“Buscai, em primeiro
lugar, o Reino de Deus e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão
acrescentadas”.
Amados irmãos, bom dia!
Hoje queremos meditar sobre os valores a que nos submetemos
como seres humanos. Temos visto na história que, em todos os tempos, não tem
sido dada a devida atenção a eles e o quanto são importantes para a convivência
ideal que nos tem sido ensinada pelo nosso mestre Jesus. O apego à matéria
tem-nos impossibilitado de viver os verdadeiros valores que nos edificam e
tornam, não só a nós, mas, todo o mundo melhor. Que os bons Espíritos sejam
conosco nos auxiliando na compreensão e na prática desses preciosos
ensinamentos.
O necessário e o supérfluo
“A natureza dual do homem – corpo e espírito – impõe-lhe a
necessidade de sustentação da vida no seu duplo aspecto. Acontece que a maioria
dos habitantes deste Planeta preocupa-se somente com a materialidade da vida,
relegando e negligenciando, por ignorância ou indiferença, os interesses
espirituais. Entretanto, o Criador dotou todos os seres vivos, particularmente
o homem, dos instintos e da inteligência apropriados à conservação da vida,
facultando-lhes os meios para tanto.
Tudo o que o homem necessita para manutenção da vida
encontra-se na Terra. É admirável a previdência e a sabedoria divina,
manifestada na Natureza, para o atendimento de todas as necessidades do homem,
primitivo ou civilizado, em qualquer época. De um lado, todos os recursos
naturais, ao alcance da criatura, na atmosfera, no solo, nas águas e nas
entranhas da Terra; de outro, a necessidade do esforço, do trabalho, da
aplicação da inteligência, da luta contra os elementos, para fruição dos meios
de manutenção.
É importante que o ser humano aprenda a estabelecer um limite
entre o supérfluo e o necessário, evitando, na medida do possível, os apelos da
sociedade de consumo. Sabemos, entretanto, que não é fácil a definição precisa
deste limite, porque o processo civilizatório [...] criou necessidades que o
selvagem desconhece [...]. Tudo é relativo, cabendo à razão regrar as coisas. A
Civilização desenvolve o senso moral e, ao mesmo tempo, o sentimento de
caridade, que leva os homens a se prestarem mútuo apoio. Os que vivem à custa
das privações dos outros exploram, em seu proveito, os benefícios da
Civilização. Desta têm apenas o verniz, como muitos há que da religião só têm a
máscara.
Compreendemos que é [...] natural o desejo do bem-estar. Deus
só proíbe o abuso, por ser contrário à conservação. Ele não condena a procura
do bem-estar, desde que não seja conseguido à custa de outrem e não venha a
diminuir-vos nem as forças físicas, nem as forças morais. Neste sentido, sempre
há mérito quando se aprende a abrir mão do supérfluo, porque isso [...]
desprende da matéria o homem e lhe eleva a alma. Meritório é resistir à
tentação que arrasta ao excesso ou ao gozo das coisas inúteis; é o homem tirar
do que lhe é necessário para dar aos que carecem do bastante.
Segundo o Espírito Bezerra de Menezes, o mundo [...] está
repleto de ouro. Ouro no solo. Ouro no mar. Ouro nos cofres. Mas o ouro não
resolve o problema da miséria. O mundo está repleto de espaço. Espaço nos
continentes. Espaço nas cidades. Espaço nos campos. Mas o espaço não resolve o
problema da cobiça. O mundo está repleto de cultura. Cultura no ensino. Cultura
na técnica. Cultura na opinião. Mas cultura da inteligência não resolve o
problema do egoísmo. O mundo está repleto de teorias. Teorias na ciência.
Teorias nas escolas filosóficas. Teorias nas religiões. Mas as teorias não
resolvem o problema do desespero. O mundo está repleto de organizações. Organizações
administrativas. Organizações econômicas. Organizações sociais. Mas as
organizações não resolvem o problema do crime. Qual seria, pois, a solução para
esse estado de coisas? Bezerra nos dá, evidentemente, a resposta correta: Para
extinguir a chaga da ignorância, que acalenta a miséria; para dissipar a sombra
da cobiça, que gera a ilusão; para exterminar o monstro do egoísmo, que promove
a guerra; para anular o verme do desespero, que promove a loucura, e para
remover o charco do crime, que carreia o infortúnio, o único remédio eficiente
é o Evangelho de Jesus no coração humano.
