"Assim, minha alma vos louvará sem calar jamais. Senhor, meu Deus, eu vos bendirei eternamente". -( Salmos, 29: 13 )-
Amados irmãos, bom dia!
Aprendemos que colhemos o que plantamos e que nada é por
acaso. A busca do homem pela felicidade na maior parte das vezes é travada por
suas próprias atitudes uma vez que, “sua
felicidade consiste na satisfação fugaz de todos os seus desejos. Sua alma,
constantemente preocupada e angustiada pelas vicissitudes da vida, se conserva
numa ansiedade e numa tortura perpétuas”. Estudando a nós mesmos,
compreendemos a razão das nossas frustrações e o que nos é necessário ao nosso
desenvolvimento.
Penas e gozos terrestres
“Vive o homem incessantemente em busca da felicidade, que
também incessantemente lhe foge, porque felicidade sem mescla não se encontra
na Terra. Entretanto, mau grado as vicissitudes que formam o cortejo inevitável
da vida terrena, poderia ele, pelo menos, gozar de relativa felicidade, se não
a procurasse nas coisas perecíveis e sujeitas às mesmas vicissitudes, isto é,
nos gozos materiais em vez de a procurar nos gozos da alma, que são um prelibar
dos gozos celestes, imperecíveis; em vez de procurar a paz do coração, única
felicidade real neste mundo, ele se mostra ávido de tudo o que o agitará e
turbará, e, coisa singular! o homem, como que de intento, cria para si
tormentos que está nas suas mãos evitar. [...] Que de tormentos, ao contrário,
se poupa aquele que sabe contentar-se com o que tem, que nota sem inveja o que
não possui, que não procura parecer mais do que é. Esse é sempre rico,
porquanto, se olha para baixo de si e não para cima, vê sempre criaturas que
têm menos do que ele. É calmo, porque não cria para si necessidades quiméricas.
E não será uma felicidade a calma, em meio das tempestades da vida?
Ignorando a realidade espiritual que o cerca e a continuidade
da vida após a morte do corpo físico, o[...] homem carnal, mais preso à vida
corpórea do que à vida espiritual, tem, na Terra, penas e gozos materiais. Sua
felicidade consiste na satisfação fugaz de todos os seus desejos. Sua alma,
constantemente preocupada e angustiada pelas vicissitudes da vida, se conserva
numa ansiedade e numa tortura perpétuas. A morte o assusta, porque ele duvida
do futuro e porque tem de deixar no mundo todas as suas afeições e esperanças.
O homem moral, que se colocou acima das necessidades factícias criadas pelas
paixões, já neste mundo experimenta gozos que o homem material desconhece. A
moderação de seus desejos lhe dá ao Espírito calma e serenidade. Ditoso pelo
bem que faz, não há para ele decepções e as contrariedades lhe deslizam por
sobre a alma, sem nenhuma impressão dolorosa deixarem. Dessa forma muitos [...]
se admiram de que na Terra haja tanta maldade e tantas paixões grosseiras,
tantas misérias e enfermidades de toda natureza, e daí concluem que a espécie
humana bem triste coisa é.
Provém esse juízo do acanhado ponto de vista em que se
colocam os que o emitem e que lhes dá falsa idéia do conjunto. Deve-se
considerar que na Terra não está a Humanidade toda, mas apenas uma pequena
fração da Humanidade. Com efeito, a espécie humana abrange todos os seres
dotados de razão que povoam os inúmeros orbes do Universo. Ora, o que é a
população da Terra, em face da população total desses mundos? Muito menos que a
de uma aldeia, em confronto com a de um grande império. A situação material e
moral da Humanidade terrena nada tem que espante, desde que se leve em conta a
destinação da Terra e a natureza dos que a habitam.
