nosso pensamento. É por isso
que a prece improvisada, ardente, o impulso da alma para as potências
infinitas, tem tanta virtude. Nesse diálogo solene do ser com sua causa, o
influxo do Alto invade-nos e desperta sentidos novos.
Por outro lado, o [...] estudo silencioso e recolhido é
sempre fecundo para o desenvolvimento do pensamento. É no silêncio que se
elaboram as obras fortes. A palavra é brilhante, mas degenera demasiadas vezes
em conversas estéreis, às vezes maléficas; com isso, o pensamento se enfraquece
e a alma esvazia-se. Ao passo que na meditação o Espírito se concentra,
volta-se para o lado grave e solene das coisas; a luz do mundo espiritual
banha-o com suas ondas. Assim, não [...] há progresso possível sem observação
atenta de nós mesmos. É necessário vigiar todos os nossos atos impulsivos para
chegarmos a saber em que sentido devemos dirigir nossos esforços para nos
aperfeiçoarmos. Cabe-nos exercitar a disciplina do pensamento. Querer é poder!
O poder da vontade é ilimitado. O homem, consciente de si mesmo, de seus
recursos latentes, sente crescerem suas forças na razão dos esforços. Sabe que
tudo o que de bem e bom desejar há de, mais cedo ou mais tarde, realizar-se
inevitavelmente, ou na atualidade ou na série das suas existências, quando seu
pensamento se puser de acordo com a Lei Divina. E é nisso que se verifica a
palavra celeste: A Fé transporta montanhas. Daí os Espíritos Instrutores da
Codificação Espírita terem assinalado que o homem poderia, pelo esforço da sua
vontade, vencer as suas más inclinações, acrescentando que há [...] pessoas que
dizem: Quero, mas a vontade só lhes está nos lábios. Querem, porém muito
satisfeitas ficam que não seja como “querem”. Quando o homem crê que não pode
vencer as suas paixões, é que seu Espírito se compraz nelas, em consequência da
sua inferioridade. Compreende a sua natureza espiritual aquele que as procura
reprimir. Vencê-las é, para ele, uma vitória do Espírito sobre a matéria. A
felicidade não está nas coisas externas nem nos acasos do exterior, mas somente
em nós mesmos, na vida interna que soubermos criar. Que importa que o céu
esteja escuro por cima de nossas cabeças e os homens sejam ruins em volta de
nós, se tivermos a luz na fronte, alegria do bem e a liberdade moral no
coração? Se, porém, eu tiver vergonha de mim mesmo, se o mal tiver invadido meu
pensamento, se o crime e a traição habitarem em mim, todos os favores e todas
as felicidades da Terra não me restituirão a paz silenciosa e a alegria da
consciência. É preciso, portanto, como diz Santo Agostinho, passar revista às
nossas ações, a fim de identificar os males que precisem ser curados, uma vez
que o conhecimento de si mesmo é a chave do progresso individual. Em síntese,
pode dizer-se que, primeiramente, a criatura humana deve buscar conhecer-se a
si mesma [...] para saber como orientar a sua auto-educação. A este
conhecimento deve seguir-se ou ser adquirido simultaneamente, o do destino que
a espera, para que, servindo-lhe de alvo, ela saiba para onde e como dirigir
sua ação. Cumpre-lhe, ao mesmo tempo, conhecer as qualidades que deve procurar
desenvolver em si e os hábitos viciosos e os obstáculos que a poderiam
embaraçar no desempenho da sua tarefa, hábitos e vícios que lhe importa
destruir sem contemplações. Com o conhecimento relativo de si mesmo,
indispensável a cada momento de sua evolução, fim a que toda a sua ação deve
tender com os recursos morais e as experiências próprias e alheias, que lhe facilitam
a atuação no plano em que se move, pode muito bem o indivíduo orientar sua
auto-educação. Acima de tudo, porém, busquemos o amor, essência de tudo que há
de divino em nós, farol orientador dos nossos esforços de auto-educação: A
todas as interrogações do homem, a suas hesitações, a seus temores, a suas
blasfêmias, uma voz grande, poderosa e misteriosa responde: Aprende a amar! O amor é o resumo de tudo,
o fim de tudo. Dessa maneira, estende-se e desdobra-se sem cessar sobre o
Universo a imensa rede de amor tecida de luz e ouro. Amar é o segredo da
felicidade. Com uma só palavra o amor resolve todos os problemas, dissipa todas
as obscuridades. O amor salvará o mundo; seu calor fará derreter os gelos da
dúvida, do egoísmo, do ódio; enternecerá os corações mais duros, mais
refratários”. -( FEB )-
Que a graça e a paz sejam conosco!
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