Ainda dentro desse contexto do que é supérfluo e do que é
necessário à nossa existência, fazem-nos eco as seguintes ponderações de um
Espírito Protetor, o qual, em mensagem ditada no ano de 1861, já dizia: Quando
considero a brevidade da vida, dolorosamente me impressiona a incessante
preocupação de que é para vós objeto o bem-estar material, ao passo que tão
pouca importância dais ao vosso aperfeiçoamento moral, a que pouco ou nenhum
tempo consagrais e que, no entanto, é o que importa para a eternidade.
Dir-se-ia, diante da atividade que desenvolveis, tratar-se de uma questão do
mais alto interesse para a Humanidade, quando não se trata, na maioria dos
casos, senão de vos pordes em condições de satisfazer a necessidades
exageradas, à vaidade, ou de vos entregardes a excessos. Que de penas, de
amofinações, de tormentos cada um se impõe; que de noites de insônia, para
aumentar haveres muitas vezes mais que suficientes! Por cúmulo de cegueira,
frequentemente se encontram pessoas escravizadas a penosos trabalhos pelo amor
imoderado da riqueza e dos gozos que ela proporciona, a se vangloriarem de
viver uma existência dita de sacrifício e de mérito – como se trabalhassem para
os outros e não para si mesmas! Insensatos! Credes, então, realmente, que vos
serão levados em conta os cuidados e os esforços que despendeis movidos pelo
egoísmo, pela cupidez ou pelo orgulho, enquanto negligenciais do vosso futuro,
bem como dos deveres que a solidariedade fraterna impõe a todos os que gozam
das vantagens da vida social? Unicamente no vosso corpo haveis pensado; seu
bem-estar, seus prazeres foram o objeto exclusivo da vossa solicitude
egoística. Por ele, que morre, desprezastes o vosso Espírito, que viverá
sempre. Por isso mesmo, esse senhor tão amimado e acariciado se tornou o vosso
tirano; ele manda sobre o vosso Espírito, que se lhe constituiu escravo. Seria
essa a finalidade da existência que Deus vos outorgou?
Aprendendo a estabelecer um limite entre o necessário e o
supérfluo, não devemos temer o futuro, imaginando que iremos passar privações.
Os Espíritos Superiores nos afirmam que a Terra [...] produzirá o suficiente
para alimentar a todos os seus habitantes, quando os homens souberem
administrar, segundo as leis de justiça, de caridade e de amor ao próximo, os
bens que ela dá. Quando a fraternidade reinar entre os povos, como entre as
províncias de um mesmo império, o momentâneo supérfluo de um suprirá a
momentânea insuficiência do outro; e cada um terá o necessário. O rico, então,
considerar-se-á como um que possui grande quantidade de sementes; se as
espalhar, elas produzirão pelo cêntuplo para si e para os outros; se,
entretanto, comer sozinho as sementes, se as desperdiçar e deixar se perca o
excedente do que haja comido, nada produzirão, e não haverá o bastante para
todos, Se as amontoar no seu celeiro, os vermes a devorarão. Daí o haver Jesus
dito: Não acumuleis tesouros na Terra, pois que são perecíveis; acumulai-os no
céu, onde são eternos. Em outros termos: não ligueis aos bens materiais mais
importância do que aos espirituais e sabei sacrificar os primeiros aos
segundos.
Considerando a importância da nossa felicidade espiritual,
algo devemos fazer para educar os nossos impulsos consumistas, refreando o
desejo de posse e de acúmulo de haveres. É necessário confiar mais na
Providência Divina, aceitando a orientação segura de Jesus: Por isso vos digo:
Não vos preocupeis com a vossa vida, quanto ao que haveis de comer, nem com o
vosso corpo, quanto ao que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o
alimento e o corpo mais do que a roupa? Olhai as aves do céu: não semeiam, nem
colhem, nem ajuntam em celeiros. E, no entanto, vosso Pai celeste as alimenta.