Nesse sentido, sabemos que o planeta [...] Terra pertence à
categoria dos mundos de expiação e provas, razão por que aí vive o homem a
braços com tantas misérias. O habitante do Planeta ainda não pode gozar de
completa felicidade porque, aqui, [...]a vida lhe foi dada como prova ou
expiação. Dele, porém, depende a suavização de seus males e o ser tão feliz
quanto possível na Terra. Na verdade, o [...] homem é quase sempre o obreiro da
sua própria infelicidade. Praticando a lei de Deus, a muitos males se forrará e
proporcionará a si mesmo felicidade tão grande quanto o comporte a sua
existência grosseira. Aquele que se acha bem compenetrado de seu destino futuro
não vê na vida corporal mais do que uma estação temporária, uma como parada
momentânea em péssima hospedaria. Facilmente se consola de alguns
aborrecimentos passageiros de uma viagem que o levará a tanto melhor posição,
quanto melhor tenha cuidado dos preparativos para empreendê-la.
Devemos lembrar que a nossa precária evolução espiritual
representa sério obstáculo à correta utilização do livre-arbítrio, de forma que
as nossas escolhas nem sempre são as mais acertadas. Entretanto, à medida que
vamos incorporando maior cabedal de conhecimento e de moralidade, passamos a
dar menos importância às exigências impostas pela vida no plano material. Neste
sentido, o sentimento de posse, em geral aceito como um estado de felicidade
plena, é substituído por outro: o de desprendimento das coisas materiais.
Vemos, então, que verdadeiramente [...] infeliz o homem só o é quando sofre da
falta do necessário à vida e à saúde do corpo. Todavia – é oportuno destacar –,
pode acontecer que essa privação seja de sua culpa. Então, só tem que se
queixar de si mesmo. Se for ocasionada por outrem, a responsabilidade recairá
sobre aquele que lhe houver dado causa.
Ensina-nos a Doutrina Espírita que de [...] ordinário, o
homem só é infeliz pela importância que liga às coisas deste mundo. Fazem-lhe a
infelicidade a vaidade, a ambição e a cobiça desiludidas. Se se colocar fora do
círculo acanhado da vida material, se elevar seus pensamentos para o infinito,
que é seu destino, mesquinhas e pueris lhe parecerão as vicissitudes da
Humanidade, como o são as tristezas da criança que se aflige pela perda de um
brinquedo, que resumia a sua felicidade suprema. Aquele que só vê felicidade na
satisfação do orgulho e dos apetites grosseiros é infeliz, desde que não os
pode satisfazer, ao passo que aquele que nada pede ao supérfluo é feliz com os
que outros consideram calamidades. Referimo-nos ao homem civilizado, porquanto,
o selvagem, sendo mais limitadas as suas necessidades, não tem os mesmos
motivos de cobiça e de angústias. Diversa é a sua maneira de ver as coisas.
Como civilizado, o homem raciocina sobre a sua infelicidade e a analisa. Por
isso é que esta o fere. Mas, também, lhe é facultado raciocinar sobre os meios
de obter consolação e de analisá-los. Essa consolação ele a encontra no
sentimento cristão, que lhe dá a esperança de melhor futuro, e no Espiritismo
que lhe dá a certeza desse futuro. Compreendendo que somos os próprios
artífices do destino, passamos a ser mais cuidadosos com os nossos desejos e
com as nossas escolhas. Pelo Espiritismo, dilatamos a visão a respeito das
penas e gozos terrestres, percebendo que de [...] duas espécies são as vicissitudes
da vida, ou, se o preferirem, promanam de duas fontes bem diferentes, que
importa distinguir. Umas têm sua causa na vida presente; outras, fora desta
vida. Remontando-se à origem dos males terrestres, reconhecer-se-á que muitos
são consequência natural do caráter e do proceder dos que os suportam. Quantos
homens caem por sua própria culpa! Quantos são vítimas de sua imprevidência, de
seu orgulho e de sua ambição! Quantos se arruínam por falta de ordem, de
perseverança, pelo mau proceder, ou por não terem sabido limitar seus desejos!
Quantas uniões desgraçadas, porque resultaram de um cálculo de interesse ou de
vaidade e nas quais o coração não tomou parte alguma! Quantas dissensões e
funestas disputas se teriam evitado com um pouco de moderação e menos
suscetibilidade! Quantas doenças e enfermidades decorrem da intemperança e dos
excessos de todo gênero! Quantos pais são infelizes com seus filhos, porque não
lhes combateram desde o princípio as más tendências! Por fraqueza, ou
indiferença, deixaram que neles se desenvolvessem os germens do orgulho, do
egoísmo e da tola vaidade, que produzem a secura do coração; depois, mais
tarde, quando colhem o que semearam, admiram-se e se afligem da falta de
deferência com que são tratados e da ingratidão deles. Interroguem friamente
suas consciências todos os que são feridos no coração pelas vicissitudes e
decepções da vida; remontem, passo a passo, à origem dos males que os torturam
e verifiquem se, as mais das vezes, não poderão dizer: Se eu houvesse feito, ou
deixado de fazer tal coisa, não estaria em semelhante condição. A quem, então,
há de o homem responsabilizar por todas essas aflições, senão a si mesmo? O
homem, pois, em grande número de casos, é o causador de seus próprios
infortúnios; mas, em vez de reconhecê-lo, acha mais simples, menos humilhante
para a sua vaidade acusar a sorte, a Providência, a má fortuna, a má estrela,
ao passo que a má estrela é apenas a sua incúria. Os males dessa natureza
fornecem, indubitavelmente, um notável contingente ao cômputo das vicissitudes
da vida. O homem as evitará quando trabalhar por se melhorar moralmente, tanto quanto
intelectualmente.
Com efeito – esclarece o Espírito François-Nicolas-Madeleine,
– nem a riqueza, nem o poder, nem mesmo a florida juventude são condições
essenciais à felicidade. Digo mais: nem mesmo reunidas essas três condições tão
desejadas, porquanto incessantemente se ouvem, no seio das classes mais privilegiadas,
pessoas de todas as idades se queixarem amargamente da situação em que se
encontram. Diante de tal fato, é inconcebível que as classes laboriosas e
militantes invejem com tanta ânsia a posição das que parecem favorecidas da
fortuna. Neste mundo, por mais que faça, cada um tem a sua parte de labor e de
miséria, sua cota de sofrimentos e de decepções, donde facilmente se chega à
conclusão de que a Terra é lugar de provas e expiações. Assim, pois, os que
pregam que ela é a única morada do homem e que somente nela e numa só
existência é que lhe cumpre alcançar o mais alto grau das felicidades que a sua
natureza comporta, iludem-se e enganam os que os escutam, visto que demonstrado
está, por experiência arquisecular, que só excepcionalmente este globo
apresenta as condições necessárias à completa felicidade do indivíduo. Em tese
geral, pode afirmar-se que a felicidade é uma utopia a cuja conquista as
gerações se lançam sucessivamente, sem jamais lograrem alcançá-la. Se o homem
ajuizado é uma raridade neste mundo, o homem absolutamente feliz jamais foi
encontrado. O em que consiste a felicidade na Terra é coisa tão efêmera para
aquele que não tem a guiá-lo a ponderação, que, por um ano, um mês, uma semana
de satisfação completa, todo o resto da existência é uma série de amarguras e
decepções. E notai, meus caros filhos, que falo dos venturosos da Terra, dos
que são invejados pela multidão. Conseguintemente, se à morada terrena são
peculiares as provas e a expiação, forçoso é se admita que, algures, moradas há
mais favorecidas, onde o Espírito, conquanto aprisionado ainda numa carne
material, possui em toda a plenitude os gozos inerentes à vida humana. Tal a
razão por que Deus semeou, no vosso turbilhão, esses belos planetas superiores
para os quais os vossos esforços e as vossas tendências vos farão gravitar um
dia, quando vos achardes suficientemente purificados e aperfeiçoados”. -( FEB
)-
Que a graça e a paz sejam conosco!
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