Ora, não valeis vós mais do que elas? Quem dentre vós, com as suas
preocupações, pode acrescentar um côvado* à duração da sua vida? E com a roupa,
por que andais preocupados? Aprendei dos lírios do campo, como crescem, e não
trabalham e nem fiam. E, no entanto, eu vos asseguro que nem Salomão, em toda a
sua glória, se vestiu como um deles. Ora, se Deus veste assim a erva do campo,
que existe hoje e amanhã será lançada ao forno, não fará ela muito mais por
vós, homens fracos na fé? Por isso, não andeis preocupados, dizendo: Que iremos
comer? Ou, que iremos beber? Ou, que iremos vestir? De fato, são os gentios que
estão à procura de tudo isso: o vosso Pai celeste sabe que tendes necessidade
de todas as coisas. Buscai, em primeiro lugar, o Reino de Deus e a sua justiça,
e todas estas coisas vos serão acrescentadas. Não vos preocupeis, portanto, com
o dia de amanhã, pois o dia de amanhã se preocupará consigo mesmo. A cada dia
basta o seu mal.
Analisando essas orientações de Jesus, entendemos que um dos
grandes problemas do ser humano, no que diz respeito à preocupação com o
acúmulo de bens, é a insegurança. A origem da insegurança está no fato de
superestimarmos nossas necessidades essenciais. Pensamos demasiado em nós
mesmos e vivemos tão angustiados, tão tensos, tão preocupados com pequenos
problemas, a fermentarem em nossa mente por lhes darmos excessiva atenção, que
não temos tempo para parar e pensar: em Deus, que alimenta à saciedade a ave
humilde e veste de beleza incomparável a erva do campo, está o nosso apoio
decisivo, nossa bênção, mais autêntica, nosso futuro mais promissor, nossa
felicidade verdadeira. Poder-se-ia argumentar: se tudo esperarmos do Criador,
estaremos condenados à indolência, causa geratriz de problemas mais sérios que
a própria insegurança. Trata-se de um engano. O que Jesus pretende é que não
guardemos temores em nosso coração, vendo em Deus a nossa previdência, o nosso
apoio, a fim de que vivamos em paz. Ao recomendar que busquemos, acima de tudo,
o Reino de Deus, onde todos os nossos anseios serão realizados, estava longe de
convidar-nos à inércia. Sendo o Reino um estado de consciência, uma espécie de
limpar e pôr em ordem a casa mental, é evidente que não se trata de tarefa para
o indolente, porquanto exige férrea disciplina interior, ingente trabalho de
auto-renovação, exaustiva luta contra nossas tendências inferiores.
Para viver a mensagem evangélica, é preciso aproveitar a
bênção do tempo, valorizando as oportunidades que chegam. A cada dia, explica o
Mestre, bastam seus males. Quem se preocupa muito com o futuro, compromete o
presente. Hoje é a nossa oportunidade mais autêntica de aprender e trabalhar,
servir e edificar.
Apresentamos, a seguir, algumas medidas que nos são sugeridas
pelo Espírito André Luiz. São medidas que podem nos servir de roteiro para
auxiliar a educação da nossa ânsia de consumo e de acúmulo de bens, de forma a
investir com mais segurança no nosso crescimento espiritual:
Não converta o próprio lar em museu. Utensílio inútil em casa
será utilidade na casa alheia. O desapego começa das pequeninas coisas, e o
objeto conservado, sem aplicação no recesso da moradia, explora os sentimentos
do morador. A verdadeira morte começa na estagnação. Quem faz circular os
empréstimos de Deus, renova o próprio caminho. Transfigure os apetrechos, que
lhe sejam inúteis, em forças vivas do bem. Retire da despensa os gêneros
alimentícios, que descansam esquecidos, para a distribuição fraterna aos
companheiros de estômago atormentado. Reviste o guarda roupa, libertando os
cabides das vestes que você não usa, conduzindo-as aos viajores desnudos da
estrada. Estenda os pares de sapatos, que lhe sobram, aos pés descalços que
transitam em derredor. Elimine do mobiliário as peças excedentes, aumentando a
alegria das habitações menos felizes. Revolva os guardados em gavetas ou
porões, dando aplicação aos objetos parados de seu uso pessoal. Transforme em
patrimônio alheio os livros empoeirados que você não consulta, endereçando-os
ao leitor sem recursos. Examine a bolsa, dando um pouco mais que os simples
compromissos da fraternidade, mostrando gratidão pelos acréscimos da Divina
Misericórdia [...]. Previna-se hoje contra o remorso amanhã. O excesso de nossa
vida cria a necessidade do semelhante”. -(
FEB )-
* Côvado: antiga medida de
comprimento, fora de uso, igual a 66 centímetros.
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